Conduza-me

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- Vem cá, vou te levar num lugar - ele disse conduzindo-me ao caminho e segurando minha mão de uma forma delicada, como se estivesse manipulando um material frágil.
- Onde é? - perguntei curiosa, me deixando levar.
- Não muito longe! - ele respondeu com um sorriso nos lábios ainda me conduzindo ao tal lugar.
Depois de apenas 3 passos chegamos ao nosso destino, um pequeno espaço entre um banco de concreto e uma árvore.
- Agora você vai poder me encarar, em pé você consegue.
Nos entreolhamos enquanto ele parecia analisar com cuidado toda a minha estrutura. Seus olhos percorriam toda a extensão do meu corpo, fixando o olhar na minha boca.
Ele se aproximou lentamente, enquanto eu apenas seguia os seus movimentos, hipnotizada. Inclinamos a cabeça já tendo total noção do que se passava, do desejo que já transparecia através das nossas respirações já levemente desreguladas.
Nossos lábios se encostaram, de uma forma singela e curiosa. Logo estávamos nos explorando, conhecendo um ao outro de uma forma apaixonada e distante de qualquer problema terreno.
Adultos, crianças e nuvens. Todos passavam e presenciavam o momento em que nós estávamos nos pertencendo.
Aquela ligação continuava, lenta e ao mesmo tempo rapidamente, como se estivéssemos esperando por isso durante um século.
Explorávamos, experimentávamos cada sensação que percorria em cada folículo do nosso corpo a cada toque.
Ele acariciava meus braços numa forma de demonstrar que eu deveria estar e ficar ali sempre, como um refúgio e proteção. Suas mãos passavam pela minha cintura e pelas minhas costas, como se admirasse cada curvatura, cada detalhe. Como se estivesse a moldar uma nova escultura, ele cuidava e zelava, contornava e polia.
Como se a vontade tivesse livre arbítrio, ele caminhou comigo, exatamente dois passos, prensando-me em uma árvore, prensando seu corpo no meu, buscando por mais contato.
Contato. Contato que consegui após envolver meus braços em volta do pescoço dele e puxá-lo ainda mais para perto de mim.
Os olhares. Sempre intensos.
Pausas somente serviam para demonstrarmos o quanto éramos um do outro, para darmos-nos os melhores sorrisos, como uma tentativa de explicar o turbulhão de sensações que agitava todos os poros.
O seu olhar era como um bom entendedor admira sua obra de arte. Era como se quisesse gravar cada momento, cada sensação, cada movimento.
Sua atenção foi voltada à minha pele sensível, principalmente ao seu toque. Os seus lábios, levemente avermelhados e quentes percorriam aquele cantinho, que implorava por mais. Os selares no meu pescoço significaram o quanto sou vulnerável a qualquer ação, qualquer feitio.
Os nossos olhares se encontrando, o seu olhar percebendo o meu respirar, o meu inspirar demorado. Inflando o meu peito com o máximo de ar que poderiam caber nos meus pulmões para que eu aguentasse tamanho sentimento.
Ah, o coração. Estávamos tão próximos, tão unidos, a ponto de transpassar os batimentos cardíacos, acelerados e afoitos um pelo outro.
Sorrisos e mais sorrisos, afetos e mais afetos. Selares, beijos, mordiscadas, tudo contava como mínimo e máximo.
Mínimo por simplesmente absorver até o estalar da euforia.
Máximo por não haver qualquer circunstância para se comparar com aquela.
Apenas nosso, totalmente nosso.
O mundo que construímos ali, somente nós pudemos sentir. Apenas eu e você, sentindo a brisa leve tocar nossos rostos e os tamborilares do peito se misturarem numa sincronia perfeita.

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