Feia. Deprimida. Humilhada. São as palavras certas para definir a situação que me encontro. Estou com sobrancelhas enormes e segundo minha mãe, parecem de lobisomem. Tenho até vergonha de olhar para baixo e ficar diante de pernas cabeludas no maior estilo "Tony Ramos". Os fios ruivos, saudáveis e brilhantes que um dia pertenceram a mim, agora são ressecados e com enormes pontas duplas. As unhas, antes pintadas de um vermelho rubi, se tornaram descascadas, sujas, com cutículas pontudas e grandes. A essa altura, acredito que pelo tamanho que estão, podem servir muito bem como uma arma de calibre e tudo.
O jeans tão amado que um dia foi a peça de roupa que mais usava, agora não passa mais do meu joelho. Isso porque do tamanho 40 passei para o 44 em questão de semanas. Porém nem por isso deixo de ir à loja da Cacau Show, a fim de comprar mais chocolates trufados para acalmar o estado psicológico; e como se não bastasse estar me sentindo a pior das mulheres, eis que um garoto sardento, de uns oito anos, trata de frisar isso. Quando me dirijo ao caixa para pagar os bombons, o menino puxa a blusa da sua mãe e fala nitidamente apontando para mim:
─ Mamãe, mamãe, aquela tia não parece com aquele bichinho do desenho animado?
─ Lucas, aqui não. Que mania você tem de comparar as pessoas com animais!
─ Mas... ela não parece com a baleia Free Willy?
Quero um buraco para me enfiar inteira lá dentro e só sair em 2069. Se tem uma coisa que todo mundo repara, é esse lance de estar acima do peso. Você faz tudo de bom na sua vida: graduação, pós-graduação, viaja para o exterior, casa, tem filhos, porém ninguém liga. Engorda para vê! É capaz de sair uma chamada no "Jornal Nacional" falando das suas gordurinhas.
Olho no relógio de pulso e é exatamente meio dia. Vou em sentido ao estacionamento do shopping e destravo o meu automóvel. Encosto minha cabeça por alguns segundos na poltrona e dou a marcha saindo dali. Durante o percurso, reflito sobre os últimos acontecimentos da minha vida.
Hoje, completaria um ano de namoro com o Edu. É por isso que não estou nada bem. Vocês não têm noção como me dói compreender que não demos certo. Sabe, parecia que estava escrito nas estrelas, nas nuvens e nos tarôs ciganos. Edu era uma cara com um rostinho de menino, loiro, de olhos azuis, não tinha muitos músculos, porém seu corpo era o suficiente para mim e a minha mente pecaminosa. Dotado de gentilezas, romantismos e inteligência. É claro que seria impossível não se apaixonar por ele.
Tudo daria certo no nosso relacionamento se o "Edu" não tivesse me chifrado com uma das minhas melhores amigas: Michele Bigodinho.
Chamava-a assim, pois ela nunca depilou seu buço. Mari, minha amiga louca, diz que é para ela ganhar mais dinheiro como mulher barbada no circo.
O que não entendo é um cara como o Eduardo, me troca pela aquela ... aquela ... pessoa.
Eu era:
Linda.
Culta.
Inteligente.
Ela era:
Horrorosa.
Bigoduda.
Sem outro adjetivo.
Pois é, amiga leitora, acho que ficaria mais tranquila se o cara tivesse me trocado por alguém melhor do que eu, não pior. Isso me faz questionar: o que diabos fiz de errado?
E é por isso que ando comendo demais. Minha autoestima está lá embaixo; se encontra em alguma profundeza perdida por aí. O chocolate tem sido meu fiel companheiro. Sabe como é, algumas pessoas quando ficam deprimidas usam drogas, bebem, vão para balada, já eu ... como chocolates.
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Isso só acontece comigo
ChickLitPLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA! TODOS OS DIREITOS RESERVADOS! Sinopse: Cléo tem um histórico ruim para relacionamento. A garota já se envolveu com os mais nocivos namoros que você pode imaginar. O último pé na bunda, mexeu com todo o seu psicológic...