Primeiro

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    Estava em frente à esteira e torcendo que minha mala não tivesse sido extraviada mais uma vez, ao longo dos meses e de todas as viagens isso tinha acontecido muito mais vezes do que eu gostaria e eu preferia que não acontecesse mais uma vez ju...

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    Estava em frente à esteira e torcendo que minha mala não tivesse sido extraviada mais uma vez, ao longo dos meses e de todas as viagens isso tinha acontecido muito mais vezes do que eu gostaria e eu preferia que não acontecesse mais uma vez justo quando estava voltando pra casa.

    Observei o monte de malas enormes se aproximarem com um sorriso tão grande quanto à mala só de sapatos que eu fazia questão de levar em todas as viagens, sapatos nunca eram demais, não importava a circunstancia. Nem se fosse pra mentir pra todos os seus amigos e se esconder em um retiro que na verdade era uma clinica psicológica por meses minha consciência respondeu com uma voz venenosa.

    Com o passar do tempo, minha terapeuta me ensinou que devemos ter uma boa relação com nós mesmos e nossa consciência o tempo todo por que ela, mais do que ninguém, seria sincera o tempo todo e nunca esconderia nada. Acontece que a minha consciência era sincera até demais.

   Puxei uma das malas com dificuldade e posicionei no carrinho com cuidado, um homem com cerca de trinta e poucos anos. Covinhas e olhos incríveis se ofereceu para colocar o restante pra mim e sorri inocentemente com os olhos piscando. Os músculos flexionados por baixo da camisa e o sorriso perfeito, até a barba escura por fazer conseguia se charmosa. E. sotaque, com certeza britânico, tinha algum jeito melhor de ser recepcionada de volta pra casa do que por um britânico charmoso, com olhos lindos e o sorriso que com certeza deixa qualquer uma sem ar?

    Sorri charmosa e coloquei a mão delicadamente sobre seu ombro, James, genérico pra um britânico? Com certeza, falava sobre me mostrar bares incríveis por toda a cidade e pegava meu numero para que nos encontrássemos para um café ou algum drink essa semana. Senti alguém cutucar meu ombro e me virei tranquilamente.

— Moça, eu acho que essa mala é minha. ­­­­— Um cara alto e aparentemente saído de uma revista de moda adolescente me encarava com uma carranca.

    Fiquei encarando o garoto por alguns segundos, a jaqueta escura pelo menos dois números maiores, o cabelo escuro ondulado combinava com a pele bronzeada, o rosto parecia esculpido como se tivesse sido desenhado por algum artista. 

    Seria lindo se não fosse tão rude, dei de ombros e segurei o carrinho fazendo minha melhor cara de menina mimada e arrogante, costumava funcionar pra espantar os babacas no aeroporto, outro caso que se repetiu mais do que eu gostaria durante minhas paradas em aeroportos.

— Não. — falei lentamente e entediada. — eu tenho certeza que essa mala é minha. — falei analisando a mala de novo. Sim, exatamente a minha mala.

    O garoto suspirou impaciente e cruzou os braços, suavizando sua expressão e sorrindo de um jeito estranho, como se me eu fosse algum tipo de cachorrinho que quisesse fazer carinho na barriga e ensinar truques. Bom, eu não negaria um carinho na barriga vindo dele se esse fosse o caso. E lá estava ela de novo, minha consciência com seu excesso de sinceridade.

Calíope ✶ J.G.Onde histórias criam vida. Descubra agora