Capítulo 28

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x Mari x

Não vou ficar mais nenhum minuto nesse quartinho desagradável. Estou há dez dias apenas esperando a oportunidade de escapar. Tereza ainda não disse o que quer comigo, ou melhor, com Sofia, mas hoje mais cedo a escutei falando com alguém sobre Vinícius.

Aparentemente ele está preso em uma jaula de pedra.

Vai ser divertido sair daqui.

As pessoas subestimam os naturae. Estamos em maior número no mundo, não porque o que fazemos é fácil, mas porque é necessário. E o que poucos sabem é que minha habilidade vai além de apenas criar frutinhas deliciosas.

Eu vou salvar o meu namorado, e se para isso eu tiver que chutar algumas bundas... acho ainda melhor.

Eles realmente acreditaram na mentira de Vinícius. Fiz a minha parte, mas não foi muito difícil. Sofia e eu somos realmente parecidas.

Mas, me pergunto se eles realmente a conhecem, porque um lugar como esse nunca seguraria alguém como ela. Estou presa neste quarto pequeno sem janelas. A cama é a única mobilha. A porta é simples, o que me faz ter certeza que há guardas do lado de fora.

Mas, sei que Sofia sairia daqui facilmente. Ela tem aquele jeito de resolver as coisas rapidamente. E ela já fugiu daqui antes.

Agora é a minha vez.

Caminho até a porta tentando escutar alguma movimentação. Sei que terei pouco tempo para encontrar Vinícius. Depois precisaremos de um veículo, ou será inútil qualquer esforço.

Já pensei em todas as opções e, depois de passar pouquíssimo tempo com Tereza, sei que ela não tem planos agradáveis para nós. Então é melhor morrer correndo do que ser assassinada passivamente nesse lugar horrível.

Respiro fundo e sinto minha habilidade agir naturalmente. Em poucos segundos a porta é estraçalhada pelo emaranhado de plantas que criei. Os galhos continuam crescendo porta afora e alcançam o guarda enorme. Ele é um ignis, tenta sem sucesso impedir o avanço da minha armadilha viva com suas chamas. Sou mais rápida e logo ele apaga por não conseguir respirar.

Ninguém irá me parar agora.

Caminho lentamente entre as pessoas distraídas procurando algum indício de Vinícius. Com minha habilidade, sei que essa comunidade se estende por alguns andares subterrâneos. Imagino que é lugar mais óbvio para se criar uma prisão, então busco uma entrada. Ninguém parece me notar. As pessoas aqui caminham com os olhos constantemente baixos.

Depois de alguns minutos consigo visualizar uma pequena porta antiga no chão. Com algum esforço a abro para então encontrar uma longa escadaria. Sigo o caminho iluminado por luzes artificiais. Elas devem ser alimentadas pelo gerador solar que vi no dia que chegamos perto da entrada.

A escada termina em um amplo corredor, cheio de novos acessos. Começo a ficar ansiosa sem saber que caminho tomar. Sinto então uma onda de calor vinda da extremidade esquerda. É arriscado, mas seguir esse palpite é melhor do que ficar parada esperando ser pega.

Conforme caminho, percebo que os corredores secundários estão repletos de celas. Inicialmente consigo enxergar espaços modernos, que ao longo do caminho tornam-se mais precários. Tudo parece vazio, o que me faz questionar se Vinícius está mesmo aqui. Talvez eu tenha caído em um truque.

Então, no último corredor de onde percebo que o calor está surgindo, posso ver que as celas são todas de pedra. Ele está aqui. Tem de estar.

— Vinícius? — arrisco chamá-lo.

— Mari? — sua resposta vem da cela à direita. Corro para encontrar o grande obstáculo da porta de pedra.

— Vou te tirar daí. — digo com convicção. Essa não é a primeira vez que trabalho com pedras. Faço uma trama fina, mas resistente, crescer por entre as frestas. É fácil, me faz lembrar dos dias que passamos explorando.

Mas hoje preciso ser rápida. Por isso me concentro no processo de criar e puxar. A porta aos poucos cede à força da minha habilidade. Quando finalmente o espaço aberto é suficiente, Vinícius saí ao meu encontro.

Ele está imundo. Parece que não dorme há dias. Mas, nunca esteve tão lindo. Nunca fez meu coração disparar tanto. Nunca antes eu havia ficado tão feliz em vê-lo.

— Desculpe o atraso, mas para te salvar precisei descobrir onde você estava. — digo contendo a emoção. Não sou de demonstrar sentimentos, mas ele sabe. Ele sabe que o amo.

— Nem notei a demora. — me responde quando tomamos rapidamente o caminho de volta. Não fui particularmente discreta. Precisamos sair o mais rápido possível.

Na superfície, Vinícius toma à dianteira. Em poucos minutos já estamos dentro de um veículo a toda velocidade.

Conseguimos. Essa é sempre a minha vantagem: as pessoas me subestimam. Mas, nós conseguimos.

— Para onde vamos agora? — Vinícius pergunta segurando firme o volante.

— Vamos encontrar Hugo e Sofia. Aquela mulher vai saber que mentimos e com certeza vai ficar furiosa. Precisamos encontrar nossos amigos e ter certeza que eles estão seguros. — respondo com convicção.

Juntos somos mais fortes e podemos nos proteger. Contra o que Tereza quer com Sofia. Contra a falsidade de Laura. Algo estranho está acontecendo nessas comunidades. E não sou o tipo de garota que foge da luta.

E por mais que Vinícius faça uma cara feita para a minha resposta, sei que ele não é do tipo que foge também.

Por isso ele acelera e toma o caminho do qual fomos arrancados há tantos dias.

Só espero que não seja tarde. 

xxx

Eu amo esses dois, e se você gosta de #Maricius também, não esqueça do comentário e da estrelinha <3

A Lenda das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora