i already found my happiness [único]

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— Eu não acredito que tudo isso está acontecendo — eu disse, observando todo o caos que se passava bem abaixo dos meus pés, a brisa gelada agredindo violentamente o meu rosto.

— Como assim, Unnie? — Chonnasorn perguntou, desviando o olhar do céu pintado em diversos tons pastéis, porém agressivos, para me encarar.

Eu já me perguntei várias vezes como seria o fim do mundo, achava que era algo como as ficções que Sorn, minha adorável namorada, gostava de ler ou assistir para depois me contar, tipo um vírus fatal ou um apocalipse alienígena barra zumbi.

— Acabou. Tudo está acabando, a ficha ainda não caiu? — a encarei de volta, fitando seus olhos castanhos. — Nossos sonhos, nossas chances... Tudo! Tanta coisa que nós duas gostaríamos de fazer, mas agora... Que ódio! Você não fica nem um pouco frustrada?! — gritei pro nada, esmurrando o chão. A menor continuava séria e calada. — Os planos que fizemos não vão servir mais pra nada. Queria ter feito mais coisas, coisas com você! Aproveitado mais os nossos momentos e construir outros... — deixei minha voz morrer aos poucos, sentindo pena de mim mesma. Lamentável.

Eu estava realmente muito pertubada, assim como quase qualquer um na minha situação. Quando criança, nunca acreditei no Papai Noel e nessas baboseiras, sempre fui uma pessoa séria, extremamente pé no chão e com várias manias estranhas — o que fazia todo mundo sair correndo de perto de mim; literalmente. Menos a tailandesa sentada ao meu lado neste exato momento. Quando eu a perguntei o motivo de ter se apaixonado por mim, ela disse que eram todos os detalhes que me faziam ser eu — todos os defeitos, qualidades, medos, paixões e principalmente a minha essência.

Ela apenas desviou o olhar para as ruas movimentadas. Estávamos no nosso apartamento, no décimo andar, sentadas na varanda.

— O que seriam essas coisas? — a morena me perguntou, perdida em seus pensamentos, ainda olhando para baixo. Pessoas corriam e gritavam loucamente, como se adiantasse de algo e o universo ou qualquer força superior mudasse de idéia.

— Eu já lhe disse várias vezes, não tem pra quê repet... — fui interrompida pela outra.

— Quero ouvir de novo — Sorn disse, abraçando suas pernas e fechando os olhos. — Gostaria de ouvir para sempre se pudesse, mas quero ouvir agora, pela última vez. Por favor.

Respirei fundo. Não sabia por onde começar. Nunca sabia.

— Eu queria fazer tudo o que ainda não fizemos. Te levar pra conhecer outro país, quem sabe. Formar uma família, ter várias criancinhas aqui. Nem precisaria ser aqui, compraríamos uma casa se fosse necessário, daríamos nosso jeito como sempre damos. Acampar, adormecer olhando as estrelas, sei o quanto que ama esses clichês. Queria que me contasse mais histórias suas e que, futuramente, contássemos nossa história para quem quisesse ouvir. Queria me casar e passar o resto da minha vida com você. Gostaria de viajar, ir para Paris ou algo do tipo, encontrar e aprofundar nossa felicidade, a que estávamos lutando por tanto tempo. — Respirei fundo, sempre ficava desconcertada quando falava sobre esse assunto. Era delicado pra mim, não costumava a falar meus sentimentos por aí.

Eu amava absolutamente tudo em Chonnasorn Sajakul, mas principalmente a sua capacidade de me compreender e de jamais ter virado as costas para mim, principalmente quando eu pensava estar sozinha. O jeito que a melanina do seu olhar me acalmava tão bem, o seu toque ainda me fazia ter aquelas borboletas no estômago. Era surreal.

— Seung, Se lembra daquela vez que você estava cozinhando e o microondas pegou fogo? — ela abriu os olhos e esticou as pernas, olhando para frente.

— Como eu poderia me esquecer da vez em que eu quase morri? — respondi, revirando os olhos. — O que isso tem a v... — fui cortada, de novo.

— E daquela vez que a torneira da pia quebrou e parecia um gêiser? — ela riu e logo em seguida olhou em meus olhos. — Ou quando você jurou que tinha um monstro dentro do seu armário, mas era só a nossa gata, a Elkie, que parou lá dentro sabe-se-lá como?

— Sorn — disse, segurando em seus ombros. — O que isso tem a ver? Você está ficando lou...

— Você é muito lenta, Unnie - a menor revirou os olhos. — O que eu quero dizer é que eu já encontrei minha felicidade. Fico feliz por todas as coisas que fizemos ao invés de me lamentar pelas que ainda não realizamos. Eu te amo, Oh Seunghee, você é minha maior felicidade e minha melhor e maior conquista — ela colocou o cabelo, que esvoaçava com a forte brisa, atrás das orelhas. — A propósito, você já parou para observar o céu, por acaso?

Esqueci de mencionar que ela também tem o poder de sempre me deixar sem palavras. Neguei com a cabeça. Estava mais preocupada observando a desgraça alheia e a minha própria desgraça. Ela se levantou, me puxando logo em seguida para o canto da varanda. Observando o horizonte — onde era possível ver um pouco do oceano — percebi que o caos é realmente belo.

Havia vários tons de lilás em degradê pintando o céu, parecia até uma obra de arte. Lá no próprio horizonte havia um roxo forte e fosco, se misturando com o laranja dos raios-solares e poentes, realçando a cor do mar — que por um acaso estava roxo, e a fusão disso tudo dava nuances entre o mais claro rosa e o mais cintilante laranja.

Tinha começado uma chuva de cometas, que cortavam o lilás com riscos amarelo-luminosos.

Se você olhasse atentamente, conseguia enxergar os tons amarelados ao redor das estrelas-cadentes contrastando com o laranja, criando um rosinha quase que salmão. Além do céu visivelmente estrelado. Estava tudo muito confuso, mas muito bonito, uma mistura de calor e frio.

— Você perde muito tempo se estressando, sabia? — Sorn afirmou, vidrada no horizonte.

— Eu sei — disse, observando o seu rosto angelical. O barulho dos cometas caindo em diversas partes do país fazia um barulho ensurdecedor, tínhamos pouco tempo.

E eu apenas a abracei por trás, naquela varanda calorenta, assistindo ao mundo se acabar.

— Sabe... Umas das coisas que eu mais aprecio em ti é a capacidade de encontrar a beleza nas coisas mais inusitadas possíveis. Você consegue me enxergar como eu realmente sou e serei eternamente grata a isso. Você me encontrou no meio de um turbilhão de sentimentos confusos, onde nem eu mesma sabia que existiam — refleti, encaixando a minha cabeça em seu ombro.

Ela se virou para mim com lágrimas nos olhos e me abraçou de frente.

— Eu não queria que tudo se acabassem assim, de verdade — Sorn disse, soluçando. — Tenho medo do que vai acontecer depois, muito mesmo! Vamos afundar na escuridão? Reencarnar em tempos diferentes? Não quero te perder. — ela afundou o rosto na curva do meu pescoço.

Eu enxuguei suas lágrimas e lhe dei um selinho.

— Não se preocupe — encostei nossas testas, encarando-a. — Não sei para onde vamos, mas custe o que custar, eu vou te encontrar e teremos o nosso final feliz. Pare de pensar negativo, sim? Você nunca se importou com essas coisas. Nem que seja em uma outra reencarnação ou em um universo alternativo, tanto faz. Com certeza isso tudo não acaba por aqui.

E ela apenas assentiu e me abraçou novamente.

E ficamos assim, uma protegida nos braços da outra, nossos corpos se esquentando em meio ao frio — ou calor, não sabia mais o que estava acontecendo —, apenas aguardando a escuridão chegar.




















espero que tenham gostado sz

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❝one last time❞ [sorn+hee]Onde histórias criam vida. Descubra agora