Capítulo 6 - Entre Tropeços

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Last December

Capítulo 6
Entre Tropeços

Eles me odiavam. Todos eles, todos os advogados do meu ano, todos que tinham entrado na empresa comigo. Eu já tinha minhas suspeitas, mas Savanah acabou confirmando para mim. Eles realmente me odiavam. Nas palavras dela, eles odiavam a garota que chegou aqui do nada e conseguiu uma sala e uma promoção só por namorar um jogador de futebol que é cliente da empresa.

Era por isso que eu tinha uma sala, mesmo sem ter estudado em uma das melhores universidades do país. Era por isso que eu era convidada para festas com um dos homens mais famosos do mundo e o mais rico, um tal de Bill Gates. Era por isso que o dono da empresa sabia meu nome, que eu estava em um dos casos mais importantes que eles já tiveram. Porque eu namorava Max.

Eu estava presa a ele. Meu apartamento era dele, só tinha meu emprego por causa de sua influência, até mesmo as contas do hospital tinham sido pagas por ele. Tudo que eu tinha era por causa dele. E ele sabia disso, devia saber que estava presa a ele, que não poderia simplesmente ir embora, porque provavelmente perderia meu emprego e nem teria onde morar. Não sabia de quase nada sobre a Bridget de vinte e poucos anos que decidiu se casar com ele, mas realmente a odiava agora por ter deixado que ele tomasse conta de tantas partes de sua vida. E isso só dificultava ainda mais nosso relacionamento.

Por sorte, mal tive tempo desde que voltei a trabalhar para pensar nisso. Mesmo depois de ter percebido que dependia demais de Max, principalmente agora que eu ainda estava tentando re-aprender como é ser uma adulta, passei essa semana atolada de trabalho e nem tive a chance de pensar de verdade no que fazer.

Depois que Savanah me falou sobre como meus colegas me detestavam, transformei em uma missão própria fazer com que mudassem de opinião. E isso significava me voluntariar para ajudá-los em tudo, desde as tarefas mais básicas que eles normalmente pediriam para um paralegal até emprestar minha sala para quando eles quisessem se encontrar com algum cliente. Eu andava entrando no trabalho às oito da manhã e só saindo às dez da noite e, quando chegava em casa, a única coisa que queria era dormir. Max voltou para o nosso quarto, estava dormindo todos os dias do meu lado, e, mesmo assim, eu chegava tão cansada que não conseguia me importar. Já até me acostumei a me manter no meu canto da cama, sempre preocupada em não tocar nele. Não que eu dormisse bem assim, mas não tinha tanto problema.

Enquanto isso, Savanah andou se provando a companheira perfeita. A cada dia que passava, ela estava mais sincera, sem fazer questão alguma de poupar meus sentimentos, o que pareceu bem cruel no começo e que agora eu sabia que era ótimo. Ela não mediu palavras para me contar como os outros me detestavam, mas também não mediu para me dizer o que eu precisava fazer a cada reunião que nós tínhamos. Aliás, ela vinha me ajudando em tudo, absolutamente tudo, até mesmo nos casos que eu aceitei participar só para melhorar a opinião dos outros advogados sobre mim. Ela era agora como uma tradutora para mim de Direito e já não sabia viver sem ela.

Principalmente quando o assunto era o divórcio mais badalado que eles já tinham tido por aqui. Mesmo que só fizesse pouco tempo que eu estava na empresa, só por conhecer Adrian Ferris, por ter sido requisitada por ele, muita responsabilidade caía em cima de mim. Ele sempre buscava a minha opinião durante as reuniões, e, sem Savanah me preparando antes, eu provavelmente não saberia responder.

Soltei a caneta que segurava e esfreguei minha testa com força, como se o movimento circular dos meus dedos fosse trazer de volta a minha concentração. Aquela quinta-feira mal tinha amanhecido e eu já queria voltar a dormir. Tive que levar a mão ao pescoço antes de pegar a caneta de volta, apertando minha nuca que parecia se recusar a relaxar.

Um segundo de distração e meus olhos miraram na direção do sofá no canto da sala.

Não, pensei, antes que começasse a considerar a possibilidade de dormir ali. Ao invés disso, fui até a janela e abri ainda mais a cortina, torcendo para o sol ter poderes mágicos de me acordar. Mas, quando me sentei de novo na poltrona e tentei voltar a ler o papel à minha frente, meus olhos pareciam só conseguir focar no nome de Adrian Ferris.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora