Blind

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|Gostaria de ver o seu rosto outra vez, olhar os seus olhos e dizer o quanto o amo.|

O barulho da explosão deixa um zumbido horrível nos meus ouvidos. O meu corpo encontrasse pesado, quase impossível de o levantar, o cheiro a sangue que paira no ar revolta o meu estômago fazendo-me vomitar em cima de mim.

"Hyerin!" - o meu nome soa tão longe... Tão longe que parece fruto da minha imaginação -"Hyerin acorda!" - a pessoa volta a repetir o meu nome, desta vez a sua voz soa mais perto mas não perto o suficiente para a reconhecer -"Hyerin porra! Temos que sair agora!" - finalmente reconheci a voz, é a do Wonho.

Abro os olhos lentamente... e nada. Fecho os olhos e reabro mas nada... Como assim?
Tudo o que vejo são borrões de tons muito escuros quase impossível de os distinguir... Estou cega (?).

O pânico apodera-se de mim.

<<Do que vale uma espiã cega? Como vou viver sem poder apreciar as beldades deste mundo? Como vou trabalhar? Como o vou ver?>> -os meus pensamentos deixam-me ainda mais preocupada e quando por mim não sinto mais nada.

[...]

Sinto que o meu mundo vai desabar, sem ter qualquer saída para além do falhanço mas a sua voz reconforta-me dando-me forças para batalhar e continuar a viver.

"Hyerin, está na hora de irmos!" - Wonho senta-se ao meu lado e dá-me a mão.

Eu não sei como o agradecer. Ele é apenas o meu ex-parceiro de trabalho mas quando eu perdi a visão, ele desistiu de tudo para ficar ao meu lado.

Levanto-me com a sua ajuda e andamos até à porta.
Mais uma vez vou à terapia para saber como viver nesta condição. Os médicos dizem que posso recuperar a visão tal como posso nunca mais ver o meu rosto...

Já no final da consulta, os meus olhos enchem-se de lágrimas prontas para brotar e lavar o vazio da minha alma. O Wonho reconforta-me sussurrando palavras ao meu ouvido. Pouco a pouco fico mais calma mas não deixo de sentir um vazio no meu coração.

"Hyerin... Eu sei que é difícil aceitar a tua condição mas eu estou aqui para te ajudar" - sinto os seus lábios na minha testa e estes permanecem lá por breves momentos.
"Porque Wonho?"
"Porque o que?"
"Porque estás aqui? Eu não te pedi ajuda então porque deixastes a tua vida para trás?! Eu não necessito de ti! Volta para a organização!"

Eu não quero ser cruel com o Wonho mas não o posso deixar desistir do seu sonho por minha culpa. Por eu ter falhado... Por eu ter ficado cega.

Para minha surpresa, ele desmancha-se a rir.

"Tu nunca mudas, pois não?. Essas tuas palavras foi uma forma agressiva de dizer <<Wonho eu não me quero tornar um obstáculo na tua vida, devias continuar o teu sonho>>? Só que eu acho que ainda não compreendeste" - faz uma pequena pausa e sinto a sua respiração perto da minha orelha - "Tu és o meu sonho" - sussurra.

Por momentos paro de ouvir o que está ao meu redor porque tudo o que consigo ouvir são as batidas do meu coração, cada bombardeamento de sangue que corre pelas minhas artérias e veias. Consigo ouvir a minha respiração acelerada que vem com uma sensação de claustrofobia.
O interior do meu corpo reage às palavras do Wonho mas eu não... Sinto que os meus músculos tornaram-se pedra e que as minhas cordas vocais foram cortadas.

Ele nada diz. Agarra na minha mão e puxa-me, forçando-me a andar.

<<O Wonho gosta de mim? Ou apenas disse isso para calar-me?>> abano ligeiramente a cabeça para afastar esses pensamentos mas é inútil.

Pensamentos questionáveis e perversos correm pela minha mente. A vergonha substitui esses pensamentos devido a estes. Como posso ver o Wonho dessa maneira?

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