Lá estava eu. Jogada no sofá vendo novela. Pra alguns pode parecer estranho uma garota de 15 anos ver novela, mas pra mim era como um hobby. Tudo estava ótimo como sempre até que minha mãe entrou na sala gritando:
- QUE POUCA VERGONHA É ESSA NA MINHA CASA, TAMARA?
- Eu só tô vendo novela, mãe. Eu vejo novela todo dia! - respondi na defensiva.
- Então a partir de hoje você está proibida de ver essa novela! Nunca mais você vai ver, ouviu? - ela disse desligando a televisão.
- Ouvi, mãe. Eu vou pro meu quarto tá? Vou fazer meu dever de casa e ir dormir. Boa noite.
- Boa noite filha.
- A benção?
- Deus te abençoe Tamara, agora vai dormir.
E essa foi minha deixa pra ir pro quarto. O problema é que eu estava com 0% de sono, sério eu podia ter corrido uma maratona ou ensinado uma criança a ler. Tá ensinar uma criança a ler é demais não tenho paciência.
Acabou que eu fiz quase a apostila toda de matemática, só parei na matéria que a professora ainda não tinha dado.
- Aula da Helenins, tchau por duas semanas!
Peguei meu celular e entrei na netflix, com certeza aquela era a melhor hora pra começar uma série nova e a escolhida foi....... The get down. É, parece ser boa vamos ver.
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Cheguei na escola na manhã seguinte no horário de sempre e fiquei sentada na frente da escola esperando meus amigos enquanto o portão não abria.
Uns 7 minutos depois Gabriel chegou e veio na minha direção assim que me viu:
- Você viu Supernatural ontem? Quero spoilers! Vai conta, menina.
- Bom dia pra você também Gabriel, e não, eu não vi Supernatural ontem.
- Bom dia - Thalia chegou de repente e abraçou Gabriel
- Bom dia Lia linda do meu coração! - eu disse animada
- Gente que felicidade toda é essa?- minha melhor amiga perguntou me balançando
- Ah, sei lá só a vida, olha que dia lindo com esse sol brilhando e orquídeas nas árvores.
- Tamara, você é muito louca - tinha certeza que Gabriel estava zoando comigo mas resolvi deixar de lado e assim entramos para mais um dia de aulas.
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Cada minuto naquela sala parecia uma hora. Esse é o maior problema dá escola: os professores. Eles complicam tudo, até uma matéria que tinha tudo pra ser simples tem que ter uma complicação. Eu acho que tem professores que fazem isso de propósito, ficam dando voltas e voltas na matéria na intenção de ajudar os alunos mas tudo o que eles fazem é piorar a situação.
Um professor que se encaixa totalmente nesse perfil é o Professor de português, Luís: alto, louro aguado, irritante e lerdo.
Eu realmente tenho algum problema com gente lerda, ou gente que não acompanha meu ritmo, mas fazer o que? Essa sou eu.
Quase 12:00, plena aula de literatura e um anúncio chega fazendo todo mundo saltar de felicidade: trabalho em dupla sobre a vida de um autor brasileiro de sua preferência.
Corro pra sentar no colo de Thalia para Carolina, a professora, perceber que nós somos uma dupla.
- Tamara, amor, eu vou escolher as duplas - ela disse num tom de voz calmo e sereno típico dela, fazendo eu cair de bunda no chão com a notícia.
A sala inteira começou a rir, o que não era estranho já que segundo eu mesma, eu era a nomeada boba/trouxa da corte/sala.
No final acabou que eu fiz dupla com Gabriel, graças a Deus eu me dou muito bem em sorteios e não cai com alguém que eu não gostava.
No caminho de volta pra casa, Thalia falou algo que me fez lembrar do nosso antigo colega de classe que saiu dá escola ano passado.
- Por falar em violão - fiz uma pausa ao lembrar o que aconteceu um ano atrás - você ouviu falar do André depois que ele saiu da escola?
- Não... Acho que ele ficou muito triste com o que aconteceu, e os pais dele também né.
- Eu sinto saudades dele todos os dias.
- Pois é, eu também.
- Só Deus sabe o quanto eu me culpo cada dia por aquela tarde - disse afundando as mãos no rosto.
- Ei, olha pra mim - Thalia ordenou e eu levantei meus olhos pra olhar nos dela.
- Não foi sua culpa, você não fez nada de errado, pelo o contrário você tentou ajudar. Você não pode se culpar por uma coisa que seu pai fez.
- O jeito que meu pai falou com os pais do André..... Foi horrível Lia, ninguém deveria falar assim com ninguém - senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto chegando a minha boca.
- Sim, foi horrível. Foi um crime. Homofobia é um crime.
- Ele falou daquele jeito com meu amigo, com a pessoa com quem eu dividia um sonho de vida, só pelo fato dele ter dois pais, Lia! Ele sabia que o André era meu amigo, sabia que ele era importante pra mim e nem por isso parou! Como alguém faz isso?
Fiquei chorando por um bom tempo lembrando do garoto que tocava violão comigo nos fins de semana. Ele havia partido havia quase um ano, e não manteve contato. Pelo menos não comigo.
- E o pior é que ninguém lá em casa parece se importar que meu pai poderia ter sido preso. Ontem eu tava vendo novela e minha mãe gritou comigo só por que tinha um casal de lésbicas andando de mãos dadas.
- Por que eles não entendem que ninguém manda no coração? A gente ama quem a gente ama, e isso não é algo que se da pra controlar - minha amiga perguntava frustada
- Eu só queria entender isso, Thalia, mas eu não consigo.
Thalia me levou até minha casa depois de parar para comprar sorvete para mim. Ela disse que era uma forma de eu me distrair e não chegar em casa chorando. Funcionou. De fato eu consegui tirar aquela lembrança da minha cabeça por muitos e muitos dias. Mas eu tinha certeza de que ela iria voltar, e eu não queria tá perto dos meus pais quando isso acontecesse.
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e vamos de postar história planejada desde 2017
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Crush
General FictionTamara cresceu ouvindo seus pais dizerem coisas horríveis sobre pessoas com diferentes modos de pensar e gostos que os deles, mas com o tempo ela foi descobrindo que se devia respeitar a todos não importa quem seja. Com sua própria opinião sendo for...