- Capítulo 04 -

21 14 0
                                    

Pouco tempo depois, na periferia da cidade mais próxima, Serra Braúna, mas dentro ainda da parte urbana, a criatura sinistra encontrava-se parada do lado de fora de um imenso prédio horizontal de poucos andares. Uma imensa instituição de correção para menores. Olhando para cima ele se deparava com uma infinidade de pequenas janelas quadradas. Mas em meio a todas as possibilidades, existia uma específica, que suas lembranças conheciam e que iria imediatamente visitar.

Dissolvendo seu corpo como um fluido que estivesse agindo sobre uma gravidade inversa e rapidamente começou a ganhar altitude, alçando o ar sem esforço, locomovendo-se elegantemente como a fumaça o faz. Ele se transportava como segredos através das sombras, que podiam ir a todos os lugares sem serem notados.

Subiu suavemente até a altura de uma janela específica, passando sem dificuldade e de forma volátil por entre as frestas da janela, materializando-se logo que toda a composição entrou no quarto.

Havia uma cama encostada no canto, onde um garoto estava dormindo de bruços, com o rosto virado para a parede. A criatura deu dois passos até ficar lado a lado com a cama, estendendo sua mão até segurar a cabeça do menino como se fosse uma pequena fruta. Perturbado, o menino acordou dando um grito altíssimo, mas a criatura não se assustou, apenas agarrou-o com as duas mãos para poder olhar de perto seu rosto. Em sequência ouviu-se mais um grito, diferente, áspero e arrastado. Não era aquele o garoto.

O menino estava congelado em seus braços, a criatura soltou-o como se fosse um boneco inanimado e da forma em que o garoto cai no chão, assim ele permaneceu. Estava em estado de choque profundo.

Do lado de fora do quarto uma chave eletrônica foi colocada na fechadura. O som do trinco velho e enferrujado se arrastando chamou a atenção da criatura, que olhou para a porta no momento em que um guarda a abriu e entrou por ela, apertando o interruptor. Quando a luz atingiu os olhos da criatura eles se contrairam rapidamente. Os músculos da face do guarda quase colapsam sobre o crânio, tremenda fora a careta de espanto feita por ele ao se deparar com aquele figura inexplicável e horripilante.

O ser sombrio saiu em direção à porta, movendo-se em sentido retilíneo ao local onde o guarda a poucos segundos se encontrava, mas que agora já corria exasperado, gritando pelos corredores. Caminhando tranquilamente pelo extenso corredor, a criatura enxergou lá ao fim uma outra grade de segurança, pela qual o mesmo guarda já havia passado, trancando-a logo em seguida.

- Humano tolo, acha que isso adiantará em alguma coisa.

Rapidamente o som de sirenes de alerta começaram a soar por todo o complexo do prédio. E em resposta à medida, todos os quartos foram automaticamente destrancados, fazendo com que centenas de jovens saíssem pelos corredores enquanto a criatura estava passando. Todos que a viram ficaram atônitos, confusos, sem saber se davam meia volta ou tentavam passar pelas laterais, rumo à saída.

Enquanto ela caminhava, uma fina camada de névoa escura começou a se propagar de suas mãos e pés, espalhando-se como um lençol de seda pelo chão do corredor, fazendo com que aqueles que entrassem em contato com ela perdessem imediatamente os sentidos, caindo em um transe profundo e pavoroso. Não demorou muito para que toda aquela ala já se encontrasse tomada pela estranha bruma que ele emanava, dispersando-a por cada centímetro por onde ele passava. O lugar era altamente propício para a proliferação da névoa, repleto de pessoas tolhidas de liberdade e com passados cheios de medo e violência. A matéria prima perfeita.

Agora grande parte das centenas de reclusos que haviam saído em disparada de suas celas jaziam caídos pelos corredores, enterrados sob o amplexo da escuridão. Seus medos e temores eram convertidos em energia, que alimentavam a criatura, outorgando a ela, a cada nova vítima, mais e mais força.

Devaneio - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora