Capítulo 10- 06/06/2010 - 02/07/2010 Da prisão para a prisão.

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06/06/2010
Nadine fumava agitada na janela de sua sala. As crianças estavam brincando no grande tapete da sala, e gritavam e jogavam brinquedos de um lado para o outro, irritando a mãe que esperava impaciente o marido chegar de viagem.
— Puta que pariu, onde que esse cara está? - Resmungou Nadine entre uma tragada e outra. Decidiu então ligar para o marido, saindo da janela para atravessar a sala até o telefone. No caminho foi atingida por uma boneca no rosto, o que lhe deixou ainda mais estressada.
— Quem foi? - Perguntou a mãe, segurando com raiva a boneca cara. As gêmeas Eloá e Elisa entreolharam-se, balançando a cabeça cheia de fios loiros de um lado a outro, negando o ataque sem pronunciar nenhuma palavra. - Vocês tem certeza que vão negar que me atacaram? - Nadine respirou fundo e pegou a boneca jogando-a pela janela para que o cachorro labrador que estava do lado de fora pudesse brincar com ela.
— NÃO MÃE! - Pediu Eloá, a gêmea mais arisca, entregando-se implicitamente.
—Então era sua essa boneca? Que pena, agora ela é do Bob. - Nadine voltou a caminhar em direção ao telefone, enquanto a dona da boneca chorava copiosamente na janela assistindo o cachorro destroçar sua ''filha''.
A mulher de cabelos castanhos e lábios vermelhos combinando com as unhas cumpridas também na mesma cor, discou os números já decorados e esperou que seu esposo atendesse.
— Atende...


Cléo e o motorista prosseguiam a viagem em silêncio, até que o homem sentiu seu celular vibrando no bolso da camisa e retirou uma mão do volante para poder atender a ligação.
A fugitiva apenas observava o motorista falando ao celular, era um homem bonito até, devia estar entre os trinta e os quarenta anos, e falava tranquilo ao celular com quem era aparentemente sua esposa. Assim que a ligação encerrou-se, ele pôs o celular de volta no pequeno bolso da camisa de pano listrada de preto e branco.
— Minha esposa está louca porque está sozinha com as gêmeas - Disse o homem, dando um sorrisinho, mas com os olhos focados na estrada.
— Você tem filhas gêmeas? - Perguntou Cléo.
— Tenho sim, Eloá e Elisa - O homem sorriu orgulhoso. - Afinal, nem perguntei seu nome.
— É Cléo. E você, como se chama? - Cléo sentia-se aliviada por estar em companhia com um pai de família que aparentava ser uma pessoa amorosa e com índole.
— Me chamo Alex. - Alex franziu o cenho e olhou bem para o rosto de Cléo. Ele sabia que já havia visto aquele rosto em algum lugar, e aquele nome também, mas juntando os dois ele percebeu que estava dando carona para ninguém mais, ninguém menos que Cléo Alencar, a moça desaparecida que era bastante mencionada na tv e nos jornais.
— Espera, você não é a menina que desapareceu? - Perguntou Alex, ainda com o cenho enrugado.
— Eu fui sequestrada. Consegui fugir e quando estava voltando para casa meu sequestrador me encontrou e correu atrás de mim, por isso eu me joguei em frente ao seu carro. - Alex arregalou os olhos castanhos.
— Ainda bem que eu passei ali naquele momento, não é?
— Realmente... Muito obrigada!
— Olha, eu preciso muito ir pra casa, porque minha mulher vai realmente pirar se eu não for lá ajudá-la a olhar nossas filhas. Ela nunca quis ser mãe, e sempre deixou isso bem claro quando nos conhecemos, mas eu sempre quis ser pai. - Cléo reparava a feição contente na qual aquele sujeito contava aquela história. - Sempre quis ter uma filha menina, desde pequeno. Aí eu conheci a Nadine e mesmo com a militância feminista dela, independente e livre, eu me apeguei a ela, me apaixonei e consegui fazer ela ter o mesmo sentimento por mim. Depois de alguns anos de dois anos de namoro nós casamos e não demorou muito pra Nadine engravidar e ela misteriosamente não quis abortar, mas eu rezei muito por isso, e minhas preces foram ouvidas em dobro, tanto que eu tive gêmeas.
— É uma história muito bonita, Alex. - Cléo notava pelas placas que eles estavam indo pro mesmo estado onde ela morava anteriormente, e algo lá no fundo lhe dizia que ela estava muito mais próxima de casa do que pensava estar, mas era uma intuição errada, mas Cléo não sabia.
— Você se importa de ir pra minha casa essa noite, ficar lá e depois você reencontra sua família? Falando assim parece banal, mas eu moro a poucos metros, e preciso ajudar minha esposa com a gêmeas. Pode ficar tranquila, vai ficar tudo bem e logo você vai poder voltar pra sua família. - Cléo sorriu, aquele homem lhe transmitia uma confiança que chegava a ser um crime contradizer suas palavras, então ela aceitou a proposta.

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