Prólogo

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Eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido com ela, não era minha intenção. Eu deveria tê-la salvado, mas foi a escolha dela. Mas eu não quero começar pelo fim, porque antes que você fale que eu sou um puta babaca de merda, eu quero que você entenda o que aconteceu. O porque de eu não ter chamado a ambulância, o porque de tudo. Até porque, apesar de tudo... Tudo de trada de "Como" e "Por que"

Era dia 06 de Fevereiro, e eu estava indo para o segundo ano do colegial, na Escola de Referência em Ensino Médio Senador Paulo Pessoa Guerra, que fica em Recife, que fica em Pernambuco, que fica no Brasil, que fica na América do Sul, que fica no Planeta Terra, que fica na Via Láctea, que fica... no universo – perdi o foco. Eu estava indo para o segundo ano do colegial, e tinha certeza que tudo continuaria um lixo, como sempre foi.

Às vezes eu acho a vida um tanto engraçada, sabe? Por que viver, se um dia você vai morrer? Por que morrer se você viveu? Por que causar tanta dor? Por que as pessoas machucam as outras?

Não era como se eu fosse o depressivo da escola, mas eu acabei que deixando de ser o popular para ser o estranho zoado. E como dizia minha mãe "indo para a turma dos emos".

Voltando ao assunto. Era 06 de Fevereiro, e eu estava no colegial, eu continuara a ser solitário, as pessoas não se importavam em se aproximar de mim. Tudo estava normal. Mas eu não sei porque eu estou freezando tanto neste dia, nada aconteceu neste dia além de que estava chovendo mais do que o normal em Pernambuco. Não importa, vamos avançar para o dia 14 de Julho.

Era mais do que a metade do ano quando um grupo de estudantes se matricularam na escola. Cara, era MAIS. DA. METADE. DO. ANO.

Okay, tudo bem, não vamos julgar. Eu, particularmente achei estranho alguém chegar no mês 7 – perdi o foco novamente.

A diretora – uma mulher baixinha, particularmente detestável – chegou à sala e falou algo sobre novos alunos na sala, mas eu não liguei.

Eu estava dentro da sala de aula, enquanto o meu professor de biologia falava algo sobre a vida dele, mas eu não estava dentro da sala de aula. de Eu amava biologia, mas naquele momento eu estava mais concentrado em apagar todos os riscos da minha carteira, algo estava errado, eu estava suando, eu estava nervoso, então...

- Então, Guilherme, você pode me responder porque não está prestando atenção na aula?

Naquele momento, eu sabia que já estava tudo ferrado, a sala inteira virou para mim e eu simplesmente "meti o louco" e disse:

- Então, Professor Felício. Tem um simples motivo para isso. O senhor não está dando aula, o senhor está contando fatos da sua vida maravilhosa como sempre. Por isso eu não estou prestando atenção. Primeiro porque não existe aula, e segundo porque eu não me interesso sobre sua vida.

- Okay, Guilherme! Apenas preste a atenção. – O professor me lançou um olhar que mais uma palavra eu sairia da sala.

Tocou a aula e eu finalmente pude sair de sala. Era como se do nada uma onda de tristeza estivesse me atingindo. E eu só queria sair dali e chorar como uma garotinha no banheiro, e para piorar eu vi o professor vindo em minha direção quando todos já haviam saído da sala.

- Senhor Guilherme – ele abriu um sorrisinho falso -, o senhor pode se encrencar com toda essa sua insolência, se eu fosse você eu teria cuidado.

Felício não era o tipo de professor que deixava barato, ele era vingativo e com certeza era a última pessoa que eu deveria ter irritado, mas eu o irritei, e teria que arcar com as conseqüências mais pra frente.

Retirando a força dos meus devaneios, uma garota sentou do meu lado enquanto eu colocava as mãos na minha cabeça e repetia: "O que eu esqueci? O que eu estou esquecendo?". Ela simplesmente se aproximou e disse:

- Cara, aquilo foi demais! – Ela falava com empolgação, mas seus olhos pareciam não se importar com nada, eles eram frios.

- Hm... Tem como... Hm... Você sair daqui? Eu quero ficar sozinho! – O que eu estou esquecendo? Tem algo errado! O que eu NÃO ESTOU LEMBRANDO?

- A sala é pública. Você vai ter que ficar sozinho comigo. – Ela abriu um largo sorriso.

- O que te faz pensar que eu quero sua companhia, garota? – Algo está errado... Algo está...

E foi aquele o momento em que eu lembrei. Eu deveria estar indo para a biblioteca, eu deveria entregar o livro que peguei emprestado, mas não sabia o porque eu estava tão aflito por aquilo. Eu sempre fui pontual, mas... Olha só, eu havia esquecido o livro. Pela terceira semana seguida, que dava... Um... Dois... Três... Ah... Vinte e um reais de juros.

Ela continuava ali. Me olhando, me analisando, me encarando e eu simplesmente não sabia como retribuir, eu não costumava ter pessoas ao meu redor.

- Tem como, por favor, você sair? Por favor! – Eu estava a ponto de gritar, surtar, o ano estava uma droga e ainda tinha a droga daquela garota pálida de olhos verdes e cabelos pretos. E foi naquele momento que eu notei ela. Que eu a vi. Que eu a analisei. Que eu a encarei. E ela simplesmente virou e saiu, deixando cair um papel que dizia:

"Eu sempre quis fazer isso... Um clichê. Você não acha?! Deixar cair o papel e aguçar da curiosidade de quem o vê caindo.

Encontre-me atrás da Estação de Tejipió, assim que largarmos, hoje. E como eu sei que você vai? Bom... Eu sei que você vai."

Aquela garota ficava cada vez mais estranha, era quase como se ela fosse... eu.

Eu fui naquele dia à Estação, e lá estava ela, com um grupo de 10 pessoas. Todos com as franjas pretas, roupas pretas, todos muito góticos, inclusive ela – Inclusive eu.

Eu andei alguns passos até me arrepender de ter ido. Era engraçado como uma garota que estava há algumas horas na escola tinha feito mais amigos do que eu jamais havia feito em 1 ano e meio. Dei meia volta, mas quando ia dar o primeiro passo, eu senti alguém tocar o meu ombro, virei e me deparei com os olhos verdes de novo.

- Vem.

Ela começou a me puxar para o outro lado, descemos a escadaria e nos sentamos. Os amigos dela começaram a gritar algo como: "Ganhou a garota!". Ela riu, mas logo parou.

Ela ficou em silêncio por um tempo. Tirou do bolso da calça um maço de cigarros e pôs um na boca. Acendeu e quase acabou com o cigarro em uma só tragada. Ela não estava mais com o longo sorriso, ela estava olhando para o nada, como num transe. Então, ela olhou para mim. Séria. Ainda com o olhar profundamente vazio e disse:

- Tudo se trata de "Como" e "Por que".



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⏰ Última atualização: Jan 25, 2017 ⏰

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