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Eu estava em pé, encostado na mesa de madeira do bar. O copeiro me fez um sinal, perguntando se eu iria querer outra dose, acenei com a cabeça dizendo que não. Não tinha certeza se poderia culpar todos aqueles copos de vinho branco, mas por algum motivo, eu via o rosto de Taehyung em cada uma daquelas pessoas. Se apaixonar estava estritamente proibido na minha profissão, se é que eu posso chamar isso de profissão. Não era a primeira vez que eu me sentia assim, mas com certeza era a primeira vez que eu havia me interessado por uma das minhas vítimas.

Quando eu estava perto dele, tentava de qualquer jeito ignorar o que estava sentindo. Na maioria das vezes, forçando alguma apelação sexual, talvez fosse apenas isso, desejo. Se eu me satisfizesse, ele perderia o valor. Mas não estava dando certo. A minha concentração era continuamente quebrada todas as vezes que eu me lembrava da noite no ferro velho. A pior parte era que essas memórias apareciam sempre nos piores momentos. Depois daquele dia, eu percebi que não conseguiria mais fingir a paixonite aguda por Taehyung. Eu queria apenas continuar olhando nos olhos dele, fundos e escuros, como o cano de uma arma. Então, era só esperar pelo disparo e depois pensar em como me livrar de todos os problemas que isso iria causar.

Havia uma garota no outro canto do bar, ela já estava me olhando há algum tempo. Tinha uma garrafa na mão e um olhar cínico no rosto, enquanto conversava com outras duas amigas, entre risinhos. Eu a vi tirando a aliança antes de vir até a minha direção e a guardando no bolsinho do vestido verde, nem tão curto, nem tão comprido. Talvez ela tenha pensando que isso aliviaria um pouco a culpa, mas a verdade era que apenas iria deixar tudo pior.

Ela soltou um "oi" provocativo e cheio de más intenções, segurou o colarinho da minha camisa, fazendo o caminho com os dedos até o meu peito. Provavelmente, teria mencionado algum nome, mas naquela hora, a minha cabeça já estava girando e acabei levando meus pensamentos até Taehyung novamente, o que ele estaria fazendo agora? O cheiro do suor nas paredes e o chiado do jazz antigo tocando na vitrola me deixavam ainda mais nublado. Virei a cabeça e encontrei o olhar da mulher sentada no banco ao meu lado, ela me lançou um olhar de reprovação e voltou a bebericar o copo com algum líquido marrom claro. De repente, eu cogitei a possibilidade de que tudo aquilo poderia ter alguma importância se Taehyung estivesse ali do meu lado, com as mãos suadas enfiadas dentro dos bolsos do moletom, os olhos preocupados escondidos debaixo da franja.

Aquela garota fazia um esforço enorme tentando conseguir qualquer atenção. Não havia nada de muito interessante nela ou na conversa. A aparência era comum e mediana, mas debaixo daquelas luzes coloridas, qualquer um ficaria atraente. Se fosse há algumas semanas atrás, eu não pensaria duas vezes antes de levá-la comigo e ver debaixo daquele bronzeado falso. Mas agora, eu só estava me esforçando em pensar numa resposta rápida para ela sair de perto de mim.

- Ligue para o seu namorado e diga que se sente sozinha, eu não posso te ajudar hoje.

Eu falei tentando não fazer contato visual com ela. A decepção era palpável, para ambos de nós. Por que um garoto bizarro e com fobia social conseguiu me atrair desse jeito? Eu olhei ela se afastando, enquanto voltava para o bolinho de garotas que me olhavam com desprezo.

Dei de ombros e voltei a me sentar no banco, ao lado da mulher misteriosa. O nome dela era "Feng". Na verdade, era um codinome. Eu nunca soube o seu nome real, na nossa área, conviver sem nomes era mais seguro.

Ela sempre vestia uma peruca, curta, castanho claro e com franja. Um casaco sobretudo caqui, botas pretas de salto alto e óculos escuros, um com uma armação grossa e vermelha, assim como o batom e o esmalte. Muito chamativo. Dentro do casaco, ela guardava uma pistola walther prateada. Uma arma feminina demais para o meu gosto. Apesar do estilo extravagante, ela era extremamente discreta e silenciosa com o trabalho e, de algum jeito, ninguém nunca a notava dentro de um ambiente. Eu a apelidei de "serpente".

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