Um dia atrás

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Alarmes soavam por toda clareira.

- Jane, é a caixa completando o ciclo novamente. - Uma garota disse enquanto caminhava até o centro da clareira, de onde vinha todo barulho. 

- Mais uma fedelha... - Jane resmungava enquanto apertava um botão para que o alarme cessasse, e com ajuda de outras clareanas, abriu as grandes portas de aço que não eram automáticas. A garota estava em posição fetal, chorando e se encolhendo cada vez mais. Algumas campistas riam e zombavam, e apenas algumas desceram para dentro da caixa para ajudá-la a sair. 

- Você lembra seu nome? - Pergunto, tentando a acalmar.

- Ela não vai lembrar, Lexie! - Jane gritava lá de cima. Ela nunca descia dentro da caixa para ajudar as garotas. Era do tipo durona, que evitava ajudar.

- Onde...onde eu estou? - Era a única coisa que a garota conseguia dizer, olhando ao redor assustada e ainda chorando. Dizíamos ser normal as garotas que chegassem não lembrar seus respectivos nomes durante os primeiros dias. Toda nossa memória era deletada temporariamente, mas quando a recuperávamos, não lembrávamos a parte em que éramos enviadas até aqui. A maioria chegava em estado de choque, atormentadas e algumas até desmaiadas. 

- Bem-vinda à clareira. - Ajudo-a a ficar de pé e sair da caixa. - Sei que é difícil compreender esse local, mas... sem perguntas. Aos poucos você lembrará seu nome e entenderá um pouco daqui. 

A garota enxuga as lágrimas e olha para todas as clareanas ao redor, com certo medo, e então dispara correndo pela clareira tentando fugir. Ela tropeça e cai de cara no chão, virando alvo de mais zombaria. 

- Olha lá, temos uma corredora! - Jane ri e corre com as outras atrás dela. Fico olhando de longe. 

A garota levanta o rosto, olhando ao redor e vendo os enormes muros que cercavam o local. Algumas clareanas pegam-na pelo braço, a levando na direção de uma espécie de cela e a jogando lá dentro.

- Fique aí por um momento para que possa esfriar a cabeça. - Suzane diz enquanto tranca as ataduras. A garota fica sentada e ofegante, com os cabelos bagunçados, a roupa rasgada e o corpo suado. Ela era magra e alta, tinha olhos da cor de mel e os cabelos na altura da cintura, loiros. Ela olha para uma das grades da porta da cela, que havia ter sido feita a mão. Um besouro um pouco anormal andava por essa grade e fazia um barulho estranho. Ela tirou o cabelo do rosto, se aproximando com certa curiosidade. O inseto tinha uma cor metálica, e parecia algo mecânico por conta do barulho que fazia. Ela se aproximou mais e ficou surpresa ao ver a palavra CRUEL escrita em seu lombo, e por um momento teve a leve sensação de aquele nome lhe parecer familiar.

- Se afaste desses besouros! - eu disse aparecendo de frente a porta da cela de surpresa, a fazendo recuar rápido, assustada. - Eles podem machucar caso sintam-se ameaçados. - Digo tentando parecer amigável e sento de frente a cela. - Não precisa ter medo.

Dizendo isso, percebo que ela estava mais calma.

- CRUEL... por que esse nome me soa tão familiar? - Ela fala e sua voz era grave, do tipo que se é rara ouvir em meninas. 

- Tudo aqui soa familiar para nós... mas nunca entendemos o porquê.

Nós sabíamos um pouco o que CRUEL significava - aliás, Jane sabia. Por ser a que estava a mais tempo na clareira, ela era a que mais sabia e dividia suas teorias comigo. De acordo com ela, CRUEL era uma espécie de agência que havia nos enviado até aqui para um teste ou algo do tipo, e que sempre nos vigiavam através dos besouros mecânicos que haviam microcâmeras em seus olhos de vidro. Os besouros eram inofensivos, desde que não sintam-se ameaçados, e então deixam suas finas presas a mostra, podendo ser mortal uma simples picada. 

Mais tarde viemos a descobrir que CRUEL não se tratava de um adjetivo, e sim uma abreviação para "Catástrofe e Ruína Universal: Experimento Letal" .

A garota arregala os olhos, como se tivesse visto um fantasma. Até olho para trás, assustada. 

- Eu...consegui lembrar meu nome! - Ela diz assustada, enquanto vozes sussurravam em sua mente.

- Nina... Nina... Nina... - Era uma voz masculina, que a garota, ou melhor, Nina, jurava conhecer.

- Nina. - Ela disse por fim quando o pânico cessou. - Meu nome é Nina.

Horas depois, antes do sol se pôr, Suzane voltou e a tirou da cela.

- Você precisa se banhar, se alimentar e... ver uma coisa. - Ela disse, abrindo espaço para que Nina saísse, e então caminhamos nós três juntas na direção dos portões do labirinto.

- São portões? - Nina perguntou, enquanto seus olhos corriam pelos muros.

- São... agora observe. - Eu disse enquanto todas as clareanas estavam de pé de frente para os portões, esperando ansiosamente pelas corredoras. Em questão de segundos, elas surgiram por entre os muros correndo, e entram de volta na clareira, sérias. 

- Bianca... Rita... Mia... Carina... Luna... Grace... - Jane conferiu todas as garotas, como era de costume. - Estão todas aqui. 

Dito isso, os portões se arrastaram lentamente e automaticamente, se fechando. Nina olha, assustada.

- O que diabos é isso? - ela perguntou, enquanto encarava os portões se movimentando, fazendo um barulho de pedra sobre pedra.

- Estamos a salvo das criaturas do labirinto agora. - Sorri dizendo, e então coloquei a mão em seu ombro. - Sempre que o sol nascer, os portões se abrirão, e sempre que ele se pôr, eles fecharão. Nós não entramos lá, apenas elas. - Apontei para o grupo de garotas que haviam saído de lá. - As corredoras. 

- As notícias não são boas. - Bianca jogou sua mochila para uma das clareanas mais novas e saiu em direção aos dormitórios. 

- O que há com ela? - Jane perguntou a Mia, uma garota de pele escura que usava dreads.

- O labirinto tem mexido com nosso psicológico também. - Mia murmurou, com voz de exausta, e em seguida se retirou. As outras corredoras fizeram o mesmo.

Por um momento, fiquei preocupada. As corredoras nunca estiveram tão estranhas quanto nesse dia, inclusive nunca haviam trazido consigo "más notícias". Refleti e imaginei hipóteses enquanto a noite caía. 



Lost in the LabyrinthOnde histórias criam vida. Descubra agora