Capítulo XIV

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Beth caçou o toca-fitas sobre o criado mudo e apertou o play. Uma gravação mal feita de Proud Mary soou pelos fones de ouvido enquanto ela ajeitava as botas e saia do quarto, descendo as escadas e cruzando pela sala, evitando encontrar o olhar daqueles que estavam ali.

Arrastando-se pela grama com seu tornozelo ainda dolorido, a loira alcançou algumas ferramentas no velho estábulo e se pôs a encarar os tomates emaranhados.

Ela suspirou profundamente quando vestiu as luvas para arrancar as ervas daninhas, um ódio crescente subindo por sua garganta e se transformando em cacos que desciam rasgando de volta por ela.

Beth sabia que era inútil ficar remoendo as coisas que Daryl havia lhe dito. Era infantil de sua parte estar fazendo marra como se fosse uma garotinha do primário impedida de descer no escorrega, porém, Daryl estava a tratando como tal.

Ele não fazia ideia nem sequer da metade das coisas que tinham acontecido com ela. O homem em Shirewilt havia sido apenas um pequeno vislumbre do que teria acontecido naquele hospital se ela não tivesse aprendido a ser forte, a sobreviver.

Agora Beth agarrava-se a vida com todas as forças, e sempre tinha sido assim desde o nascimento de Judith, desde que a pequena menina loira de olhos espertos havia lhe dado um propósito, uma serventia. Beth queria ser forte para protegê-la, para carregar aquele pequeno pacotinho de esperança e mantê-la segura.

Queria que Daryl a admirasse, que pudesse ver o quanto ela amadureceu, mas parecia uma tarefa tão difícil quanto tirar leite de uma pedra.

Na noite anterior, Beth pensou que houvesse mudado a visão do Dixon, mas se viu completamente enganada.

— O que esses tomates fizeram pra você? — Rick chamou às costas da loira, fazendo com que ela se sobressaltasse, arrancando os fones do ouvido.

— Você me assustou — ela resmungou ofegante.

— Sinto muito. Só fiquei preocupado.

— Não precisa se preocupar comigo, Rick — Beth sorriu gentilmente, voltando sua atenção às ervas.

— Não com você. Com os tomates — o xerife respondeu enquanto sentava-se ao lado dela, desprendendo alguns ramos do tomateiro e amarrando-os com precisão nas estacas que o conduziam.

Beth e Rick dividiram um silêncio tranquilo enquanto continuavam presos em suas tarefas. A loira sentiu-se mais calma na presença do xerife, pensando em como seus problemas pareciam grãos de areia perto de tudo o que aquele homem havia enfrentado.

— Você é bom nisso — ela elogiou, observando a facilidade com que ele removia os ramos ruins, deixando apenas os melhores.

— Graças ao seu pai — Rick respondeu com um sorriso contido. — Antes dele, os únicos tomates que eu tinha visto eram os enlatados.

— Ele estaria orgulhoso — Beth devolveu sinceramente, sentindo-se feliz por perceber que conseguia falar sobre o pai como uma lembrança boa, não com sofrimento.

A manhã passou devagar enquanto os dois continuaram cuidando da horta, passando dos tomates para os pepinos, então para as cenouras e beterrabas.

Maggie chamou-os para o almoço quando o sol já estava forte demais para ser suportado e os dois se juntaram a mesa para comer.

Beth suspirou cansada, olhando para o lugar vazio ao lado de Maggie, arrastando-se para ficar ao lado da irmã.

Daryl, Glenn e Eugene estavam lá fora e isso era terrivelmente desconfortável para a Greene mais jovem. Desde o dia em que retornaram para a fazenda eles nunca mais tinham se separado. De repente sentiu-se culpada por compartilhar a ideia das placas solares. Se não fosse por isso, todos estariam reunidos em volta da mesa.

Soft Heart [Bethyl] REESCREVENDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora