Capítulo único

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Eu não tinha noção de onde havia jogado o controle de minha luz. Foi por isso que me aventurei, buscando pela porta do banheiro e pisando em todas as coisas que estavam no chão. Lembrei da existência do meu celular só quando em pisei em meu gato, Yang. A bola de pelos não gostou de minha ousadia ao fazê-lo de pantufa.

A verdade era que sim, eu odiava aquele apartamento também como odiava a cidade nova. Quem fazia luzes com controle remoto? Alô? Aonde estava o comando por presença ou palmas quando inventaram uma porra inútil dessas? Ao alcançar o interruptor, a luz me pareceu forte demais. Minha cabeça doía e eu sabia que não era só por aquele pedaço do sol que haviam enfiado naquele quarto.

Meu nome é Robyn Stasey. Meu pai era um ator hollywoodiano bem famoso e com uma conta bancaria altíssima. Era. Isso mesmo que você leu. Papai morreu há seis meses e com sua morte, uma série de problemas acabaram vindo junto. Meus irmãos e eu, que até então éramos sustentados por ele, não tínhamos nada no bolso. Nem um misero centavo. Com sua morte, todas nossas contas, cartões e até mesmo a poupança, viraram um nada. O motivo? No seu testamento, havia bem claro e gritante que só receberíamos nossa herança quando apresentássemos um diploma. O problema maior diante disso tudo era que: eu estava na porcaria do SEXTO SEMESTRE. Ainda falta um aninho INTEIRO para que eu possa olhar o dinheiro e ser feliz. Mas Robyn, porque não trabalhar e ter seu próprio dinheiro? 

Vocês acham que eu consegui um apartamento como? Não posso vender meus irmãos, minha mãe não deixou.

Temos uma festa. Você foi convocada.

Era o que a mensagem dizia. Austin era meu namorado e o destinatário. Graças a ele eu tinha me mudado para Indianopolis. Não que eu realmente tivesse escolha. Ah, espera, na verdade eu tive sim. O problema é: eu não gostava do lugar. Minha transferência tinha saído perfeitamente bem e a faculdade era legal. Mas eu sentia falta de casa, sentia falta de Los Angeles e de minha faculdade lá. Meus amigos tinham sido deixados para trás, minha família e também meu namorado. Por incrível que pareça, Austin não morava na mesma cidade que eu. Ele havia conseguido o emprego necessário para eu fazer um puta trabalho que valeria pelo menos uma incrível carta de recomendação e... E... Pontos a mais num trabalho que eu podia usar no futuro.

Acho que só isso mesmo.

Me arrumei bem rápido porque eu não queria mesmo ir para aquela festa. Dirigi até o lugar que Austin tinha mandado e dei a identificação na entrada de um condomínio fechado. O local era enorme e em cada casa, cabiam 987 da minha. A casa era a última da grande fileira de casas.

Tinha uma faixa enorme falando algo sobre um campeonato. Soltei os cabelos e entrei na casa, me sentindo uma formiga. Não porque eu era pequena, mas porque todos eram extremamente grandes. Dois homens estavam mais afastados jogando videogame e eu avistei meu namorado bebendo algo. Fui ao seu encontro com um sorriso bem falso no rosto.

– Eu tinha acabado de chegar da faculdade. – Disse para ele com um meio sorriso no rosto.

– Uma festinha só? – Ignorei o fato de ser quinta. Eu nunca tinha meu namorado comigo, era sempre bom aproveitar momentos como esses. Eu preferia quando eles eram aproveitados no meu quarto, mas o mundo não girava ao redor de minhas vontades – Eu arranjei o cara certo para o seu trabalho. – Austin se separou de mim sem ao menos me dar um beijinho e eu soltei um longo suspiro. Estavam sendo dias difíceis.

Sentei na bancada e sorri para um jogador ou outro. Tinha entendido naquele momento: aquilo era uma festa de comemoração para o jogo do Uttah Jazz. Ele já havia comentando algo do gênero comigo, mas não algo que eu lembrasse.

– Rob! – Virei o rosto em direção a voz que me chama e sorrio de lado ao ver meu namorado com um cara que era tão alto que eu levantei o rosto para poder enxergar ele. – Esse é o Gordon! Ele é o ala do campo.

– Ei! Eu soube que o Houston está querendo roubar você. – Cumprimentei o homem, levantando e fingindo animação – Eu sou a Robyn, aliás. – Estendi a mão em sua direção – Você é a estrelinha da Butler University.

– Eu comecei a jogar por causa da universidade, acho que devo um pouco a ela. – Ele coçou a cabeça de forma adorável e eu notei a vergonha em sua voz – Austin me contou que você vai se especializar na área esportiva.

– Eu gosto de esportes. – Dou de ombros – Austin fica falando de mim? – Perguntei ao meu namorado, que já estava bem longe conversando com outros jogadores que eu não fazia questão de esforçar minha memória para lembrar de deus míseros nomes – E ele poderia responder se me ouvisse né. – Respondi com um sorriso amarelado no rosto, me esticando para pegar um copo aleatório de bebida e entortar de vez na boca.

– Problemas no paraíso?

– Antes existisse um paraíso. – Peguei mais um copo, brincando com ele entre os dedos – Você vai me ajudar no trabalho?

– Austin me explicou por alto o que você tinha que fazer. Posso te ajudar sim. – Sorri em agradecimento e brinquei com meu cabelo, observando meu namorado ao fundo conversando com os outros – Não gosto de festas.

– Eu também não. – Gordon deu de ombros e mexeu na barba.

 – Eu vim porque o Dante me chamou para jogar. Vim pelo jogo e pela comida.

– Chegamos a um ponto em comum. Vim pelo meu namorado mas ele me abandonou. – Dou de ombros – Eu preciso entregar a matéria/trabalho em uma semana. Você pode me encontrar durante esses dias para me ajudar? Ou subornar a Truskel. Ela é fácil de ser subornada mas eu não tenho dinheiro.

Gordon riu, de um jeito genuíno é engraçado porque ele queria realmente rir. E eu senti falta de como ria das piadas de Austin quando eram engraçadas. Ultimamente eu só ria delas para fazê-lo sentir que era engraçado. Ele não era. Nunca fora.

– Você é muito alto... – Estreitei os olhos em sua direção e coloquei a mão em sua cabeça, ele era do meu tamanho em pé estando sentado.

– Comecei a jogar basquete por causa da altura. – Ele explicou, passando as batatas para mim – Você é nova na cidade, não é? Tem um sorriso lindo. – Daquele mesmo jeito aleatório que ele tinha dito a primeira coisa, a segunda saiu sem que ele percebesse.

– Como seria uma família se você tivesse uma? – Pergunto, mordendo a boca por dentro – Filhos, cachorro...

– Meu feriado favorito é o Natal. Eu provavelmente ia adorar fazer as comidas de Natal com minha família. – Apoiou os cotovelos na mesa enquanto eu comia as batatas – Duas filhas e um golden. Talvez eu chamasse uma das duas de Charlie.

– E a outra de Bernie! – Completei empolgada, gostando daquele jogo. Olhei o relógio e notei que ainda era cedo. Mandei uma mensagem para Austin, avisando que eu ia ter que sair e ele estava tão empolgado com a conversa que nem ia notar minha saída – Você quer me ajudar no meu trabalho agora? Eu te pago um Big Mac.

– E o Austin?

– Ele vai sentir minha falta alguma hora. Quando ele sentir, vai ter que correr a cidade inteira atrás de mim. – Levantei, pegando a chave de meu carro e balanço ela em meus dedos – Sabe o problema, Gordon? Quando estávamos realmente apaixonados, os dias eram melhores que agora. Agora eu preciso achar meu caminho de volta.

– Eu posso te ajudar a achar esse caminho. – Gordon pegou a chave de minha mão e levantou, era tão alto quanto parecia ser – No fim do arco-íris tem um grande hambúrguer e batata fritas. Mas eu dirijo, não podemos morrer no meio dele num acidente.

– Mas eu nem bebi... – Protestei, rindo e seguindo o gigante – Eu tagarelei demais, não é?

– Talvez. Mas sua voz é boa para ser ouvida. Posso ser seu ouvinte nesse meio tempo. – Apontei para o carro com o queixo e entrei quando ele abriu as portas – Sabe de algo, Robyn? O amor é um jogo, por mais que ás vezes pareça que não sabemos jogar.

– O amor é uma idealização para carência. Mas se você está imaginando coisas... Eu gosto do jeito que jogamos.

Winning StreakWhere stories live. Discover now