Capítulo XVII

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Bernard Sliver

"Sophia não vive mais, Aisha. Ela foi baleada numa tentativa de fuga... e não resistiu."

A voz de Daniel reverbera em meus ouvidos. É como se eu estivesse congelado no tempo. Sinto a pele do meu rosto ficar gelada, perdendo a cor, perdendo a vida. Não consigo acreditar. Ela é tão jovem, não pode ter morrido assim.

Vejo a cena na minha cabeça, a mesma que povoa meus pesadelos até hoje: Sophia sendo puxada do outro lado do portal, com os olhos marejados, as faces vermelhas. Ela se rendendo, mas mostrando sua força e sua coragem, disposta a se sacrificar por nós, implorando que a deixássemos ir...

E eu deixei. Eu deixei.

E prometi que a buscaria. Eu vim buscá-la.

Mas agora é tarde. Agora ela está morta.  

Não me movo. Aisha molha minha camisa com suas lágrimas, mas continuo parado, com os braços largados ao lado do corpo. Queria conseguir ofertar qualquer conforto a ela nesse momento, mas a única coisa na qual consigo me concentrar agora é no quanto eu odeio a mim mesmo.

Anippe está ajoelhada no chão, com Malika ao seu lado. Akira chora silenciosamente, e Vladmir permanece como se fosse uma estátua inanimada. Minha mente gira mais ainda quando o vejo se mover, virando na minha direção.

— Vlad... — Malika murmura, mas não o impede.

Sem nenhuma espécie de aviso, e com os olhos vazios e secos, Vladmir fecha seu punho e soca meu rosto. Aisha grita, Akira vem intervir, e uma dor instantânea formiga pelo meu nariz, um segundo antes do sangue quente escorrer das minhas narinas. Por um instante, imagino o estrago que ele poderia ter feito caso resolvesse ativar seu poder, e penso estar completamente liquidado, quando ele faz menção de me socar novamente. Akira se interpõe no caminho dele e segura seu braço, murmurando algo que não entendo, mas Vladmir se livra dele bruscamente.

Ele me encara, furioso. A barba desgrenhada torna seu rosto perverso, quando ele me aponta e diz:

— A culpa é sua.

Aquilo dito em voz alta dói muito mais do que o soco. Eu sei o que povoa a mente de todos aqui: que a OCRV não presta, que eles são todos uns desgraçados, que são os culpados pela morte de Sophia. Mas eu sei — e Vladmir também sabe — que eles não são os culpados.

Eu sou.

Meu maldito poder de criar portais, que me livrou das mãos de Mederi e me pôs dentro do helicóptero, foi o mesmo responsável pela perda dela. Se eu não tivesse feito aquele maldito portal, ela ainda estaria conosco. Se eu não a tivesse deixado ir...

Ela ainda estaria viva.

O sangue pinga na minha roupa, mas não me importo em limpar nada. Tudo que eu queria era entrar em uma caverna isolada, me enrolar e dormir para sempre.

A garota que estava na cela onde achávamos que Sophia estava retorna pelo mesmo corredor por onde saiu correndo buscando a saída. Ela parece furiosa, e empurra Daniel, enquanto questiona:

— Onde? Onde Débora está?

O estado deplorável no qual ela se encontra não tirou a ferocidade do seu olhar, parcialmente fechado pelo inchaço num dos olhos verdes.

— Eles vieram com sua irmã, Verona — ele murmura, enquanto uma lágrima corre pelo seu rosto.

Não me dou ao trabalho de tentar compreender nada, mas Anippe ergue os olhos para a garota e fala gravemente:

— Sua irmã. Você é Verona... Verona Seider?

A tal Verona passa um olhar interrogativo para Anippe, mas assente com a cabeça levemente.

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