Reino do Cosmos

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Quem sou eu, quem és tu,

No Reino do Cosmos?

Quem é o pai, quem é a mãe,

No grande Reino do Cosmos?


Trabalhar de Sol a Sol,

Morrer para dar de comer,

Vender o corpo para sobreviver,

Chorar, chorar por não se ter.


Não somos nada,

Não temos nada,

Nunca seremos mais, nem nunca teremos mais

Do que a vida que Deus nos deu.


Torres de ouro que se erguem,

Cúpulas de marfim que brilham,

Pilares de mármore que sustentam,

O Trono do Rei do grande Reino do Cosmos.


Não sonhes, o soldado descobre e mata-te.

Não queiras, a vida nunca to dará.

Não desejes, será como uma auto-facada.

Não fales, ninguém realmente ouvirá.


Rios de prata que correm,

Gentes de seda que cantam,

Mocidades ingénuas que seguem,

O grande Rei do Reino do Cosmos.


E porque não sou nada,

E porque nunca serei nada,

A não ser a vida que Deus me deu,

Sento-me à beira rio e olho

A prata escorrer, o cantar das gentes ricas,

O brilhar das cúpulas perfeitas, a procissão do Rei

E depois afogo-me em mágoa

Afogo-me no mar de dor que contive

E que libertei num último suspiro.

Nada tenho a não ser esta vida,

Mas recuso-a, não a quero,

Nunca a quererei.

O negro pacifico sempre foi mais apelativo

Que este Reino do Cosmos.

-JM


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