No mercy

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O verdadeiro heroísmo está em transformar os desejos em realidades, e as idéias em feitos.

Alfonso Rodríguez Castelao


Namjoon seguia pela rua parcamente iluminada com Jin o puxando pelo pulso. Seu olho esquerdo latejava e àquela altura já começara a ficar roxo. O corte no supercílio ardia tanto quanto o do lábio inferior. Sua calça jeans estava suja, assim como a jaqueta de couro e a camiseta preta debaixo dela, por ter sido jogado no chão molhado. Jin ficou o caminho inteiro em silêncio e não olhou para trás uma única vez. Namjoon chegou a pensar que ele estivesse chorando, mas a força com que ele o segurava mostrava sua determinação em afastá-lo o máximo possível daquele lugar.

Quando chegaram em frente a um pequeno prédio residencial, Jin continuou puxando-o escada acima só parando no terceiro andar. O mais velho puxou as chaves do bolso indo em direção ao apartamento de número 1204, abriu a porta e entrou sem acender as luzes, empurrando Namjoon no pequeno sofá da sala, que o perdeu de vista por uns instantes até ele voltar com um pequeno estojo de primeiros socorros. Tentou protestar, mas com o olhar que recebeu achou melhor ficar calado.

Jin sentou-se ao seu lado, abriu o estojo, pegou um pedaço de algodão e o umedeceu com antisséptico para começar a limpar suas feridas. Suas mãos tremiam, mesmo que sua expressão fosse impassível. Namjoon sabia que falar com ele naquele momento seria impossível, então apenas esperou calado enquanto recebia seus cuidados.

O apartamento era pequeno, mas muito bem arrumado. A sala não tinha nada além do sofá, uma mesa pequena e duas cadeiras com um vaso de flores simples em cima, uma cômoda servindo como estante para uma televisão pequena de modelo antigo (e para uma pilha de livros de tamanhos variados) e um tapete grande que cobria praticamente todo o chão. Estava um pouco puído, mas ainda dava pra ver os detalhes da estampa ornamentada. Nunca tinha entrado ali desde que ele havia se mudado recentemente para aquele bairro.

Provavelmente Jin faria mais um dos seus discursos sobre o quanto estava desperdiçando sua vida agindo daquela forma. Mas as coisas nunca foram fáceis e desde pequeno já sabia que não teria muitas escolhas certas a fazer. Sua casa deplorável num bairro mesquinho no subúrbio de Seul o lembrava constantemente disso. Seu pai era um bêbado violento que batia em sua mãe sempre que tinha vontade. Ele nunca pôde entender porque ela ficou com ele tantos anos.

Talvez fosse a fome. Ele podia ser a pessoa mais desprezível que conheciam, mas sempre trazia um pouco de comida para casa no fim do dia. Sua mãe não podia andar direito e usava muletas, por isso não conseguia arrumar emprego. Namjoon não frequentava a escola porque não havia dinheiro para comprar os materiais. Até perguntou a seu pai uma vez se podia ir, mas ele lhe deu um tapa no rosto e mandou escolher entre escola e a comida.

Sua mãe ainda conseguiu o ensinar o pouco que sabia, mas aos dez anos quando estava velho demais para entrar na escola primária, descobriu um modo mais fácil de conseguir comida. Os pequenos furtos rendiam dinheiro suficiente para comprar algo além do arroz que seu pai trazia.

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