Meia Hora (Concluído)

Parte 1

14:30 - 30 minutos restantes

Segundo eles, eu deveria entregar meu filho às autoridades. Aqueles que nem se dava a mínima consideração de querer o conhecer.

Diziam que se eu não o entregasse ou se ele não se rendesse em até meia hora, eles iniciariam uma busca para nos encontrar e poderiam ser frios o suficiente para tortura-lo na minha frente, antes de mata-lo.

Eu não conseguia e nem queria imaginar no que eles seriam capazes de fazer com meu filho. Na verdade seria menos doloroso me matar do que me fazer perder o único filho que eu tinha.

Ah Christian!... Tão amoroso, carinhoso, brincalhão. Mais que um filho, um grande amigo.

Se já não bastasse a perseguição, a multidão o acusava de ladrão e assassino.

Tudo começou no dia em que ele estava ajudando alimentar as crianças órfãs de um orfanato que estava passando por crises financeiras. Ele estava entre os vinte voluntários que se prontificaram a ajudar aquela instituição.

Meu Christian transbordava de amor ao próximo, estava a todo o momento cuidando de alguém, não sabia dizer não, era atencioso, e sempre perdoava a todos. Ele sempre me dizia que enquanto ele vivesse nessa Terra, iria ajudar o máximo de pessoas possíveis. Sempre foi assim desde quando ele ainda era apenas uma criança.

Só tinha uma coisa que ele odiava tanto como a maldade. Fazer o bem para receber aplausos ou atenção. Logo que alguém começava a engrandecê-lo para as outras pessoas, ele saía de cena ou ignorava os elogios.

Com ele não tinha moleza, passava meio período na minha marcenaria, e durante a tarde dedicava seu tempo a auxiliar os necessitados.

Certa vez, quando passávamos necessidades em casa, disse ao meu filho que ele teria que trabalhar nos dois períodos para ajudar nossa família, ele ficou tão entristecido por ter que deixar de fazer o bem aos outros, mas logo percebeu que trabalhando em dois períodos estaria ajudando a nossa própria família.

Ele aceitou, mas duas semanas depois começou a sobrar dinheiro na nossa mesa. Então Christian já podia voltar aos trabalhos de voluntariado.

Entretanto, por ter se tornado uma pessoa tão estimada e sua bondade com tamanha admiração, muitas pessoas começaram a inveja-lo. Tentaram se aproveitar dele, engana-lo, fingir falsas amizades apenas para receberem algo em troca.

− Pai você viu minha camisa cinza? - ele disse com uma expressão desanimada ao olhar para o relógio e ver que o tempo estava acabando.

Naquela ultima meia hora, eu já estava enlouquecendo por dentro. Falava com meu filho, mas me segurava para não chorar aos prantos na sua frente.

− Se for aquela com o logo de uma cruz, está no varal filho. Pegue aquela que passei ontem.

Que dor angustiante era aquela. Ver meu filho sendo acusado por algo que não fez e ainda não poder ajuda-lo.

Quando ele voltou a trabalhar voluntariamente no orfanato, muitas crianças demonstraram a felicidade que estavam de vê-lo novamente. Inevitavelmente isso começou chamar a atenção de alguns voluntários. Começaram a perceber que não recebiam tanto afeto e tanta importância como de fato o Christian recebia.

Até que um dia, um dos voluntários, o tal de Judias - segundo o meu filho, era o que se dizia o mais amigo dele - acusou para a diretora que o Christian estava roubando dinheiro do orfanato e seguidamente um assassinato.

A diretora se recusou a acreditar, disse que o Christian jamais faria aquilo. Obviamente era de se duvidar dessa acusação. Porém, o Judias insistiu para ela procurar na mochila do meu filho. Ate que achou a quantia de dinheiro e o revólver.

− Pai, eles estão atirando na nossa casa! - meu filho exclamava com o medo expresso em seus olhos.

− Filho se abaixa! Precisamos sair daqui imediatamente. - Eu falava com tanto espanto, mas tentava não transparecer.

− Pai, você sabes bem que eles só querem a mim. Deixe-me aqui e se salve!

−Não! Ficaremos juntos. Vamos sair pelos fundos. Quando eu contar ate o três, você corre.

Ele assentiu.

"1... 2... 3, corre!"