dare or death.

one ↝ ouija.

23 de Outubro, Sexta-Feira, 10 PM.

— Por ali! Rápido! — Marco finalmente deu uma boa ideia, apontando para o quartinho bem parecido com o que você vê no filme do Harry Potter em baixo da escada de madeira mofada e velha. Lucy foi a primeira a abrir a porta, e tivemos sorte pela primeira vez naquela noite de encontrar uma porta aberta. Não demorou para todo mundo entrar e se espremer no quarto, enquanto uns tentavam parar de chorar.
Finalmente, paz, pensei.
O silêncio se estabeleceu no quarto e vimos que tudo aparentava estar bem, novamente. Nenhum sinal de Alberto.
Em poucos instantes, ouvimos um assopro, apagando todas as velas e a pouca iluminação que tínhamos. Um suspiro irritado e um soluço de Blake foram mais altos dessa vez.
— Merda. — Calvin soltou, por incrível que pareça, calmo.

14 HORAS ANTES

Caminhávamos eu, Calvin e Felipe um do lado do outro direto para a aula de Astrologia. Calvin e Felipe discutiam o quão inútil era aquela aula, mas Calvin reforça a ideia que aquela aula era ótima para tirar cochilos sem Shepherd — o nosso professor que estava chegando perto da terceira idade, segundo Felipe — porque ele estava tão velho que provavelmente seus olhos nem serviam mais para conseguir enxergar o menino de cabelos cor-de-mel dormindo, mas Felipe contestou dizendo que talvez ele conseguisse ouvir os roncos exagerados dele. A conversa de sempre.
Mas eu só ouvi por partes. Estava ocupadíssimo olhando para Rebecca e vendo ela cruzar os braços devido ao frio que fazia hoje e sempre na maldita Crowslake.
Se você perguntar para qualquer pessoa de Crowslake qual a melhor definição da cidade, ele te responderá: frio.
Moro aqui desde os meus cinco anos, e nunca tinha visto uma única manhã ensolarada ou um dia bom para pegar sol na praia. Era uma cidade fria, nublada e chuvosa.
— Taylor, me responda! — Felipe exclamou irritado por não ter sido respondido.
— Desculpe, estava distraído. O que dizia? — Troquei olhares com ambos, que se entreolharam revirando os olhos, já que sabiam exatamente o motivo da minha distração. Calvin fez bico negando com a cabeça, toda manhã ele reclamava que não suportava a ideia de ficar explicando a conversa deles todo dia por causa da minha distração que nem disponível estava, Rebecca.
— Felipe e eu viemos ontem de tarde na escola e ouvimos uma conversa entre Shepherd e Ross. — Calvin explicou. Ross era nosso professor de filosofia e Shepherd o de astronomia.
— O que faziam aqui de tarde? — Questionei. Quintas a tarde era o dia do clube do coral, o clube de super heróis anônimos e o clube das Cheerios. — Viraram Cheerios? Vão sacudir seus pom pom's e conquistar uma garota?
— Pelo menos as garotas que nos interessa não namoram o Aaron Miller. — Felipe ironizou da minha situação horrível.
Ugh. Aaron Miller. O típico cara insuportável e capitão do time de futebol de filme americano, que tem a melhor garota da escola como namorada e ela não enxerga que é boa demais para ele. A garota, no casa, Rebecca, minha paixãozinha de quarta série que continua sendo uma paixão impossível e distante até hoje, no último ano do colegial.
— Essa foi pesada, cara. — Calvin ironizou. Revirei os olhos.
— Voltando... Estávamos aqui terça a tarde, por um motivo que não é da sua conta e nem discutível no momento, e vimos Ross e Shepherd conversando. Primeira hipótese: os dois tem um caso! — Coloquei as mãos no rosto. Por mais que sejam meus melhores amigos, eles são as pessoas mais irritantes e intrometidas que qualquer nação já presenciou. Qualquer assunto que eles encontram, por mais que não tenham absolutamente nada com isso, eles criam teorias e espalham para todos. São o sensacionalismo em forma de pessoa.
— Direto ao ponto, por favor. — Pedi e os dois assentiram com a cabeça.
— Ross e Shepherd querem começar trabalhos em grupos na escola. Em. Grupo. — Felipe disse a frase "Em grupos" lentamente para ter certeza que eu havia entendido a ênfase dessa frase, e eu não tinha.
— E o que tem de mais nisso? — Acelerei o passo já que a aula de astronomia começava em um minuto e ainda estávamos longe da sala.
— Isso vai arruinar tudo, Tyler! Eles querem que haja interação entre nerds, burros, populares e invisíveis! Isso causará um impacto nessa escola. — Calvin explicou novamente como se fosse o fim do universo a interação entre pessoa de grupos diferentes.
— Mas nunca se sabe... uma vez que eles juntem um grupo podem criar um grupo invencível. — Expliquei enquanto entrava dentro da sala de Astronomia e soltava um suspiro de alívio por perceber que a segunda fileira de carteiras estava vazia.
— Você tá parecendo minha vó falando, cara! — Calvin revirou os olhos e sentou-se do meu lado, enquanto Felipe sentava do lado dele. Rebecca entrou na sala atrás de seu namorado fútil que provavelmente dizia algo igualmente fútil, e então acenou para mim. Meu sistema nervosa parou por instantes e por isso levei um tempinho para abrir um sorriso como resposta. Calvin e Felipe começaram a fazer barulhos de vômito até que ela saísse de perto.
— Bom dia, alunos! — O professor, Shepherd, exclamou, o que era surpreendente devido á sua reputação de professor sem piedade.
— Shepherd está sorrindo? Será que ele está drogado? — Felipe cochichou enquanto abaixava os olhos prestando atenção nele.
— Ou ele anda transando... Mas quem transaria com ele? — Instantaneamente Shepherd voltou seu olhar para nós, já que a fala de Calvin não saiu tão baixa quanto o esperado.
— Vocês três estão cochichando? Não querem dividir seus pensamentos com a sala toda? — Shepherd continuou sorrindo, provavelmente estava se segurando para não voltar a sua postura de cruel.
— Nada relevante. — Me afundei na cadeira cruzando os braços. Shepherd sorriu e tentou chamar a atenção da sala gritando "Atenção, por favor!", mas não teve sucesso algum. Cada grupo estava em seu devido lugar, ocupado demais para prestar atenção no professor. Em instantes, Shepherd estava com sua apostila de Astrologia iniciante batendo na parede para chamar, enfim, a atenção da classe, que parou de tagarelar.
— Obrigada pelo silêncio, pessoal. Hoje trabalharemos em grupos, está certo? — Sem deixar que o professor terminasse a frase, cada grupo grudou-se como um imã. O professor, já prevendo que aquilo aconteceria, começou a rir intensamente.
— É... eu acho que foram drogas mesmo. — Calvin finalizou e novamente Shepherd ouviu o que deveria ser um cochicho. Ele pegou uma folha de papel e escreveu algumas coisas e passou para a turma.
— Nessa folha vocês podem ver quem é do grupo de vocês. Passem para trás. Cada grupo tem o nome de uma constelação que pesquisará e trará sua classificação. — Calvin foi o primeiro a agarrar a folha de papel e fazer birra.
— Como assim Taylor, Lucy, Keagan, Felipe, Aaron, Rebecca, Blake, Marcus e Albert? Aonde está meu nome? — Ele choramingou. — Eu e Felipe temos o título de estarmos sempre no grupo e você quebrou isso só porque insinuei que você é drogado? Eu digo que é injusto.
— Foque no seu grupo, Calvin. — Shepherd diz com um tom vitorioso e Calvin faz cara feia.
O professor faz questão de detalhar como os trabalhos deveriam ser feitos e o sinal bate depois de longos cinquenta minutos.