Capítulo 4: Mente Perturbada

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"Pessoas quietas possuem mentes barulhentas."
(Stephen Houking)

Eu havia me posto de pé muito prematuramente naquela manhã, pluviosa e gélida como de costume, me agasalhei bem e caminhei até a sala de estar, pretendendo abrasar a lareira, o fogo subiu, porém a fumaça não saía pela chaminé, estava se concentrando dentro da saleta fechada, eu tossi quando fui invadida por aquele ar negro e carregado, percebi que algo obstruía a chaminé, cessei rapidamente o fogo e me apressei a me aproximar para ver o que acontecia, enfiei a cabeça na lareira e fiquei de pé com metade de meu corpo dentro do tubo da chaminé, quando estiquei os braços para ver o que havia ali impedindo a saída da fumaça, percebi uma coisa dura e redonda, eu não consegui definir o que era, tateei e deslizei a mão para o lado da coisa, e foi aí que toquei em uma parte que percebi ser uma orelha, meu coração arrefeceu-se, aquilo era uma cabeça, senti meu torso ceder, minhas pernas não se mobilizavam, eu estava ali, debaixo de um corpo glacial, a voz havia desaparecido de minha garganta, eu respirei fundo durante uns dez segundos, os dez segundos mais sufocantes de minha vida, tentando me aquietar, saí dali e fui voando até o telefone, mas lembrei-me que os telefones estavam mudos devido ao mal tempo.
De repente captei um ruído estrondoso, fui correndo até a saleta, ao entrar, o torso congelado de uma mulher crioula, se encontrava estirado no chão, levei minhas mãos a boca sufocando o grito iminente, cheguei mais perto a passos lentos, horrorizada com o que estava presenciando, os pés da moça estavam amarrados os braços e cabelos haviam sido retalhados, ela estava nua, com a boca aberta e os olhos saltando da órbita em uma expressão de horror, notei um corte profundo em seu pescoço, e sai correndo outra vez, tropeçando nas coisas e o grito finalmente saiu ensurdecedor, eu chamei por Elise mas lembrei-me que ela não estava em casa, me sentei na escada da varanda e permaneci ali, esperando qualquer sinal de vida pra soltar meu desespero.

Quando a Ford 86 caindo aos pedaços de Elise apareceu na porteira, eu fui correndo até ela desesperada praticamente a arranquei do carro, e ela sem entender nada me acompanhou, quando chegamos na sala e eu apontei para o chão escondendo meu rosto com a outra mão, sem coragem para olhar outra vez, Elise me perguntou o que estava acontecendo. Quando tomei coragem para olhar o lugar onde o corpo estava, não havia mais nada ali e a lareira estava acesa e a fumaça saia exatamente por onde devia, eu fiquei atordoada, minha cabeça girava, de súbito eu apaguei. Eli tentava me reanimar e depois de uma hora desmaiada eu finalmente acordei frenética, eu queria que ela acreditasse em mim, no que eu havia visto.

" Eli você tem que acreditar em mim, havia um corpo totalmente congelado preso na chaminé, quando eu tentei ligar o fogo ele caiu, eu juro era aquela mulher dos jornais, ela estava nua e sem os braços, o cabelo raspado e um corte profundo no pescoço, sua cabeça estava praticamente pendurada, eu não sei onde ela foi parar mas ela estava ali."

" Caramba, aquilo realmente mexeu com você não é? Vem vou te levar pra cama, devem ter sido aqueles barulhos de ontem você ficou assustada né."
Ela não acreditava em mim, apenas a acompanhei enternecida. Eli deu-me um calmante e me levou até o sofá onde me sentei ainda estarrecida.
Minutos mais tarde Deixei Elise arrumando a casa peguei o carro e saí sem rumo pelas estradas cobertas de neve daquela cidade.

Eu conduzia distraída sem saber ainda onde queria chegar, só precisava sair daquele lugar sufocante, a imagem da mulher morta não saía de meus pensamentos.
Já caia a noite, quando resolvi regressar a casa, Elise estava em seu quarto com a cara enfiada no famoso exemplar orgulho e preconceito de Jane Austen, e com seus fones de ouvido no último volume, eu passei direto para o banheiro, ansiosa por um banho quente, a neve caia insistente la fora e não havia previsão de melhora no tempo, me aconcheguei embaixo da água quente, depois do banho demorado, enrolada na toalha, parei em frente ao espelho embaçado perdida dentro de mim, tentando desfazer a confusão de nós que embolava minha mente agora, de repente o vapor ficou denso e eu não enxergava mais nada, abri a pequena janela para que ventilasse e o vapor se esvaísse, quando já não havia quase nada de vapor, olhei outra vez para o espelho, ali uma frase escrita me chamou a atenção, " Ele me pegou e agora é sua vez". A torneira da pia do banheiro se abriu sozinha, meu coração disparou, o clima ficou insuportavelmente gelado, corri para fechar a janelinha, mas o ar continuava glacial, comecei a notar um odor pútrido naquele cômodo, abri a porta e fui correndo para o meu quarto me sentei na cama e permaneci ali sem crer no que acabara de acontecer, só podia ser minha mente me pregando peças mais uma vez.

(OI AMORES
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Os Fantasmas De Amely WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora