Epílogo

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When the sun came up
You were looking at me

Julho, 1999

Por alguns minutos, tudo que se podia ouvir eram as ondas do mar quebrando na areia. Mas então os primeiros raios de sol começaram a despontar no horizonte e Leanne comemorou colocando uma música para tocar.

"Finalmente!" Soltou.

Já fazia bastante tempo que tínhamos estado ali, eu, Thomas, Leanne, Savanah, sua nova namorada, meu pai, minha mãe, minha irmã e seu marido. Todos sentados na areia na frente da nossa nova casa, olhando o mar e esperando para dar play no rádio portátil de Leanne, tentando economizar as pilhas para aquele momento. Era o primeiro quatro de julho do qual me lembraria desde oitenta e nove, precisávamos fazer aquele dia ser marcante. E não existia jeito melhor do que ver o sol nascer.

"Ainda preferia estar dormindo," Savanah resmungou, enquanto Lea concordava com a cabeça.

"Só ouve a música," falei, me virando para repreendê-la também com os olhos.

Ela suspirou contrariada, se virando para a namorada, Gabbie, e lhe dando um beijo. A cena era adorável demais para que eu não me virasse também para Thomas.

Ele já me observava, sorrindo. "Não tinha nenhuma música dos anos noventa para escolher, não?"

Sorri, beijando a mão dele que eu mantinha entre as minhas sobre meu colo.

"Como Wonderwall?" Perguntei, levantando as duas sobrancelhas juntas para provocá-lo.

"Exatamente como Wonderwall," respondeu, se virando para o mar e me abrindo espaço para apoiar minha cabeça em seu ombro enquanto assistia o sol nascer.

Não. Simplesmente não existiria música melhor para aquele momento. Já fazia quase cinco meses inteiros desde que eu estava ali, naquela década, mas minha última lembrança de oitenta e nove ainda estava fresca na minha mente. Nós tínhamos passado tardes inteiras esperando para tocar aquela música na rádio e gravarmos, e ela nunca deixaria de ser minha grande favorita.

O ritmo era maravilhoso, único e contagiante. Mas talvez o que mais me atraísse para ela, que tinha sido lançada logo em oitenta e um, era como sempre me pareceu ter sido escrita para todo o mundo. Não para os compositores, ou uma única pessoa amada. Não. Ela tinha sido escrita para a população do mundo inteira, em qualquer época em que vivessem, e eu a amava por isso.

Senti Thomas me abraçando mais forte e me aconcheguei ainda mais em seu ombro. Era até estranho pensar que em algum momento tinha chegado a tentar viver outra vida, ainda que ela já tivesse sido minha. Tinha aprendido tanta coisa nos últimos meses, principalmente naquele depois de acordar no hospital, e tinha que agradecer às pessoas à minha volta por isso.

Sem elas, não teria aprendido a me desapegar do que me fazia mal, a lutar pelo que eu queria e, principalmente, a entender que as pessoas têm defeitos, cabia a mim perdoá-las e nunca mais achar que seus erros mereciam mais atenção do que seu caráter. Principalmente quando eu as conhecia de verdade e as amava mais do que algum dia conseguiria explicar.

Senti meus olhos lacrimejarem e logo levei uma mão para enxugá-los.

"O que houve?" Thomas perguntou.

Sorri. "Nada," falei. "Só estou feliz."

Ele me imitou, me roubando um beijo e meu ar em seguida.

"Por estar ouvindo Under Pressure?" Questionou de brincadeira assim que se afastou.

"Por tudo."

Me virei então de volta para o sol, inspirando fundo e guardando cada detalhe daquele momento em minha mente, principalmente minha parte preferida da música que se aproximava. Nunca conseguiria me esquecer de contar as cores do céu e me considerar a pessoa mais sortuda do mundo por estar ao lado das pessoas que mais amava.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora