Capítulo 16

20 0 0
                                    


-Isso tudo? O club é seu?

-Sim, o club e algumas ações de empresas, tudo meu.

-Caralho, você conseguiu passar por tudo isso e ainda continuar com a vida. Mas então por que você trabalha no bar? Poderia ficar aqui só observando se nada der errado.

-Gosto de colocar a mão na massa. Eu preciso trabalhar, não consigo ficar parado, as vezes acho que faço isso porque não sou digno de tudo que conquistei. Preciso ficar me esforçando mais e mais. A cada momento um club novo abre na cidade, nova concorrência e eu preciso melhorar cada vez mais e mais. Ainda tenho muito em jogo.

-Como?- levantei uma sobrancelha.

-Calma gata, acho que você já sabe demais sobre mim. Acho que agora o assunto terá que ser você. O que aconteceu com você?

-Por que alguma coisa tem que ter acontecido comigo?

-Você, de alguma forma bizarra, quis me conhecer, me entendeu e foi compreensiva. Ou você já passou por alguma merda ou você quer ser algum tipo de psicóloga sei la.

Ninguém nunca quis realmente saber minha história. Quando me mudei e conheci Ana, disse para ela que tinha uma família normal, pais, uma casa e ela aceitou, não que ela fosse uma amiga ruim, ela apenas realmente acreditou em mim, mas ele, ele sabia que alguma coisa já tinha acontecido de errado, pois ele sabia que quando merdas acontecem você ainda fica um pouco na merda.

-Você está tentando jogar algum jogo do tipo 'quem está na pior?'- eu não queria falar sobre minha vida, não que tivesse sido tão ruim, perto da dele era quase um paraíso, mas para mim na época foi ruim, cada um sabe o peso das coisas pelas quais passou, não é por que a vida do outro foi mais difícil, que a sua tenha que ter sido leve por isso. Não existe nesses casos comparativos. É e acabou.

-Não. Só quero que saiba que eu sei. E que se você quiser falar eu estou aqui. Eu nunca tinha feito isso antes, digo, primeiro:  parar um quase sexo que seria incrível, para conversar e segundo, falar sobre minha vida, com uma garota linda e que provavelmente deveria ter a mesma oportunidade de se abrir. Falar também pode deixar as coisas mais fáceis- ele passou uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. 

-Eu tinha um namorado. Nome dele era Dylan. Eu tinha 16 anos e era virgem, para falar a verdade eu não me importava com isso, diferente da maioria das meninas com a minha idade e garotos. 

Um dia fomos em uma festa e ele bebeu bastante e quis transar, ele não era mais virgem, não poderia ficar me "esperando", segundo ele, tinha suas próprias necessidades, quase como se no sexo o prazer fosse apenas direcionado para ele, o homem. Eu não quis e ele por incrível que possa parecer, aceitou isso.

No dia seguinte eu fui para a escola. Ele tinha espalhado para todo mundo a história de como ele tinha tirado minha virgindade e como ele me fez gozar e gritar. Desde desse dia passaram a escrever no meu armário coisas como: puta, vadia, safada, enfim. Eu não me importei. Se era essa fama que ele queria que eu tivesse, era aquela fama que eu iria ter. Mas eu era de uma cidade onde se a vizinha quebra um prato, o bairro todo fica sabendo. Meus pais ficaram sabendo, não aguentaram saber que a filhinha deles era a maior puta, virgem é claro, da cidade, mesmo eu contando a verdade. 

Fizeram de tudo para esconder o que tinha acontecido entre eu e  Dylan. Foi na mesma  época que minha mãe descobriu que meu pai era um garanhão, saia por ai com todo mundo do sexo feminino, até com as amigas dela, mas ninguém espalhava isso, apenas sobre mim, que nem era verdade. Minha mãe me culpou de toda desgraça da família. Vivíamos em uma classe alta, onde todo mundo ia para o club de golfe fingir que sabia jogar e falar de como suas empregadas eram ruins, mas não falavam sobre suas próprias desgraças, apenas de outras pessoas. Era difícil aceitar que alguém dentro de sua própria família era...estragada.

Depois disso prometi para mim mesma que estudaria todos os dias para poder entrar em uma faculdade distante e nunca mais ter que olhar para a cara deles, do Dylan ou do resto daquela cidade.

Harry limpou meu rosto e só assim percebi que estava chorando. 

-São uns idiotas. Sinto muito por tudo isso.

-Não é sua culpa. Nem minha e eu sei disso, uma pena eles pensarem diferente.

Harry me beijou. Nós nos unimos mais uma vez, duas pessoas quebradas e perdidas mas que talvez ainda tivessem um ao outro. Por hora aquilo parecia bastar.



Vou apenas quebrar seu coração Onde histórias criam vida. Descubra agora