004.

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Luhan levantou da cama num sobressalto. Fora descoberto.

"C-claro que disse!" tentou disfarçar, mas seu nervosismo ficou óbvio quando gaguejou.

"Não, eu não disse!" Sehun ficou em pé, desconfiado e atento a qualquer movimento que o outro fizesse. "Que palhaçada é essa?! O que você quer de mim?!"

O garoto alto já tinha ficado nervoso. Estava sozinho e qualquer coisa poderia acontecer agora. Aquele estranho poderia ser perigoso. Imaginou mil coisas, nenhuma delas sendo reconfortante.

"Calma, eu posso explicar" Luhan fez um gesto com as mãos, numa tentativa frustrada de apaziguar.

"Calma o caralho! Fala logo o que você quer!"

Luhan não queria que as coisas tomassem aquele caminho, pois explicaria tudo pro outro mais cedo ou mais tarde. Só queria que tudo fosse resolvido com calma, já que o que estava preste a dizer poderia ser um pouco perturbador aos ouvidos do mais alto. Largou os braços ao lado do corpo, rendendo-se.

"Certo... Hm, não sei como exatamente te explicar isso, então acho melhor mostrar."

Depois que concluiu a sentença, o de cabelos caramelos pôs as mão na barra do blusão que usava, começando a tirá-lo, parecia ter um pouco de dificuldades, e quando a peça finalmente passou pelo pescoço, Sehun engasgou de surpresa e descrença.

Duas asas brancas se abriram das costas de Luhan, enormes, lindas e imponentes, as penas pareciam finas e macias. O espanto foi tamanho que os joelhos do mais altos fraquejaram, fazendo-o cair sentado no chão. Arrastou-se até o canto da parede, meio assustado.

Como ele conseguiu esconder essas coisas enormes?, pensou. Sehun tentou falar alguma coisa, mas estava pasmo demais para conseguir pronunciar qualquer sentença, mas não precisou, pois logo o mais baixo pôs-se a explicar:

"Eu sou um anjo, Sehun. Mais precisamente o seu anjo da guarda" a voz dele saiu tão calma, quase como uma melodia. "E eu vim te buscar."

"B-buscar? Pra onde quer me levar?"

"Você está morto, Sehun" Luhan parecia um pouco melancólico, quase triste.

Aquele que tinha os cabelos descoloridos riu, mas riu mesmo, de escárnio e ironia.

"Já chega! Você invade meu quarto e começa a falar essas besteiras! Acha que eu tenho cara de idiota?! Fale algo que tenha sentido antes que eu te dê uma surra!"

Sehun já tinha atingido seu limite, não acreditara em nenhuma palavra que o outro proferira. Levantou-se e cerrou os punhos, pronto para bater caso precisasse.

"Eu não estou brincando, Sehun" o mais baixo ficou sério. "Na noite em que saiu de casa, você pegou uma carona na beira da estrada, certo?"

O outro nada respondeu. Como Luhan sabia disso? Preferiu ficar calado, para não dar nenhuma brecha.

Vendo que Sehun iria se manter calado, continuou:

"Enfim, os donos do carro eram na realidade ladrões que faziam suas vítimas nas estradas, porque lá não tem muitos policiais. Eles tentaram roubar seu dinheiro, mas você se defendeu e acabou levando uma surra. Eles te deixaram no meio do nada e você acabou tendo uma hemorragia interna por causa dos ferimentos e pancadas. Foi encontrado um dia depois... morto."

A última palavra fora pronunciada com um pesar, pois Luhan se sentia triste por seu protegido. Sabia que o outro buscava por uma vida melhor, mas por uma fatalidade, não pôde concluir seu objetivo.

"Eu não lembro de nada..." o mais alto disse baixinho, mas por algum motivo aquela história não parecia uma mentira completa. Lembrava-se de ter pego uma carona, mas o resto é como se fosse um borrão, como se faltasse uma parte de suas lembranças. E depois sabia que tinha percorrido o resto do caminho a pé, mas o que aconteceu nesse meio tempo? Tentou forçar sua mente a lembrar, mas simplesmente não conseguia.

"Você não lembra porque sua memória foi apagada. Ia ser muito doloroso lembrar do que aconteceu, sabe? E este lugar" abriu os braços num gesto amplo "é sua passagem para o pós-vida. Essa cidade é o único lugar onde você pode me ver, para que eu converse com você e te leve ao seu destino final. Todo mundo tem suas próprias versões alternativas dessa cidade, mas esta é somente sua."

Sehun já não estava nervoso, com raiva ou irritado. Pelo contrário, ele se sentia em paz, quase entorpecido.

"E... o que acontece agora?" a voz do loiro saiu mais fraca do que queria.

Luhan fechou suas asas, mas elas eram grandes demais para serem cobertas por seu corpo pequeno.

"Você precisa confiar em mim."

O anjo estendeu a mão, e os segundos seguintes pareceram se arrastar como éons para Sehun.

Estava morto.

O que deveria ter pensar sobre isso?

A morte era a única certeza que todos têm. Houve um começo e haverá um final. Sehun sentia medo? Não, muito pelo contrário. Sentia-se acolhido, um descanço bem-vindo depois de anos de amargura. Talvez fosse pela expressão hospitaleira do seu anjo da guarda, ou talvez fosse por agora saber que tudo ia terminar, mas seu peito foi tomado por uma grande alegria.

Pegou na mão de Luhan.

Oh Sehun estava finalmente livre.

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quarto 04 || hunhanOnde histórias criam vida. Descubra agora