Já sentiu vontade de abrir um zíper nas costas e simplesmente saltar do teu corpo e sair livre, correndo por aí? Já sentiu tanto cansaço por ser você mesmo? Por carregar nas costas, noite e dia todas, as suas vivências que mesmo boas, podem jogar com você quando a Nuvem te ataca?
Você me pergunta o que é a Nuvem. É tudo, eu te respondo.
É uma massa, um tiro no ar, uma saída desesperada pela escapatória, um correr, um grito da alma – aquele bem longe da luz de consciência, é um comportamento, uma escrita, uma fala, um choro. É a areia movediça que te consome vagarosamente sem que perceba até que fique completamente sem ar e submerso, implorando por uma saída, por uma luz. Ela vem sem ser chamada, sem nem notar, deixa marcas por cada parede e átomo, enche as células de pura e qualquer porcaria, te dopa do sentido e razão. Faz por rir da sua cara, te zomba e se nutre da sua idiotice em cair nas suas artimanhas, se alimenta de toda pureza, claridade e Vida; vai embora assim como veio, sem ser chamada, sem ser notada. A ficha só cai tempos depois. E o que sobra de sua vinda varia. Pode ser um mundo inteiro pesado nas tuas costas, pode ser apenas um incômodo; superar, seguir em frente após o que ela te faz pode ser (e sempre é) incomodativo, doloroso e extremamente irritante.
Sufocamento repentino, eu te digo. Súbito. Completo. Certeiro. Su fo can te.
É um ciclo. Uma falta. Uma continuação.
Uma troca e grudenta doentia dependência.
Ridículo como precisamos morrer para nos sentir vivos.