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O restante do horario passa tumultuado, com garotas, e pessoas mais velhas entrando e saindo da padaria, só pra me ver, foi um pouco constrangedor, já que não é um programa tão grande quanto o The X Factor.
– Harry querido, já deu seu horario, pode ir embora — Diz Lina com um sorriso orgulhoso estampado no rosto.
– Tudo bem, ja vou então. — Passo do balcão ate a porta dos fundos e pinduro meu avental. — Até sabado que vem. — Sorrio e aceno pras senhoras que trabalham comigo. Só trabalho aos sabados, que é o dia em que mais tem movimento na padaria.
Volto o mais rapido que posso pra casa.
– Ei Harry. — Uma garota, que não sei quem é me para na rua.
– Hm...Oi — Ela se aproxima de mim e fica nas pontas dos pés e beija meu rosto, ela é bonita, cabelos escuros, olhos escuros, labios finos, um corpo bem desenhado, e pequena.
– Não lembra de mim ? — Ela sorri timidamente.
– Desculpa...não lembro — Dou um risinho.
– Sou a Vitoria, sua vizinha. — Ela enrola os dedos no cabelo comprido.
Claro, me lembro dela, ela sempre falava merda de mim pra todo mundo, odeio ela, sua beleza se torna nada agora que me recordo quem ela é.
– Ah sim Vitoria. — Reviro os olhos.
– Qual é Harry, ainda ta bravo comigo ? — Ela me lança um sorriso sarcastico.
– A não sei  talvez eu ainda esteja puto, porque dei um fora em você, e você foi inventa pra minha mãe que eu usava maconha..Hm deixa eu pensar..É to bravo com você. — Saio andando pisando duro, não acredito que ela veio falar comigo depois de anos, na maior cara de pau, depois do que ela fez comigo.
– Isso já passou Harry, a gente ta diferente agora — Ela arqueia uma sombrancelha e me lança o sorriso mais sinico que ja vi.
– Pra mim não passou, alias, por que ta falando comigo ? — Detenho meus passos e me viro pra olhar pra ela e ela acaba batendo a cara no meu peito.
– Eu só queria que a gente voltasse a ser amigos — Ela da outro risinho falso.
– Me esquece Vitoria. Tchau.
– Você ainda vai implorar pela minha amizade — Ela berra atraz de mim.
Mal posso esperar pra chegar dia 15 logo, faltam só 4 dias. Acelero o passo, e logo estou em casa.
– Mãe cheguei — Grito enquanto fecho a porta da sala.
– Sua mãe não ta muito bem cara. — Ryan diz assim que encontro com ele na cozinha.
– O que ela tem ? — Pego o pacote de bolacha das mãos dele e saio andando pro quarto e ele vem atraz.
– Não sei, depois que ela te ligou, ela disse que ia deitar, por que não estava se sentindo bem...Essa bolacha é minha cuzão. — Ele me empurra.
– Vou falar com ela, ja volto — Saio do meu quarto, e vou em direção ao quarto dela. — Mãe ? — Chamo baixinho, tateando a parede para achar o interruptor.
Acendo a luz, e não encontro ela na cama.
– Mãe, cadê você ? — Chamo mais alto.
– To no banheiro querido. — Ouço sua voz fraca vinda do corredor.
Saio em disparada pra lá, bato a mão da massaneta e empurro a porta, encontro ela com a cabeça enfiada dentro do vaso, vomitando, sentada no chão frio.
– Mãe, o que você tem ? — Entro no banheiro apertado, e me sento ao seu lado, me rescostando na coluna da pia, junto seus cabelos e os seguros enquanto ela faz força para vomitar mais.
Quando ela consegue por fim parar, ela ergue a cabeça, seu rosto está totalmente palido.
– Deve ter sido a bebida. — Ela me lança um sorriso amarelo.
– Não mente pra mim mãe, você odeia tudo que contem alcool. — Repreendo ela, por querer tentar mentir pra mim.
– Não enche garoto — Ela revira os olhos na tentativa de parecer dura comigo, mas ela falha miseravelmente quando vejo um sorrisinho fraco no canto da sua boca. — Me ajuda a levantar. — Ela força os braços em minhas pernas, forço minhas perna a ficarem em pé, e seguro seu braço para fazer ela ficar em pé.
– Vou comprar minha roupa do baile, e algumas coisas pra levar pro programa essa semana. Quer que eu traga alguma coisa ? — Acompanho ela, até o quarto, e a coloco na cama.
– Não querido, você precisa de mais dinheiro ? — Ela deita na cama, e puxa as cobertas até o pescoço.
– Acho que não mãe, tenho um pouco que guardei, acho que é suficiente. — Digo enquanto pego as roupas dela jogadas no chão.
– Tem dinheiro ali naquela gaveta, pega, caso não dê o que você tem — Sua voz está mais fraca agora.
– Vou usar o carro.
– Uhum — Ouço sua voz num sussurro. Olho pra ela e vejo que ela já dormiu, seu rosto está palido, e seus labios cortados. Abro a gaveta e pego 200 libras. Saio de fininho do quarto, apago a luz e fecho a porta.
– Ela não ta nada bem — Passo a a mão na nuca e solto o corpo em cima do sofá.
– Deve ser alguma coisa que ela comeu. — Ele me olha com um ar preocupado tambem.
– Bom, mais enfim, vamos la compra essas roupas logo. — Dou um tapa no braço do sofá e me levanto.
– Isso, vamo lá. — Ele começa a colocar o tenis, enquanto procuro a chave do carro.
Saimos de casa lá pelas três da tarde.
– Já sabe qual loja vamos ? — Ryan pergunta, puchando o cinto de segurança.
– Não sei ainda, o que acha daquela Wearing ? — Viro a chave na ingnição do carro, e acelero.
– Pode ser, é perto daqui mesmo. — Ele da de ombros e olha pela janela. — Cara o que você vai fazer com o restante das aulas ? — Ele me olha intrigado.
– Não sei, na verdade não tem o que fazer, as aulas praticamente acabaram, então eu simplesmente não vou. — Não tinha pensado nisso até agora, o centro de Londres fica a 1 hora daqui, mas não vou ficar indo e voltando toda vez que tiver uma audição, se eu passar da primeira.
– Oh anta, presta atenção no transito, você perdeu a entrada da loja. — Ele bate no meu braço e ri. — Onde você ta com a cabeça ? — Ele ri de novo e tira alguma coisa do bolso.
– Não sei, to preocupado com a minha mãe, nervoso com a audição — Digo, e pego a segunda entrada pra voltar a loja.
– Relaxa cara sua mãe vai ficar boa — Ele revira os olhos perto da minha preocupação absurda.
– Tem um mês mais ou menos ela estava assim tambem, ai ela foi no hospital, mas não quis me contar o que era — Tamborilo os dedos no volante pensativo.
– Não deve ser nada demais — Ele comenta.
Estaciono o carro na vaga em frente a loja, descemos do carro e paramos em frentes as vitrines, ternos de todos os tipo estão expostos ali. Para nossa sorte, a loja está totalmente vazia, o que facilita a nossa escolha. Assim que abrimos a porta uma sineta toca, e do nada surge uma moça na nossa frente, vestindo o uniforme horrivel da loja.
– Posso ajuda-los ? — Uma loira, não muito alta, de olhos azuis, e pele clara, com um corpo bem esculturado nos atende.
– Você é linda, mais esse uniforme — Torço a cara num meio sorriso. Quem usa esse uniforme laranja horrivel com o nome da loja bordado em verde limão no bolso, com um lenço no pescoço ? É horrivel.
– Nós queremos ver alguns ternos para o baile da escola. — Ryan diz na hora certa, para quebrar o constrangimento da garota, cujo o nome é Ayla, se vi direito no crachá.
– Certo, venham comigo — Ela sorri e sai andando no interior da loja enorme, cheias de araras com calças, camisas, e mais um monte de coisas que não sei pra que servem.
– Precisava falar aquilo pra garota ? — Ele comenta num sussuro pra mim.
– Só falei a verdade. — Dou risada, e ele revira os olhos.
– Tenho esses modelos aqui meninos, e outros do outro lado da loja. Fiquem a vontade para experimentar. Os provadores ficam subindo essa escada a direita. — Ela da um meio sorriso envergonhado e sai.
– Certo, como vou saber o tamanho disso ? — Pergunto meio confuso.
– Não faço a menor idéia. Olha dentro, tem uma etiqueta com o tamanho. — Ele enfia a mão dentro do terno e vê o tamanho na etiqueta.
Começo a fazer o mesmo, em geral não tem muito o que escolher, todos são iguais, a unica coisa que muda, são os detalhes, lenço no bolso, ou no lugar do lenço uma rosinha, é meio esquisito, tenho que concordar.
– Achei dois do meu tamanho, um com o lenço azul e outro com uma rosa amarela. Qual dos dois ? — Pergunto erguendo os dois um em cada mão.
– Experimenta esse do lenço azul. — Ele aponta.
Subo as escadas, e viro a direita dou de cara na porta sem querer, até olhos pros lados, pra ver se ninguem viu, e dou risada de mim mesmo. Entro no ultimo box, no fim do corredor pequeno. Penduro o terno no cabideiro, sento no puf que tem ali dentro e tiro as botas, coloco elas no canto, desço a calça pelas pernas, jogo em cima do puf e acrecento ali minha camiseta.
Subo a calça social pelas pernas, e ajeito ela na cintura, ficou certinha. Coloco a camisa braca, e me atrapalho um pouco com os botões na hora de fechar. Até tento colocar a gravata, mais não sei dar nó nisso, então jogo o blazer por cima e fecho um unico botão e ajeito ele no corpo. Ficou legal. Me olho varias vezes no espelho pra ver se gostei mesmo, viro de costas pro espelho, viro de lado, de frente. Vai ser esse.
– Pronto Harry ? Que demora ! — Ryan reclama do lado de fora.
Saio do box usando o terno, coloco as mãos no bolso e "desfilo" no corredor pequeno de provadores, quando chego a porta e me viro pra voltar, dou de cara com Ayla, e pra completa a zuera, Ryan está gritando "HARRY LINDO, ARRASA".
Não consigo evitar e caio na risada, Ayla também, volto correndo pro box pra me trocar.
– Fico com vergonha foi Harry ? — Ryan esmurra a porta, e gargalha do lado de fora.
– Não fiquei com vergonha idiota — Abafo a risada dentro do box.
Saio do box terminando de ajeitar a camiseta no corpo, com o terno jogado no ombro, vai ser esse mesmo, não gosto dessa coisa de experiementar um porre de roupas pra escolher uma só.
– Já escolheu o seu ? — Pergunto descendo as escadas.
– Já.
– Certo, preciso comprar algumas coisas pra levar pro programa na semana que vem. — Aviso.
Passamos no caixa, onde a mulher guarda os ternos em sacolas, e me manda pagar no caixa da frente.
– 175 libras — A moça do caixa diz monotonamente.
Entrego a ela 200 libras, e aguardo enquanto ela faz umas caras de bunda pra mim e pro Ryan. Pego a sacola e saio da loja.
Jogo a sacola no banco traseiro, e dou partida no carro.
– Ryan — Digo saindo da vaga com o carro.
– Que foi ? — Ele responde olhando pra mim.
– Você vai comigo ao programa ? — Pergunto.
– Se você quiser eu vou ! — Sinto um tom diferente na sua voz, mas não consigo distinguir o que é, alivio, felicidade, não sei. — E como vai ser ? Tipo você vai e fica lá, em algum lugar que eles dão pra você ficar, ou você arruma um lugar pra ficar ? — Ele questiona um tanto curioso.
– Não sei também, não falaram nada até agora — Percebo que estou meio ansioso demais, só quando vejo que estou apertando demais o volante.
Estaciono em frente a loja Clothes. Ryan não entra comigo, mas acabo me apresando em pegar algumas camisetas novas, pego algumas azuis escuras, e algumas pretas, pego tambem duas calças jeans preta. Como sei o tamanho, acabo pegando tudo rapido, e vou direto ao caixa pagar.
– Você pode me deixar em casa ? — Ryan pergunta assim que entro no carro e jogo as sacolas no banco traseiro do carro.
– Claro — Dou partida no carro e saio.
Para quebrar o silencio, ligo o radio, e o som do The Chainsmokers, Closer, toma conta do carro. 15 minutos depois estou deixando ele na casa dele, e volto embora.
A caminho de casa, penso em muita coisa, no final das aulas, no programa, na minha mãe, nos meus amigos, o que vou fazer no futuro. Com esses pensamentos barulhentos aumento o som do carro e canto ao som de Linkin Park, In the End.
Estaciono o carro na garagem, pego as sacolas e entro em casa. Deixo as sacolas no meu quarto e vou ver minha mãe.
– Mãe — Sussurro no quarto antes de acender a luz. Mas quando eu acendo, sinto o sangue sair das veias, e começo a gritar. — Mãe, acorda. Por favor Mãe — Encontro ela caida no chão desmaiada, eu entro em panico, e a primeira coisa que faço, é carregar ela no colo até o carro para leva-lá ao hospital.
Pego ela de um modo desajeitado, e saio praticamente correndo pela casa com ela em meus braços, consigo fazer um esforço e abrir a porta da sala, e a fecho com uma porrada, corro até o carro e coloco ela no banco traseiro, saio com o carro a mil da garagem e vou rumo ao hospital.
Atravesso sinais vermelhos, não dou importancia aos radares. Chego ao hospital o mais rapido que consigo, pego ela em meus braços outra vez, e entro no hospital pedindo ajuda.
– Me ajuda por favor, ela está desmaiada — Minha voz sai euforica e cheia de panico.
O mais rapido dois enfermeiros pegam uma maca e eu deito ela ali, eles entram com ela para dentro, e eu fico ali parado, porque não posso entrar.
Passam dez, vinte, trinta, quarenta minutos e ainda não sei o que houve com ela. Estou tão nervoso que estou andando de um lado pro outro na sala de espera.
– Moço — Alguém cutuca meu ombro, e me viro num sobresalto. — Desculpa, mas aquele Range Rover branca ali na porta é sua ? — Uma senhora baixinha de cabelos grisalhos pergunta.
– Sim, é meu — Falo depressa.
– Você poderia tira-lo dali ? Atrapalha a entrada no hospital. — Ela diz toda sem graça.
– Claro, claro. Me desculpa — Forço um sorriso e vou ate o carro.
Na hora do nervosismo nem vi aonde entrei com o carro. Estaciono ele do outro lado da rua, e volto correndo pra dentro do hospital.
Uma hora se passou e não sei nada ainda sobre ela. Então resolvo sentar, e acabo reparando no lugar.
A recepção é bem de frente com a porta, e dos lados tem alguns bancos de madeira, e do lado esquerdo um corredor enorme que leva as salas e quartos.
– Harry ? — Dou um pulo do banco e vou na direção do enfermeiro.
– Sou eu.
– Sua mãe quer te ver, pode me acompanhar — Ele se vira e eai andando apressado, e abre a porta de um dos primeiros quartos do corredor.
– Mãe ? — Ela me olha e meu coração se aperta, varios aparelhos estão ligados a ela.
– Harry — Sua voz sai sussurrada.
– Como você se sente ? — Pergunto me aproximando dela, pegando sua mão fria na minha.
– Estou cansada — Ela sorri.
– Então descançe — Dou um beijo na sua testa, e ela fecha os olhos.
Sem soltar sua mão, sento em uma poltrona branca de couro, ao lado da cama. Fico observando ela por um longo tempo.
– Então você é o Harry. — Um cara todo de branco com uma prancheta na mão entra no quarto, e caminha em direção aos aparelhos, ele anota algumas coisas na pranchetas e olha pra mim.
– Sim, sou eu — Digo ficando em pé e estendendo a mão ao cara que suponho ser o médico.
– Vamos ali fora conversar um pouco Harry ? — Ele abre a porta do quarto e indica com a cabeça o corredor.
Saio do quarto e me encosto na parede esperando ele começar a falar.
– Certo Harry, sua mãe está muito fraca, ela está com uma virose, mas ela vai ter que ficar internada hoje pra fazer alguns exames. — Ele diz sem ao menos olhar pra mim.
– Nunca vi ninguem ficar internado por causa de uma virose. — Digo num tom esquisito. Ele me olha meio assustado ? Percebo pelo olhos dele que não é só isso, mas não vou questionar.
– Não importa o que você sabe ou não, ela vai ficar internada pra fazer exames e pronto — Sua voz está carregada de uma raiva contida, e antes que eu possa responder, ele sai andando.
Volto a entrar no quarto, e me sento na poltrona. Observo minha mãe por um longo tempo, sua pele está palida, os cabelos bagunçados, os labios rachados, nunca vi ela tão doente antes.
– Harry querido — Seus olhos se abrem lentamente.
– Estou aqui — Seguro sua mão outra vez. — O médico disse que você vai ficar internada hoje. — Seus olhos se abrem, meio assustados.
– O que mais ele disse ? — Sua voz fraca sai um pouco aguda.
– Que você está com uma virose, e precisa fazer alguns exames. — Seu corpo parece relaxar, e os olhos suavizam outra vez.
– Certo querido, que horas são ? — Ela pergunta. Não tinha parado pra pensar em horario até agora. Encosto meu corpo na poltrona e estico a perna, pra poder tirar o celular do bolso da calça.
– São 19:00 horas agora. — Guardo de volta o celular.
– Voce precisa ir pra casa querido.
– Não vou sair daqui sem você. — Esbravejo.
– Você não pode ficar, você é de menor Harry. — Sua voz fraca sai suave.
– Mas...— Estou pronto pra insistir, quando aquele médico entra no quarto.
– Como está minha paciente preferida ? — Ele pergunta com uma voz melosa e irritante.
– Ah Dr. Cole — Minha mãe sorri timidamente.
– Certo Harry, pode ir pra casa, você não pode ficar aqui a noite inteira, pode ir pra casa. — Fecho a cara pra ele, e ele sorri pra mim. Falso.
– Se precisar de alguma coisa você me liga mãe ? — Seguro a mão dela, e dou um beijo em sua testa.
– Sim querido. Eu te amo. — Ela sorri.
– Eu tambem te amo. — Passo pelo médico e fecho a cara outra vez, não gosto dele.
Fecho a porta atrás de mim, e ouço os dois conversarem.
– Você não contou pra ele ? — O médico pergunta.
– Vou contar Luis, vou contar, mas não agora. — Sua voz fica fraca cada vez mais.
O que será que ela não me contou ?
Me faço essa pergunta varias vezes no caminho pra casa.

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