Enry não é meu

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Mais dez minutos e eu já estaria na escola. Eu estava muito preocupado para conversar com alguém, então não passei na casa da Nana hoje. Ela vai ficar nervosa, mas que seja.

O sonho que tive sábado me fez perceber duas coisas. Primeiro: quando algo entra na minha cabeça, não sai tão fácil, mesmo eu tendo achado que sim. E segundo: Enry não era meu. Nós saímos uma vez, nos beijamos, parecemos nos gostar, mas ele não pertence a mim. Ele pode ficar com outros caras e eu também. Na verdade pode até ser isso que ele estava fazendo ontem, eu não sei. Mas não queria pensar nessa possibilidade.

Cheguei meia hora mais cedo do que o normal, o sinal ainda não havia tocado, então me sentei em um banco na praça que ficava em frente a escola; eu queria ver Enry chegar. Cinco minutos se passaram, e então dez, quinze, e nada dele. O tempo parecia estar sendo arrastado por uma tartaruga.

Já eram 6:50 e o sinal dos dez minutos tocou, os alunos começavam a entrar. Foi então que vi um carro prata muito luxuoso parar em frente ao portão, era o carro de Vivian, mãe do Enry. Mas a porta não se abria. Corri até lá, cheguei no vidro da porta de trás e coloquei as mãos ao redor dos olhos para enxergar melhor. Senti meu corpo amolecer e um alívio tomar conta de todo o meu organismo. Lá estava ele, arrumando alguns cadernos na mochila e pegando seus óculos. Enry estava bem.

Ao terminar de arrumar suas coisas, ele se virou pra sair do carro e deu de cara comigo com os olhos cerrados no vidro. Vivian já havia percebido e sorria olhando para o filho. Ele olhou pra ela com cara de bobo, olhou pra mim e logo após abriu um sorriso de orelha a orelha. Mas ele não saiu, ao invés disso, fez sinal pra eu entrar.

Abri a porta e me sentei do seu lado. Olhei nos seus olhos, ele olhou nos meus, e então passou o braço ao redor do meu pescoço, me puxou pra perto e me beijou. Eu retribuí aquele beijo com todas as forças que tinha. Toda a minha apreensão do dia anterior simplesmente foi embora com aquele momento, eu passava minha mão direita sobre seus cabelos, eu os bagunçava, mas eu não ligava. Ao perdermos o fôlego ele me solta e continua olhando direto pra mim.

— Bom dia. - ele disse.

— Bom dia. - eu sorri.

— Eu não entendi o que tinha acontecido aquele dia quando você me deu um beijo no rosto, até que minha mãe me explicou o que ela acha que houve. - ele então levantou um dedo na altura do nariz - Você nunca, nunca, precisa ter vergonha da minha mãe, entendeu? Nunca.

Olhei pelo retrovisor, Vivian estava olhando pra mim e sorrindo, confirmei que sim com a cabeça, mais pra ela do que pra ele.

— Vamos, se não a gente vai se atrasar.

Saí do carro e o ajudei Enry a descer segurando sua mão. Olhei pros lados, ninguém a vista, o puxei pra fora e usando a força do braço que o segurava eu o empurrei e o pressionei contra o carro. Queria beijá-lo ali novamente, mas pensei melhor, alguém poderia aparecer. Eu não podia me esquecer deste detalhe, apesar de estarmos íntimos, Enry não era meu.

Entramos na escola e só então me lembrei do que aconteceu no dia anterior.

— Ei, Enry! O que aconteceu contigo ontem??

— Ontem? - ele parecia confuso.

— É, você sumiu, não entrou no WhatsApp, te liguei umas setenta e três vezes e só dava caixa de mensagem.

— Ah sim, eu acho que esqueci meu telefone no Circo.

— Você perdeu ele lá?

— Acho que sim.

Morfeu (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora