Pangéia

Pangeia

A água que havia no planeta, em vez de ser nossa salvação como pensávamos, acabou se tornando a principal responsável pela destruição da Terra. Tsunamis abalaram todo o planeta, até não restar mais nada.
Após tantas catástrofes ambientais, muitos de nós fomos mandados para outro planeta, recém- descoberto no nosso sistema solar. Nós o chamamos de Pangeia.
Na Pangeia havia água e não tinha placas tectônicas( o que eliminava completamente as chances de ocorrer um tsunami ou terremoto). Tudo pararia bem.
       O que não sabíamos era que a Pangeia tinha outros habitantes como nós.
       Aconteceu no dia 24 de julho de 2030, quando um dos nossos operários viu na beira de um lago uma outra versão dele mesmo. Chocado, afastou-se devagar com medo de que estivesse enlouquecendo. Ninguém acreditou nele e o julgaram louco.
     Diante dessa situação elegemos uma governanta e ela construiu uma base militar para nos separar destes que víamos como uma ameaça. Era nos arredores da base que passamos a viver.
         Vários anos se passaram e instalamos tecnologia na nossa base chamada de Campo de Alcatraz( chamada assim devido ao parentesco com a ilha de Alcatraz em São Francisco no nosso antigo planeta). Foi nesse ano que eu nasci, no ano da tecnologia:3022.
        Depois da construção do Campo de Alcatraz, as pessoas acabaram se esquecendo dos outros habitantes de Pangeia, em razão do passar do tempo e do esforço da governanta para que isso acontecesse, lembrando-os sempre de que eram apenas lendas ou mitos.
        Aos poucos, a governanta de Alcatraz criou um novo regime com regras que, se não fossem seguidas, poderiam causar pena de morte aos infratores: com 16 anos de idade, todos seriam obrigados a fazer uma prova que determinaria sua profissão, com quem você iria se casar, quantidade de filhos, seus futuros hobbies e até a idade que você mereceria viver.
        Hoje é meu dia, meu aniversário de dezesseis anos, o dia da prova.
      Eu acordo, tomo café, arrumo a mesa( que estava cheia de livros, já que eu havia estudado a semana inteira para a primeira fase), troco de roupa e preparo o café da minha irmã Grace. Depois caminho até a sede da governanta, onde a prova será realizada.
       - Dircy - chamou um homem que me trouxe à tona uma lembrança muito antiga de um médico.
       Meu coração dispara enquanto eu passo por uma porta pequena. Olho ao meu redor, estou em uma sala sem qualquer decoração ou janela, ocupada apenas por uma mesinha e uma cadeira. O homem pede para que eu me sente, eu obedeço e ele me entrega uma prova com quinhentas questões.
      A cada questão eu respiro mais uma vez e penso cuidadosamente: meu futuro depende desse resultado.
        Quando entrego a prova para o homem, estou exausta, mas ainda tem a segunda parte do teste. Nessa parte eu vou ter que lutar com o melhor lutador do Campo de Alcatraz. Tenho medo: não sou forte e nunca lutei antes.
    Dessa vez quem me chama é uma mulher, mas ao contrário do homem ela me assusta com sua expressão feroz. A mulher me conduz ao ringue de luta, mas para minha surpresa não tem nenhum lutador  ali para acabar comigo.
    - Com licença, não era para eu lutar com o melhor?
   - Eu sou a melhor lutadora de Alcatraz.
     Fico surpresa. Ela não me parece do tipo que luta. É magra e esguia, apenas sua expressão feroz a denuncia.
     - Meu nome é Bianca.
     - O meu é ...
     - Eu sei o seu nome. Vamos lutar.
    Bianca prepara os equipamentos de defesa para que eu possa vesti-los e, quando estou completamente equipada, a luta começa.
     Ela me acerta no estômago, eu me curvo. Revido chutando sua canela. Ela perde o equilíbrio e eu aproveito a oportunidade empurrando-a no chão. Em cima dela, seguro seus braços. Meu erro é esquecer de suas pernas. Ela consegue me golpear com os pés e, quando vejo, ela está em cima de mim. Mexo todo o corpo, mas não consigo sair debaixo dela.
      E então a última coisa que vejo é o seu punho indo em direção ao meu rosto.
      Quando acordo, estou deitada em uma cama num quarto vazio com apenas uma janela, onde tenho vista do Parque Mãe Natureza. Lembro-me de quando meus país me levaram lá para correr e andar de bicicleta, adorava a sensação dos meus cabelos ao vento. Depois do nascimento de Grace, não voltamos mais lá, e depois meus país morreram. E se o meu teste decidir que no meu futuro morrerei cedo? O que será de Grace?
      O mesmo homem que tinha me conduzido à primeira parte do teste entra no quarto. Ele me entrega um papel e meu coração acelera. É o resultado do meu teste.
    Nome: Dircy.
    Idade merecida: vinte anos.
    Não irá se casar e nem ter filhos.
    Hobbies: Leitura e esportes.
     Profissão: Escritora.
     Meu Deus! Quem irá cuidar de Grace?