Devaneios Do Amor

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"...Passe seus dias cheios de vazio
Passe seus anos cheios de solidão
Desperdiçando o amor, numa carícia desesperada
Rolando nas sombras da noite..."

WASTING LOVE
-Iron Maiden-


"Eu te amo!"


As sirenes invadindo nossa privacidade, obviamente indicam que ELES chegaram, meu amor. Porém, não estou surpreso, já imaginava que viriam em breve. Estou sentado no sofá, tomando o chá que preparei 40 minutos depois de me despedir de você...
Acabam de derrubar a porta minha paixão. Deu para ouvir? A truculência e a rudeza deles, são sintomas da doença mais maléfica do mundo: A ausência de amor.

Não é estranho? Sempre fomos um casal exemplar; nunca discutimos ou nos agredimos de quaisquer formas possíveis.... mas bastou apenas um pequeno desentendimento e um breve grito de pavor de sua parte, para que os vizinhos interferissem em nossa conversa civilizada. Interessante e ao mesmo tempo, ultrajante!

Da boca de um destes invasores doentes, palavras são vomitadas ao vento; cortando o ar e se extinguindo antes de alcançarem meus ouvidos. Não o compreendo, apenas me prendo ao reflexo dos anéis de aço que ele provavelmente pretende fixar em meus pulsos. Talvez a raiz de todos os problemas, seja a nossa classe social. Sou um simples garçom e você uma arquiteta de sucesso, porém, nossas diferenças morrem neste ponto...

"Você me ama?"

Lembro com carinho da primeira vez que a vi, meu amor... eu estava cansado, mas ainda sim, atento a tudo e a todos. Vi você chegar deslumbrante, como ninguém mais é capaz de ser. Estava usando um vestido cinza com alças transparentes; seus lábios estavam lindos no tom rubro que você tanto gostava e seus cabelos iluminavam a noite com seus cachos estonteantes.

"Acho que te Amo."

Amor, você lembra? Eu recordo que se aproximou e me deu boa noite, pedindo uma bebida logo em seguida. Seus dedos tocaram os meus e nossos olhos se cruzaram, pude ler em seus lábios a frase que orei por ouvir de tantas outras: "Eu te amo!"

"Amo!"

Recordo que semanas se passaram, cuspidas vergonhosamente da boca do Tempo. As horas consumiam meus pensamentos mais profundos e os minutos só valiam a pena, quando eu a via se aproximar. Lembra da segunda vez que nos vimos? Eu lembro que estava, mais uma vez, tão linda quanto Afrodite. Seu sorriso saiu em minha direção, apaziguando todos os temores e ressentimentos que se acumulavam em meu coração. Fazendo-me adiar por três vezes, meus planos mirabolantes e vingativos.

"Amo? Você... ama?"

Creio que um mês se passou desde a vez que a vi naquele vestido cinza. Não te via mais, às vezes nem ao menos sabia por onde andavas, mas sabia com quem. Você acredita, que nos meus dias de folga, eu saía a te seguir? Descobri que fez amizades novas e voltou aos estudos. Faculdade nova... amigos novos... um novo, amor também?

"Não amo! Nunca amei!"

Você lembra de ser uma vadia? Eu lembro. Frequentava até outros bares. Tudo isso para me evitar? O que eu lhe tinha feito? Apenas tentei ser agradável, afinal eu te amava!

Não precisava se preocupar! Meus pensamentos imundos estavam sob controle e apesar de você ter recorrido injustamente à justiça, continuei apenas querendo bem a você. Só queria saber se estava feliz... se ainda se alimentava, se ainda conversava com seus malditos pais. Se ainda pensava em mim... EU SEI QUE SIM!

CUPIDO BIZARROOnde histórias criam vida. Descubra agora