O relógio marca 6:30 da manhã. Sim, eu ainda não consegui dormir. Pensamentos sobre o futuro, sobre quem sou e sobre quem eu poderia ser invadiram minha cabeça durante a noite toda, impedindo que eu pregasse o olho uma vez sequer.
Resolvo sair da cama assim que olho para a janela, vendo a cidade acordar aos poucos. Hoje está um dia razoavelmente bom, nem tão frio nem tão calor. Me encaminhei para o closet, peguei um dos cabides organizados com looks práticos, escolhi um all star branco e corri para o banheiro. Joguei minha roupa no chão e entrei no chuveiro. Oh, era disso que eu estava precisando. A água quente me acolheu, percorrendo todo o meu corpo e trazendo uma sensação de relaxamento instantânea.
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Arrumei minha blusa curta de mangas longas rosa pastel para não mostrar tanto da minha barriga, dobrei as barras da calça jeans clara que eu vestia, amarrei meus cadarços e me olhei no espelho. Meu visual completo estava bom. Tentei domar o que eu chamo de cabelo, mas todas as minhas tentativas foram fracassadas. Resolvi deixar solto do mesmo que sempre uso. Peguei uma jaqueta, meu livro favorito e me dirigi para o mesmo lugar de sempre: o jardim da minha cidade. É quase como se fosse o coração de toda essa agitação. O local mais calmo que eu conhecia, e que passei a frequentar para fazer uma das coisas que eu mais amo: ler.
Já era a vigésima oitava vez que eu me sentava embaixo da mesma árvore, dobrava minhas pernas e começava a ler por horas e horas, numa tentativa de amenizar o que acontecia a minha volta.
Ouvi um barulho familiar, como pequenas rodas correndo e fazendo atrito contra a pequena calçada que fazia a volta e passava por dentro do jardim.
Olhei para trás e lá estava ele, o mesmo garoto atrasado de sempre. Todos os dias que bom para ler, ele sempre passava quase voando atrasado (porém nunca caiu do seu fiel skate). Hoje, diferentemente, ele estava mais calmo. Não era nem o horário que ele passava. Revirei meus olhos quase elegantemente e voltei minha atenção para o livro.
Mesmo que eu quisesse, eu não conseguia prestar atenção no livro. Eu sentia que ele me observava, então decidi fazer um joguinho. Fechei meu livro, joguei meus cabelos para trás e o encarei. Ele me olhava admirado, como uma criança olhando uma vitrine de doces ou brinquedos. Dei uma risada ao ver sua expressão, o que o fez acordar de seu "transe". Seus pés pousaram novamente no skate e ele voltou ao seu caminho, mas ainda olhava de vez em vez para a minha direção. Seu lábio se ergueu em um sorrisinho, e então o garoto do skate foi embora.
