Capítulo 09

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Eu sou ela, eu sou uma pessoa má? é assim que acontece? eu nem mesmo posso decidir meu futuro? eu sempre pensei que nossas escolhas formassem que nós somos, e não as escolhas alheias. Eu não quero ser ela, eu não quero parecer com ela. Sem ao menos perceber começo a arranhar meu corpo. Sinto arder e em seguida o sangue quente escorre. Lágrimas doídas escorrem, sinto frio, começo afundar no lodo, me sinto suja, meu queixo começa a bater de frio, sinto um vazio crescer e crescer e crescer dentro de mim, e pouco a pouco eu vou me tornando o próprio vazio, me sentindo cada vez mais oca. Minhas asas se recolhem, minha pele empalidece, abraço meu joelho na tentativa de me aquecer, não há motivos para continuar lutando, é meu destino, que eu morra antes que me torne algo pior, algo como Lúcia. Ouço gritos distantes, tão distantes, algo pede, algo me chama, alguém.

Ouço pancadas, barulho forte, algo está quase se quebrando, talvez eu seja esse algo. Talvez seja minha alma se partindo em pequenos fragmentos de escuridão. 

 — Acorde. — uma voz distante diz. Implora. 

Eu não sou capaz, não posso lutar contra isso. Sinto meu corpo caindo e caindo. O Black Walker grita alucinado, como se algo estivesse o afugentando, o mandando para longe. Seus gritos são assustadores e de dá arrepios. Ouço pancadas mais altas, e mais gritos. Então meus olhos se abrem para a realidade. A única realidade. Onde um humano fraco e limitado está lutando de igual para igual com um Black Walker, onde um humano fraco e limitado está lutando em Arandell. Um humano rompeu o véu para salvar sua fada protetora, tenho que admitir há ironia nisso. 

Minha visão está embaçada e é como se eu alucinasse. Sam está flutuado no ar, está envolvido por uma luz branca, alva, há um sentimento em seus olhos, a algo verdadeiro em seu olhar, eu quero entender, eu quero saber o que é aquilo, aquele sentimento em seu olhar aquece meu coração gelado e conforta meu peito sofredor. Sam vira seu rosto para mim.

  — Fada... —  ele diz com preocupação. 

É nesse momento que uma esfera de fogo negro o acerta, ele cai por cima de uma rocha e seu braço entorta para o outro lado, sangue e ossos quebrados, é uma dança sangrenta.

— Sam—  eu grito em meio a lágrimas. 

Uma sensação de inutilidade invade meu peito. Que tipo de fada protetora deixa seu protegido morrer protegendo ela? confuso. Eu quero ajudar mas é como se cada átomo do meu corpo se negasse a se mexer a dá qualquer sinal de vida. Estou caída no chão sangrando, com frio e com medo. Eu nunca fui apta para proteger Samuel, como eu pude me enganar dessa forma? 

Sam se levanta e vários globos de luz começam a circular o lugar de sua lesão, um som horrível vem em seguida, Sam grita na hora em que o osso volta para seu devido lugar. Samuel está com os olhos cheios de raiva. Seus cabelos negros estão bagunçados, há um corte em seu rosto já cicatrizando. Um fada do ar. Os globos de ar formam uma coisa nas costas de Sam, algo estranho, como asas feitas de pequenas partículas de ar.  Visivelmente temporárias. Sam voa com as asas de ar que se formaram, Sam não olha para mim. A criatura grita e várias bolas de fogo saem de sua terrível boca, Sam desvia de todas, então inesperavelmente, algo como uma adaga negra atravessa a perna de Sam. Ele grita. 

Tento inutilmente mexer meu corpo, mas não consigo, minha respiração começa a pesar. 

— Sam, eu preciso dizer —  Sam olha para mim em meio a toda aquela dor.

— Não, não diga agora. —  seu olhar implora. —  você ainda vai ter muitas chances de dizer isso. —  ele tenta me tranquilizar. 

Enquanto Sam está tentando me confortar a criatura lança mais uma adaga que atravessa a outra perna de Sam. 

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