A Porta Trancada - Conto

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Enola podia perceber a agitação entre as amigas, os cochichos, os risos contidos, mas os olhares eram na direção do casarão.

- Então meninas, por que estão tão animadas?

- Oh Enola, que bom vê-la esta manhã - Sorri Ingrid. - Não sabe ainda que o casarão foi vendido?

- Sim, todo mundo sabe. Algum ricaço misterioso o comprou a mais de um mês.

- Pois então, o ricaço misterioso chegou esta manhã, ainda estão trazendo seus pertences em carroções.

- E o que tem de mais?

- O que tem de mais, minha querida, é que o ricaço é jovem e... bonito, muito bonito.

- Logo a dona ricaça deve chegar também.

- Acho que não Enola, papai disse que ele é viúvo e que veio de Ohio. Um jovem e rico viúvo e... sem filhos.

- Então quem sabe alguma de vocês desencalha.

- Isso seria um sonho, nunca vi a mansão por dentro e há anos não aparecia um comprador. Papai disse que ele nem pechinchou. Apenas pagou e disse que logo se mudaria. A propósito, seu nome é Liam.

- Isso vai render uma ótima comissão a seu pai, eu espero.

- É verdade, talvez ele me compre o vestido para o baile da senhora Hilton.

As demais moças ainda fitavam a mansão na esperança de rever o distinto cavaleiro. Enola retornou para seus afazeres, levando as compras para casa.

Duas semanas passaram-se sem que Enola conhecesse o cobiçado jovem mas, os comentários na cidade eram sempre sobre ele. Como seus olhos claros pareciam com o céu ou, sobre como seus cabelos castanho-claros eram como o de um anjo ou ainda sobre como sua face bela e alva era como a de um príncipe saído dos contos de fadas.

Na noite do baile em que toda a elite da cidade estava reunida sob o mesmo luxuoso teto, Enola servia os convidados de sua senhora. Ingrid e as amigas mais abastadas da cidade pareciam procurar por alguém entre os demais convidados, recusavam-se a dançar com os costumeiros rapazes. Elas estavam cansadas de serem cortejadas por filhos de barbeiros, padeiros ou pequenos comerciantes. No entanto, quando o jovem de olhos azul-anil adentrou o salão da senhora Hilton, seus olhos pousaram primeiramente em Enola, que servia chá ao doutor Swenson, o velho médico quase cego que pigarreava sem parar.

- Boa noite senhorita.

- Boa noite meu senhor. Chá?

- Somente se me chamar de Liam.

Os olhos de Enola se erguem para vislumbrar o príncipe encantado descrito pela moças repetidamente.

- Está bem meu se... quer dizer, Liam.

Enola o serve e os olhos das demais damas solteiras e até das casadas estão sobre eles.

- Então o senhor é o novo proprietário da antiga mansão dos Costello?

- Sim, sim. Me mudei a cerca de duas semanas. E... a senhorita mora aqui?

- Não, quem me dera. Moro com minha mãe a alguns quarteirões ao norte daqui.

- E o que sua mãe faz?

- Ela também era serviçal da senhora Hilton mas ela adoeceu e sente muitas dores nas juntas então eu tomei seu lugar.

- E o seu pai?

- Bem, papai faleceu quando eu ainda era pequena.

- Lamento.

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