Convergindo (Em Construção)

Mudança de Planos

Eu estava decidido a levá-la para sair, mas ela não parecia muito animada então desisti da idéia. De algum modo eu precisava distrair minha mente... não podia ficar pensando muito ou ia acabar enlouquecendo. Por fim terminamos num jantar à luz de velas sobre a mesa de meu apartamento.

- E então, o que está achando?

Roubei um pedaço de carne de seu prato com meu garfo. Tentei ser discreto, mas ela percebeu.

- A comida da sua mãe é perfei-... Eiiiii!!!

Ela deu um tapa de leve na minha mão e fez uma careta de raiva. Eu não resisti e belisquei sua bochecha. Ela não conseguiu manter a pose, estava tentando ficar séria mas o sorriso insistia em se instalar em sua face. Seus olhos se deslocavam  aleatoriamente de um objeto a outro até que se prenderam nos meus, com as pontas de meus dedos toquei a mão com a qual ela segurava o garfo e sua expressão se amenizou, adquirindo aquele tom tão delicado que fazia meu coração saltar dentro do peito.

Milhares de pensamentos surgiram em minha mente, o futuro estava logo ali, em menos de uma semana eu faria aquela prova... mas e depois? O que aconteceria conosco? Ela continuaria morando a poucos passos de mim? Este era seu último ano na escola... seria o meu também se nada daquilo tivesse acontecido comigo... toda minha vida parece um filme de suspense, eu não sei o que vou encontrar quando virar a próxima esquina... só tenho uma certeza: preciso continuar andando. 

Ela pôs uma mecha de cabelo por trás da orelha enquanto mastigava. Fiquei ali encarando-a, fascinado... ela é tudo o que eu sempre quis.

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Quando estacionamos em frente ao restaurante meu queixo caiu no chão. Ele segurou minha mão para que eu descesse e em seguida ele desceu e caminhamos até a recepção. No meio do caminho lhe devolvi sua jaqueta, ele me deu um sorriso torto e abriu a porta para que eu entrasse. O ambiente era altamente requintado, a música clássica, os talheres de prata sobre as mesas, os lustres dourados. Aquele lugar me era bem familiar. A algumas semanas atrás eu e minha família viemos para um jantar de negócios aqui. Confesso que os preços não eram dos mais acessíveis e por isso só em ocasiões específicas fazíamos esse tipo de coisa. Mas ao olhar para ele percebi que esse ambiente era tão comum para ele quanto era lavar os cabelos todos os dias para mim. 

Não estávamos de mãos dadas mas a proximidade entre nossos dedos era tão grande que fazia meus pêlos eriçarem. O maître assim que o viu foi logo fazendo gestos para que o acompanhássemos até nossa mesa. Por fora eu permanecia calma, mas por dentro não deixei de pensar que... ou ele era um caixinha de surpresas ou passou pelo curso: Como Impressionar uma Garota no Primeiro Encontro...

Nos sentamos e ele pediu um vinho como entrada e o garçom se afastou. Pigarreei timidamente quebrando aquele incômodo silêncio.

- Bem... se eu soubesse que viríamos para cá, eu teria vestido algo melhor...rs.

Ele me encarou com surpresa.

- Nada haver, você está linda!

- Olhe ao nosso redor... as pessoas de vez enquanto olham para nós.

- Tsc... você se preocupa muito com isso... deixa eles pensarem o que quiserem...

Olhei para ele e dessa vez quem estava surpresa era eu. Não que estivéssemos mal vestidos, apenas estávamos informais demais para este lugar. Ele usava jeans escuro e uma blusa branca e a jaqueta que eu havia lhe entregado minutos antes e eu um vestido curto preto levemente rodado e de alças em contraste com as outras pessoas, os homens de terno e as mulheres de social chic. Muitas delas também estavam de vestido, mas com certeza estavam com um look bem mais trabalhado que o meu. Tola fui eu que imaginei que íamos para o cinema... 

Ai que vontade de me esconder debaixo da mesa...  

Ele pôs a mão sobre a minha e estremeci.

- Vou te contar um segredo... quanto menos você se importar com o que os outros pensam a seu respeito, mais será feliz... rs... mas, admito estar um pouco desapontado... não achei que você fosse do tipo que se importasse com essas coisas...

Apenas sorri sem graça, engolindo em seco aquela pequena lição de moral. 

- As aparências enganam, rs... às vezes tenho minhas recaídas...

Ele sorriu, me olhou bem dentro dos olhos como se quisesse decifrar o que eu estava pensando. Eu me senti idiota... por que eu estava tentando ser perfeita? Eu estava esquecendo quem eu realmente era... novamente me deixando levar. De repente me peguei me perguntando se toda aquela auto-estima que eu tinha era uma fachada... Por que eu fico assim quando estou apaixonada? Não foi eu mesma que prometi que não me deixaria cair assim tão fácil? Mas que merda você está fazendo, Alice?

  - É... todos temos... somos humanos, esqueceu?  

Eu sorri e dessa vez um sorriso autêntico, firme... chega de todo esse drama bobo. Para que eu devo me preocupar em impressioná-lo? Ela já não está aqui em minha frente? 

- É isso aí, deixa rolar, gata...

Ele estendeu a taça em minha direção, eu ergui a minha e brindamos.

- Às recaídas!!!

O casal que estava em uma mesa próxima a nossa nos olhou sem entender nada.

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- Diabo é isso mano? Me belisca...

Meu irmão me olhava surpreso... ele não acreditava no que estava vendo. Sim senhor, isto era verdade... eu estava perdendo aquela partida de Tekken. Eu, o campeão invicto por 7 vezes consecutivas, hoje não estava conseguindo me concentrar. Minha mente ainda processava aquele rosto, aquela voz, aquelas palavras... Quando foi que isto começou a me afetar? Mandei um combo de golpes mas meu adversário não estava para brincadeira, meus esforços para virar o jogo estavam sendo inúteis. Minha vontade era de pegar minhas chaves e ir até aquela festa, eu não estava levando isso numa boa, ela e outro cara... isso era inaceitável... ainda mais depois de ela ter se magoado tanto. Claro que no fim sobrava para mim ter que juntar os pedaços de seu coração. Eu já estava cansando disso.

Ele apertou a sequência de comandos e em seguida na minha tela apareceram aquelas tão temíveis palavras: YOU LOSE. A contagem regressiva havia se iniciado, eu deveria decidir se queria continuar ou não. De certa forma isso era uma analogia a minha vida e  a pressão daquela pergunta piscando na tela estava me matando: Continuar ou não? O que era mais sensato fazer? Eu queria ganhar... ninguém gosta de perder, de ser deixado para trás, de ignorar a si mesmo em detrimento de outra pessoa. Queria vê-la feliz, mas eu também quero estar feliz. Por que somos assim tão confusos?

7....6....5....4.... 

Meu irmão ficou me olhando sem entender enquanto eu vestia  minha jaqueta e punha as chaves no bolso. Ele veio correndo atrás de mim e quando finalmente me alcançou eu já estava destrancando a porta da frente de nossa casa.

- Mas que merda 'cê tá fazendo? Ficou louco?

Olhei para ele... nunca me senti tão decidido em toda minha vida.

- Vou reiniciar esse jogo!