Mesmo Dilacerado Não Tenho Folga

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  Como não conseguia dar um passo sem ter a sensação de pisar em um vulcão ativo, tive de ir apoiado nos ombros de Mia até o quarto, onde ela me ajudou a me deitar. Quando eu finalmente achei uma posição confortável, ela parou em pé ao lado da cama com os braços cruzados como quem exige uma explicação.
  Eu teria rido da cena, já que Mia não tem uma expressão ameaçadora, mas meu peito queimava então, não tenho dúvidas, de que era melhor não rir se não quisesse piorar a dor.
  - Ian e uns garotos entraram na sala de música ontem e "sabotaram" alguns instrumentos.... - comecei - Então eu falei para a direção.
  Ela arregalou os olhos e eu prossegui:
  - Mas, ao que parece, ele descobriu e não gostou muito.
  E então ela levantou uma sombrancelha e me olhou com um ar debochado como se disse "Ah, jura!?".
  - Eu sei - ri.
  Assim que nossa "conversa" (que eu chamaria mais de monólogo) acabou, ela foi até seu guarda-roupa e voltou com uma caixinha de primeiros socorros.
  Então ela se sentou ao meu lado na cama, e começou a cuidar de uns arranhões que eu tinha no rosto. Após alguns segundos que ela tinha parado de mecher no meu rosto, pude ver sua bochechas completamente vermelhas. Segui seu olhar até onde ela encarava: um enorme corte desde o meu abdômen até o tórax.
  Então eu entendi o motivo da vergonha. Para cuidar do corte, ela teria de tirar minha camisa.
  - Você... - falei - Você não precisa fazer isso, quer dizer, você já me ajudou muito lá no pátio e...
  Mas ela fez que "não" com a cabeça e levou as mãos até a barra da minha blusa para me ajudar a tirar.
  Assim que ela tirou minha camisa rasgada, pude ver quão sério era o corte.
  Quando Ian me socou, eu caí e arrastei no chão. Na hora, eu senti a dor mas estava ocupado demais apanhando para reparar que eu havia arrastado em um caco de vidro no chão.
  Mia mergulhou o algodão em um líquido marrom e começou a limpar onde estava aberto. Corei.
  - Ai!
  Ela me lançou um olhar tão sinistro de "fica quieto", que eu retiro o que eu falei antes de "Mia não tem um olhar ameaçador".
  Ela ainda passava remédio no meu peito quando Annie e Noah entraram no quarto.
  - Carter o que foi aqu.... - parou Noah assim que nos viu - Estou atrapalhando alguma coisa?
  Mia corou ainda mais por ter sido pega em tal situação, e  Annie apenas ria.
  - Quer parar de ser idiota? - falei - Ela me ajudou a chegar aqui já que eu apanhei tanto que mal consigo andar.
  - Sei... - falou Annie quado conseguiu parar de rir - E então resolveram te deixar sem camisa, com a Mia passando a mão em você?
  Mia jogou o pote de álcool em Annie que voltou a rir e falou um "desculpa, só estava brincando".
  - Como conseguiu arregaçar o peito desse jeito cara? - perguntou Noah.
  - Acho que na hora que caí eu arrastei em cima de alguma coisa.
  - Você "acha"?
  - Nem está tão ruim assim... - falei.
  Então, Mia apertou o algodão em cima do corte me fazendo gritar.
  - Não? - falou Annie, enquanto ela e Mia tentavam segurar o riso.
  Olhei pra ela que apenas fez um sinal de desculpa (ainda rindo) e começou a colocar o curativo em cima do corte.
  Assim que Mia terminou, Annie e Noah se empoleiramento na cama ao meu lado e Annie falou:
  - Ainda preciso daquelas aulas senhor Carter, ou está achando que só porque apanhou feito saco de pancadas eu vou te poupar?
  - Agradeço pela parte que me toca - falei zombando - porque o Noah não te ajuda?
  - Primeiro porque não confio em ficar sozinha em um mesmo quarto com ele. - falou  - E segundo que...
  - Que eu não sabia responder a pergunta que ela me fez. - completou Noah. - mas acho que você sabe, já que você manja dessa parte mais "clássica".
  - E qual era a pergunta?
  - Eu estava conversando com uma amiga e ela falou que houve um pianista que tinha pacto com espíritos, ou algo assim. - falou.
  - Houve sim um pianista que era tudo como "bruxo" na época dele. As pessoas achavam que ele tinha pacto com o demônio pelo modo que ele tocava.
  - E ele tinha? - perguntou Noah subitamente interessado.
  - Não - falei rindo - Acontece que o cara tinha uma doença rara que o fazia ter os dedos maiores do que o normal, o que ajudava na hora de tocar o piano.
  - Que chato - falou Annie - E eu achando que ia dar pra colocar algo menos chato no meu trabalho...
  - Ei! - falei
  - Foi mal Bro - falou Noah - Você tocando é ótimo, mas a teoria é uma droga.

Sem Palavras Me ConquistouOnde histórias criam vida. Descubra agora