Incógnita

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Nova Orleans, Louisiana

Meu quarto é meu refúgio, e também minha prisão. Dizer que já faço parte dos móveis já é tão cliché que prefiro nem comentar. Abri a janela de meu quarto e fui pego por uma brisa gélida que com certeza me faria ficar resfriado, se permanecesse por muito tempo exposto sem roupas de frio. O moletom fino não me esquentava e pra falar a verdade eu já não me importava tanto com isso.

A vida das pessoas parecia ser mais importante, mais interessante na verdade. Uma mulher correndo atrás do último ônibus com suas mãos cheias de sacolas; um casal namorando no banco em frente a loja de equipamentos musicais; um gato revirando o lixo; um taxista no ponto de táxi conversando com alguém no telefone...

Com certeza mais interessante do que minha vida. Quando olho essas pessoas assim nas ruas eu fico imaginando, o que será que fazem da vida?

Aquela senhora pode estar indo pra casa encontrar sua família depois de um longo período de trabalho; o casal pode ser formado a partir de uma traição, quem pode me afirmar que aquele homem não deixou uma esposa e filhos em casa?; o taxista pode estar contando uma história para sua filhinha enquanto ela não pega no sono, já que ele nunca está em casa de noite para lhe dar um beijo de boa noite; o gato, bem, a vida dele já é interessante por ser um gato.

Fazer esses tipos de especulações se torna bem melhor pra mim do que ver o que fiz comigo mesmo. Tranquei a faculdade, perdi o emprego e pra piorar quase morri a uns messes atrás depois de um acidente de caro com uns amigos. Só alguém sem nada na cabeça aceita carona de amigo bêbado.

Minto pra minha mãe todas as vezes em que ela me liga perguntando como estou no trabalho,"Está tudo correndo bem mãe, qualquer dia desses eu vou ser promovido!" e todas as vezes eu escuto a mesma coisa, "Eu acredito em você meu filho!"; o aluguel ta atrasado a dois messes e meu orgulho me impede de dizer um "Oi mãe, minha vida tá uma merda, tem como você me ajudar?", não, eu vou dar um jeito nisso, eu acho! Posso dizer que já vi de tudo nessa vida, eu sou um bom observador, nada me choca mais!

Me desvencilhei de meus devaneios quando escutei um pedido de ajuda vindo do apartamento ao lado. Corri até a porta e a destranquei, indo até o apartamento vizinho. Vinha uma gritaria horrível de lá, e eu me questionei realmente sobre o que faria quanto a isso. Sabia que a dona do apartamento não era casada, porém estava grávida. Senti que deveria fazer algo, e se ela estivesse passando mal, e se a criança estivesse nascendo? Com esses pensamento em mente eu me pus a arrombar a porta.

Assim que a mesma se abriu eu pude ter a visão de duas mulheres, uma era a minha vizinha e a outra eu não conhecia. Elas estavam no chão da sala, a mulher desconhecida segurava minha vizinha em seus braços enquanto afagava seus cabelos louros, a outra chorava desesperadamente deitada no chão e pelo que percebi o mesmo se encontrava cheio de sangue.

- Me ajude por favor, é o meu bebê. Eu estou perdendo ele! - Sua mão direita estava esticada em minha direção, enquanto sua fala era cortada por conta de seus soluços.

Corri até o telefone fixo e disquei o número, pedindo por uma ambulância com urgência. Voltei até minha vizinha e apertei sua mão. Ela me olhava com desespero nos olhos e isso me cortou o coração.

- Já estão chegando. - enguli a seco - O hospital não é tão longe. - Ela acenava muitas vezes com a cabeça, estava visivelmente desesperada. Pude então perceber que a outra mulher continuava afagando seus cabelos enquanto seus olhos negros estavam presos na figura pálida que apertava minhas mãos.

- Por que não a ajudou? - pensei alto demais, porém já estava feito, então apenas fixei meu olhar nela enquanto esperava sua resposta. Na mesma hora o afago se sessou e seus olhos se encontraram aos meus lentamente. Pude sentir algo bem pesado em mim, algo como uma sensação ruim me invadir assim que encontrei seus olhos.

Darkness Unleashed (Imagine Jungkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora