Capítulo 9

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    Quando cheguei para o café já não tinha quase nada, se eu me atrasasse um pouco não achava nem os restos, ultimamente eu estava gostando disso, viver perigosamente porque se eu continuasse me atrasando assim corria o perigo se comer outra vez só no almoço. Valentina tinha ficado no quarto trabalhando no seu novo projeto de decoração, acho que a quantidade inimaginável de café que ela tomou ontem a noite veio fazer efeito agora já que a garota não parava nem um minuto. Sabe quando você liga alguma coisa na tomada, então, isso resumia bastante o atual estado dela, elétrica e agitada, eu no meu atual estado de espírito -só não estou morta porque gosto de viver- não me via naquele quarto por mais de uma hora enquanto ela não parasse. Minha melhor solução -como sempre- foi ir atrás de comida, e de quebra ainda achar LG para iniciar meu plano de fuga mas as coisas começariam a dar errado quando o pão de queijo acabou, isso era um mal sinal.

_Ela não é o sol mas chegou iluminando o lugar! -LG fez minha recepção ao me aproximar da mesa, Arthur e Benjamin também estavam lá, o primeiro parecia não acreditar que o amigo usava esse tipo de frase fajuta, já o segundo pensava seriamente a respeito do comentário 

_Que bom que te encontrei -disse me sentando ao lado dele- preciso solicitar seus serviços.

_Que tipo de serviços? -Benjamin arqueou uma sobrancelha, não queria imaginar o que se passava pela cabeça dele 

_Desde quando o LG trabalha em algo que não seja o próprio ego? -era a primeira vez que eu via Arthur abrir a boca para falar algo que não fosse significados, lições de moral ou como ele diz, algo produtivo para a mente de um adolescente consciente, e tenho que admitir que eu estava surpresa, tão surpresa a ponto de abrir a boca chocada e bater palmas 

_Lamento se vocês ainda não conhecem o maravilhoso LG serviços ilimitados, "Pro que você precisar, basta pagar", não trabalhamos com ilegalidades, apenas com verdades -ele pronunciou rapidamente cruzando as mãos na frente do corpo- Em que posso ser útil?

_Em muitas coisas mas prefiro conversar a sós -disse indicando com o olhar os dois garotos que nos observavam atentamente do outro lado da mesa 

_Como preferir, estamos aqui para satisfazer suas vontades

_Oi? -dessa vez Benjamin arqueou uma sobrancelha confuso, ele devia estar pensando que parte da novela perdeu 

_Então tudo ótimo! -sorri ignorando a cara de Benjamin, era uma expressão tipo "você não vai mesmo me responder?" não, não vou- eu tenho que ir agora mas a gente combina, tchau pra vocês também, a gente se vê pelos corredores -disse me levantando rapidamente segurando um riso

  Dessa vez eu estava orgulhosa de mim mesma, fui responsável o suficiente para olhar a minha tabela de atividades -mesmo que tivesse recebido uma ajuda direta de Valentina, ela sabe ser convincente com uma tesoura na mão- desse modo sabia que tinha uma consulta nove e meia com a Dra. Cris, era a primeira vez que ela ia falar comigo e eu não fazia ideia de como as coisas funcionavam com ela. Minha última psicóloga não era bem um exemplo de boa conduta nas minhas sessões, acho que as coisas eram bem claras entre a gente, eu não gostava dela e nem ela de mim portanto seus esforços eram meramente profissionais o que não ajudava nem um pouco, porém não podia culpá-la por não conseguir me ajudar, seus outros pacientes obtinham resultados somente eu que não, era como ela dizia, "eu não posso ajudar quem não quer ser ajudado", e eu não queria, desde o começo fui contra essa ideia dos meus pais então nunca facilitei nada pra pobrezinha, o que nos colocou nessa situação de repelir uma a outra. Não posso negar que estava nervosa, eu não gostava de me abrir com as pessoas, na verdade eu não gostava de pessoas e já era um milagre eu estar convivendo numa boa com esses seres humanos que conheço a tão pouco tempo sem estar me escondendo no quarto ou em qualquer lugar inabitado. 

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora