Acorde

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Acordou com o pior barulho que se pode imaginar de manhã. Para ele era o despertador, não havia pior.
Comeu suas duas torradas com manteiga e um café amargo. Sem açúcar porque acabou em algum dia que ele nem se lembrava, e menos ainda teve vontade de ir comprar outro pacote.
Lembrou da sua ex mulher enquanto comia. Quando eles estavam juntos, a única coisa que aliviava a desgraça do despertador, ela lhe dava um beijo. Um beijo de verdade. Eles se amavam.
Enquanto tomava café, se afogou. Se afogou nas idéias, na imensidão daquele negrume. Depois tossiu. E lembrou dela denovo.
Com tédio, vestiu as roupas para ir ao trabalho. Uma calça jeans, uma blusa e o sapato. Escovou os dentes. O mesmo ritual de sempre. Ele odiava isso.
Ligou o carro. Acelerou.

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Voltou para casa. Tirou o sapato, ficou só com a roupa íntima. Jantou e foi tomar banho. Cansou-se do dia. Exausto foi beber um copo de água, escovou os dentes e tomou outro copo de água, exausto.
Imaginou se ainda com a roupa do trabalho, mas deitou-se largadamente na cama. Exausto.
E derreteu. Derretia, um líquido colorido. As gotas desciam pela coberta e caíam no chão, que formava outra poça. Um líquido, rosa, vermelho, branco e preto, e que refletia bem a luz. Ficou ali pingando e escorrendo, esgotando-se.
Talvez amanhã... Voltasse, ou começasse? De novo?

Uma Xícara de Café Onde histórias criam vida. Descubra agora