Eu tô ficando doida. Não, é sério. Tô ficando maluca, pirada, doidinha. Esquisita, completamente fora dos pinos. Quando que eu não surto?
Pulo de uma maluquice pra outra. De uma paranóia para um monstro. Buraco vazio, fundo e completo por camadas da mais completa e profunda ansiedade que penetra cada poro da minha pele, corre pelo meu corpo, acena para os órgãos e seus ductos e transparências. É como se eu a ouvisse me chamando, fixada numa constante paradisíaca ao pé do meu ouvido, fazendo morada e cumprindo toda a questão do mundo de berrar quando fica sedenta de fome pela minha alma, minha racionalidade, minha bondade, minha sanidade. Não poupa dias, não poupa Vida, não poupa meu espírito dolorido que suspira cada momento de alívio quando ela se esvai por aqueles benditos milésimos de segundos. SEGUNDOS!. Eu tô ficando maluca. Você está me ouvindo? Eu sou doida. Doida. Eu queria poder achar uma maneira de por toda essa minha insanidade fora, nem que fosse através de palavras, manuscritos, gírias e procedimentos médicos podres. POR QUE VOCÊ FAZ ISSO COMIGO?
Eu tô ficando paranóica, eu tô inventando. Alucinando. Você nem me vê e sabe por quê?
Sou criação da minha própria cabeça. Ninguém me conhece, é pura maluquice. Pobre garota.
Você não é daqui. Você não pertenceu. Você não foi. Você não é.
Agora sente o que sinto? Consegue ver com a alma assim como vê com esses olhos cansados de Vida? Me enxerga?
Sou feita de resina. Plástico impermeável. Folha invisível.
Não tenho matéria-prima. Sou sem casca e sem conteúdo, a forma é a única coisa que me resta. Espírito vagante e toda sua compressão insana, me tira o ar e estafa meus pulmões.
Corre o corpo, com(pressa), pressione o predicativo do sujeito, o pretérito imperfeito dessa alma. Eu não quero. EU NÃO QUERO. Você me corrói.
Não vê? Não tem piedade de mim?
Por que faz questão de adentrar como amiga e espera a vulnerabilidade para sugar e drenar toda a Vida cabível nesse peito? Por que entra correndo desconhecida, penetra as minhas indefesas camadas e me suga de canudinho só pra poder ter mais tempo de rir da minha cara no final, quando eu já estiver ali, totalmente entregue à você? Vencedora. Ria da alma que tanto derrota e insiste em lutar com algo infinito. Ria da inocência, da ingenuidade da pobre criança amorfa presa nesse corpo sólido sem superfície, caminhando incessantemente a procura de algum lugar de onde possa retirar um pouco de Vida. Você me come viva. É um parasita que se alimenta da carcaça pobre e desgastada, emendada por aquele último fio.
Você pode, por favor, me levar com você da próxima vez que for? Ninguém resiste a tua espera pela dor que causas. E por tamanha dor, me abastece. Me mata e ao mesmo tempo é a minha única companhia.Carta à Ansiedade. Carta ao Suicídio.
Sejam todos, muito bem-vindos.