x Dante x
Estou recuperado. Faz dez dias que Sofia foi embora e sinto minha habilidade mais forte do que nunca. Não é uma estratégia inteligente ficar me exibindo, por isso me mantenho controlado. Mas a sensação permanece. É como sentir algo em minha pele, em meus ossos, em meu coração. Estou inteiro novamente.
Mas, não é o que parece. Sei que é estupidez alimentar sentimentos depois de tudo. Nunca fui esse tipo de cara. Conheci várias garotas, tive ótimos momentos, mas nunca me apeguei realmente.
Isso precisava acontecer justamente com ela.
O pior é que não quero entregá-la, e por apenas pensar dessa maneira me sinto culpado. Não posso esquecer que, intencionalmente ou não, ela matou pessoas que eu amava.
Tudo é tão confuso. A gente consegue deixar de amar alguém só porque aquela pessoa fez algo errado? Existe alguma maneira de silenciar esse tipo de pensamento que não leva a lugar algum?
Eu preciso voltar logo para casa. Preciso fazer o que é certo.
E, droga, é o que ela quer que eu faça. Não sei explicar como, mas já a conheço bem. Sei que se eu não a denunciasse ela ficaria com muita, muita raiva.
Vou descobrir como odiá-la. Todas às vezes que me lembrar de algo bom, em cada momento que Sofia dominar meus pensamentos, vou me lembrar daquelas crianças. Em algum ponto a raiva virá.
Mas, até agora, só me sinto decepcionado. Ela é tão inteligente. É difícil acreditar que foi enganada. Esse é outro motivo para ir para o Comando logo. Denunciando Sofia, quem realmente planejou isso terá de responder pelo crime também.
— Ela faz muita falta, certo?! — Emily chama a minha atenção. Percebo que estou um bom tempo sentado na varanda perdido em pensamentos. Não sei o que responder para a senhora a minha frente. Sei que ela percebe o conflito que ainda está me mantendo em sua comunidade.
— Sofia sempre foi teimosa. Eu nunca tive filhos, então sempre a imaginava como minha. E temos muito em comum. Ela nunca vai desistir de se redimir. Tenho certeza que logo vocês vão se reencontrar e achar uma forma de lidar com a situação. — fala sentando ao meu lado.
— Não quero reencontrá-la. Espero nunca mais vê-la. — respondo em um tom frio. Não gosto de agir dessa forma com as pessoas, mas não tenho energia para ser cordial há dias.
— Vocês não tiveram muito tempo para se conhecer, mas o amor jovem é simples. O coração dispara e pronto, é algo para se levar para o resto da vida. Durante anos imaginei que Sofia formaria uma família com Hugo. Mas, mesmo parecendo óbvio, nunca senti que era certo. E imaginá-la ao seu lado parece impossível, mas, ao mesmo tempo, sinto ser o correto. Claro, ela fez algo terrível. Mas, todos fazemos coisas imperdoáveis pela vida. É nesse momento que entendemos se existe amor ou não. Só quando se ama a situação é revertida e o perdão é possível. — ela fala em um tom sério. Não quero pensar sobre o assunto. Tento me lembrar das mortes em Praetorium.
— Eu tenho responsabilidades. Esse é meu caminho e minha escolha. Não posso dar as costas para quem eu sou para seguir meus sentimentos. Não há sentindo em estar com outra pessoa se for preciso abrir mão de si mesmo. — digo e me sinto triste por dentro. Estou sendo sincero. Não existe nenhuma maneira de ter Sofia em minha vida.
Bom, talvez se ela for capturada eu termine participando de seu julgamento. Isso sem dúvidas faria maravilhas para minha saúde mental.
— A vida é sua, assim como os arrependimentos que virão quando ela estiver no fim. Eu não posso te ajudar mais. Te acolhi a pedido de Sofia. Nós estamos em uma comunidade clandestina e você nunca me prometeu manter segredo. Sinto que as tensões na nação estão prestes a explodir. Eu quero muito ficar longe disso. Somos exilados aqui, então não tomamos partido. Por isso você precisa ir embora. Talvez eu lutasse por aquela garota. Ela é especial. Mas, você é um estranho. Não posso arriscar tudo que temos assim. — Emily parece triste ao dizer isso. Entendo a posição dela. Infelizmente precisarei relatar para o conselho tudo sobre este lugar. Mais uma vez a minha consciência caminha contra meu coração.
— Eu agradeço por tudo. De verdade. Vocês salvaram a minha vida. — deixo o tom frio de lado. Realmente aprecio a gentileza com a qual fui tratado.
— Meu filho, não me agradeça. Aquela menina, sozinha, sem nenhuma habilidade, ferida e desesperada, te arrastou até aqui. Você deve sua vida somente a ela. — me responde para logo depois me deixar sozinho com meus pensamentos outra vez.
O peso de suas palavras permanece comigo. O atendado aconteceria com ou sem Sofia, tenho certeza. Não sei como descobriram sobre Praetorium, mas, pensando agora, éramos um alvo perfeito. Foi burrice minha e um descuido sem tamanho deixar as crianças reunidas em um só lugar.
Se não fosse aquela garota, eu também estaria morto. E sei que vou ter muito trabalho em odiá-la, porque ela ter me contado a verdade é só mais uma prova da pessoa admirável por quem me apaixonei em tão pouco tempo.
Mas, preciso odiá-la.
Então não vou pensar em sentimentos ou naqueles cabelos negros.
Vou pensar nas mortes. Vou me concentrar nisso para que em algum momento a vida, a luz que ela trouxe para dentro de mim, tronem-se trevas mais uma vez.
Preciso voltar a ser escuridão.
xxx
Eu sinceramente não sei o que pensar em relação ao Dante. Mas, não se esqueça do comentário e da estrelinha.
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A Lenda das Estrelas
Science FictionLendas do amanhã 1 Os homens da ciência antiga nunca acreditaram que o mundo sobreviveria tanto. A nação que antes era de gigante natureza, sofreu para resistir a grande devastação provocada pelo próprio homem. Mas eles encontram uma solução, alter...