Deixei de viver há muito tempo, mas será que têm muito tempo que deixei de viver? Observo as grades cinzas que nos prendem aqui nessa prisão, e meu coração pesa de angústia! Hoje completa 10 anos que fui presa por homicídio, mas acredite ou não, eu não cometi tal ato, não era capaz de matar nenhuma barata. Bom! Eu não era, hoje eu não sei mais do que sou capaz com esse sentimento de injustiça e ódio dentro do meu peito. Observo cada um ali com sua mãe, seu pai, seus filhos, e seus cônjuges também... E dia de visita, e eu continuo sentada enquanto observo um pombo rodeando a área de visita dá prisão de São Paulo, será que a vida animal e mais fácil que a vida humana? Eu não sei mais o que é ser livre, ao menos sei o significado dá palavra, já que quando era livre, não sabia o significado de ser livre.
Ninguém vem me visitar desde que fui presa. Todos acreditaram que eu era culpada de um crime hediondo, e aliás, quem quer passar a humilhação de ficar pelada ou pelado em frente de um policial só pra visitar alguém que tirou a vida de outro alguém?
- Ana - Me assusto, me virando pra onde vinha a voz, já que estava concentrada nos meus pensamentos de sempre, era Jô, mãe dá minha melhor amiga, Larissa. Acredite ou não, mas amizade existe em todos os lugares, você só tem que encontrar a pessoa certa.
- Oi. Tudo bem? - Digo com um sorriso forçado. Ninguém tem culpa da minha vida ruim, a não ser eu mesma.
- Estava contando pra minha mãe que você está prestes a sair. - Larissa parecia estar feliz por mim. Eu a admiro pela força que tem, lembro como se fosse ontem quando salvou minha vida na hora de almoçar. Sem motivo algum, uma menina veio por trás de mim e enfiou uma faca no meu braço, quando ela foi enfiar a faca novamente em mim, Larissa apareceu. O refeitório parecia que estava tendo um jogo final de copa de mundo, todo mundo estava gritando, enquanto uma socava a outra, até que Larissa pegou a faca e enfiou dentro do olho dá garota que tentou me matar. Todos aplaudiram, mas eu só senti culpa. Aliás, por minha causa, Larissa foi condenada a ficar dois anos a mais que eu aqui nessa prisão.
- Eu fico muito feliz. Você tem que recomeçar a sua vida. E minha casa está disponível pra você ficar lá até o seu egresso na sociedade novamente.
-Eu fico muito grata por isso. Eu vou precisar mesmo de um lugar pra poder ficar. - Eu realmente iria precisar, já que não tenho mais casa pra morar. Após ser presa, meu marido quis o divórcio, alegando que precisaria seguir em frente, mas dois anos atrás descobrir que casará de novo, mas com a minha irmã gêmea. Que vadia, me traiu. Meu próprio sangue, naquele momento senti nojo de ter a mesma cara que a dela. Com o divórcio e separação de bens e todas aquelas coisas, fiquei com 2,5 milhões, já que envolvia metade dá casa, do carro, e da empresa dos Waters.
- Luz... - Ouvi a voz atrás de mim, era do meu advogado: Lucas Sousa. Além de meu advogado, era meu melhor amigo, nos conhecemos desde que tinha 4 anos. Quando fui presa, liguei exatamente pra ele, pois me conhecera muito bem, a ponto de não acreditar que cometi um homicídio em 25/01/2007. E realmente: ele não acredita.
- Lucas! Alguma notícia? - Digo esperançosa. Lucas me prometeu que a próxima vez que iria me ver, seria porque teria grandes noticias.
- Luz, infelizmente não... - Abaixo a minha cabeça. Eu não iria sair desse lugar tão cedo. Será que nasci pra ser condenada e morrer queimada em praça pública? Mas então ele continuou.
- Na verdade, eu tenho uma excelente notícia. Está aqui seu alvará, eu vim te buscar pra te levar direto pra casa. - Ele me entregava um papel, nao consigo evitar de chorar, esperei essa notícia por tanto tempo. Eu finalmente vou poder buscar justiça na minha vida. Ouço vários aplausos das presas e dos familiares, e isso me deixa arrepiada.***
- E então, Luz... Você vai ficar na minha casa mesmo? - Prometi a Lucas que quando saísse iria ficar na casa dele.
- E claro que sim.
- Olha luz, sei que você está com todos os pensamentos de buscar justiça por aí... Mas saiba que justiça com as próprias mãos, se chama vingança.
- Lucas, eu passei 10 anos naquele lugar sendo tratada como uma assassina, enquanto o verdadeiro criminoso tá aí tomando vinho comemorando por estar livre até hoje. -Digo com toda minha raiva, me sinto livre pra poder dizer o que quero.
- Sem contar que minha irmã fez meu marido se separar de mim, pra poder casar com ele e ser dona dá empresa milionária dele. Não que o dinheiro me interessasse... Mas ela sabia que eu o amava.
- Luz, mas as coisas não é como queremos. - Diz em um tom suave, querendo me acalmar.
- Só se não tivermos recursos pra isso... Ela tá dizendo pra minha filha que ela que é a mãe dela. Eu sou a mãe dela. Joyce e minha filha, não dela. - Ganhei Joyce na prisão, e quando Marco casou com minha irmã, Cissa, ela tinha apenas 2 anos, desde então Cissa a fez chamar de mamãe, e hoje, minha filha com 9 anos, não sabe que eu sou a verdadeira mãe dela. - Você não estava lá em Niteroi, naquela maldita viagem de família, onde todos, todos me chamaram de assassina. E eu já prometi a mim mesmo, cada um que me traiu, que me abandonou, vai pagar caro. Porque eu Ana Lúcia Medeiros, prometo fazer justiça com minhas próprias mãos.
- E mais fácil perdoar e seguir sua vida adiante. - Lucas sempre tenta mudar meus pensamentos sobre embarcar nessa justiça que não é bem uma justiça.
- Eu já perdi a minha vida, e todos meus sentimentos se perderam junto a ela, e nesse coração aqui -digo apontando pro lado esquerdo do meu peito - não há amor, não há ódio, não há perdão. Eu sou uma vela congelada.
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A Falsa
Misterio / SuspensoApós ser presa por um crime não cometido, Ana Lúcia Medeiros é solta após 10 anos presa, promete se justiçar com as próprias mãos, e seu alvo são: o verdadeiro assassino de Barbara e a sua irmã Gêmea: Cissa.