Já faziam mais de dez minutos que eu estava sentada no vaso sanitário apenas observando atentamente minha calcinha, não havia nada ali, nenhuma gotinha vermelha.
Droga!
Me levantei desapontada. Vesti-a novamente e caminhei até a pia. Fiquei encarando a imagem no espelho, de frente... de perfil... lado esquerdo... direito... não havia nada de diferente em mim... então por que?
Prendi o cabelo em um coque e joguei água em meu rosto. Dei tapinhas de leve em minhas bochechas... eu parecia um pouco anêmica. Talvez estivesse na hora de ouvir minha mãe e comprar um suplemento vitamínico como ela sempre insiste para que eu tome, todas as vezes que me liga...
Respirei fundo e saí do banheiro. Quando cheguei na cozinha ele já estava tomando café, parecia concentrado demais em uma ação que nem demandava tanto esforço. As engrenagens em minha mente começaram a girar.
Desviou sua atenção da xícara apenas quando me viu aproximando-se, ele sorriu ao me ver dentro de uma de suas blusas. Fora isso, todo o lanche matinal transcorreu em silêncio. Eu queria perguntar o que estava incomodando-o mas ao mesmo tempo temia estar invadindo seu espaço pessoal. Relacionamentos são mesmos complicados, se bem que eu não me considerava uma veterana nas coisas do coração. Ele terminou de comer e levou a xícara para a pia.
- Ei... deixa isso aí, não precisa se incomodar... eu lavo...
Ele continuou lavando como se não tivesse me ouvido...
Ok, isso estava começando a me irritar. Até pouco tempo atrás estava tudo bem e agora isso... depois dizem que as mulheres são confusas...
Ele enxugou as mãos no pano de prato e veio até mim. Analisei sua expressão, ele não estava me dando nenhuma dica... Ele se inclinou e beijou o alto de minha cabeça.
- Eu vou em casa ver como minha mãe está, beleza?
Assenti com a cabeça.
- Depois eu venho e a gente dá uma revisada nas coisas, pode ser?
- Sim...
Ele sorriu amigavelmente e se pôs a caminhar em direção a saída. Fiquei ali observando-o até não poder mais, em seguida ouvi o barulho da maçaneta girando e depois da batida da porta sendo fechada. Deixei minha cabeça cair para trás por cima do encosto de minha cadeira e suspirei.
- Às vezes eu queria que minha vida fosse como a de um personagem daqueles romances que eu lia quando estava no ensino fundamental... tudo era tão simples... Por que a vida não pode ser mais prática, Deus?
Deixei meu olhar se perder nos objetos ao meu redor.
- Já que você não pode facilitar, então vamos assim mesmo, né?
Num impulso levantei da cadeira, levei minha xícara para a pia e derramei água dentro dela. Uma data estava circulada em vermelho no calendário, me senti um pouco ansiosa... eu tinha menos de uma semana e ainda não havia escolhido a música para apresentar. Fiquei ali tamborilando o mármore com minhas unhas, olhando fixamente para aquele número em destaque.
- Tudo bem Helena, você consegue fazer isso!
Respirei fundo outra vez, como se ao expelir o ar eu também conseguisse expulsar de dentro de mim todos os meus problemas. Estendi a mão e peguei a vassoura que Fernando havia usado como arma na noite anterior e caminhei em direção a sala. Liguei o som e comecei a afastar as coisas do lugar. Nada melhor do que ocupar a mente com algo útil...
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Quando abri os olhos dei de cara com um par de olhos curiosos me observando. Eu praticamente caí da cama quando o reconheci. Ele apenas sorriu.
- M-mas o quê significa isso?
Eu o observava assustada, mantendo a mão próxima a boca... eu tinha acabado de acordar... ou seja, nem tinha escovado meus dentes ainda... não que eu tivesse bafo... mas... Só então percebi que esta era a menor das minhas preocupações. Meu olhar encontrou meu reflexo no espelho e eu quase tive um infarto, meu cabelo estava simplesmente todo arrepiado, minha cara então... toda amarrotada. Pelo chão estavam jogadas várias peças de roupas... Este definitivamente era um péssimo dia para o meu "namorado" invadir meu quarto.
Percebendo meu desespero por ter jogado pela janela todas as chances de lhe causar uma boa impressão ele apenas sentou na beirada do meu colchão.
- Relaxa princesa, meu quarto é dez vezes mais bagunçado que o seu... não se importe com isso.
Eu fiquei um pouco sem graça, mas de certa forma algo dentro de mim se acalmou. Me sentei sobre minhas pernas e o encarei.
- E então... qual o motivo dessa "visita" logo cedo?
Ele olhou para mim surpreso.
- Cedo? Hahaha, você sabe que horas já são?
Tateei meu celular por debaixo das cobertas desesperadamente. Quase tive um "segundo infarto" ao constatar que realmente não era mais tão cedo quanto eu imaginava. Simplesmente meio dia e meia.
- Carambaaaa!
Ele apenas sorria.
- Pára de rir, isso é sério! Como pude dormir tanto?
- Sei lá... enfim... se arruma aí... vou te esperar lá embaixo.
- Como assim? Mas... espera aí, você não falou ontem que ia para um almoço com os seus pais?
- É... falei... mas prefiro a sua companhia.
Senti meu rosto esquentar.
- Apenas fiquei bem bonita... como se isso fosse difícil para você...rs...
- Rs...
- Relaxe, meu mano está me dando cobertura.
- E o que você está tramando? Posso saber?
Ele se aproximou e depositou um beijo em minha bochecha antes de se levantar e sair.
- É uma surpresa...
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Convergindo (Em Construção)
Novela Juvenil"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...