Era sábado e eu me senti no direito de acordar bem tarde. Tarde o suficiente para meu café da manhã acabar sendo o meu almoço, o que me levou a optar por ser em um restaurante. Chequei a caixa de mensagens do meu celular no caminho para casa e notei que havia uma nova mensagem de texto.
- Mamãe, com certeza. – Pensei alto, mas cabei me precipitando demais e me enganando. Era Benedict, que tinha pegado o meu número logo naquele almoço que tivemos juntos pouco depois de nos conhecermos, mas, até então, nunca havia feito uso dele, motivo suficiente para eu nunca imaginar que essa mensagem viria do seu celular.
Meu coração bateu mais forte ao ver o seu nome acima do conteúdo da mensagem. Pensei em não ler tão imediatamente para bloquear esse sentimento, mas a curiosidade sempre foi de atrapalhar os meus planos.
“Oi, eu não sei se aguento esperar até segunda-feira pra te ver de novo. Que tal hoje mesmo? Aguardo sua resposta xx”
Pude ouvir sua voz ecoar nos meus ouvidos enquanto eu lia com um sorriso abobalhado. Não restava dúvida de que eu estava completamente apaixonada por ele, o que eu precisava mesmo saber era se ele correspondia, ou somente pretendia conquistar uma caloura para aumentar o próprio ego. Essa seria uma coisa que eu observaria bastante antes de me envolver, isto é, se eu já não estivesse envolvida demais.
De qualquer forma, tratei de retornar uma mensagem confirmando nosso suposto encontro. Não tardou muito e ele me enviou o horário que passaria na minha casa para me buscar.
Pela tarde eu repassei toda a matéria vista durante a semana nas aulas e isso ocupou todo o meu tempo. Ao terminar, tomei um banho relaxante e já vesti um tubinho, acrescentando um cinto fino um pouco acima da cintura, afinal, eu amava a moda dos anos sessenta e aquele era um dos meus vestidos favoritos.
Benedict tocou o interfone pontualmente e eu desci as escadas do apartamento na maior velocidade que pude – nada rápida, se levarmos em conta o salto que eu estava usando –, dei uma última ajeitada no visual e abri a porta, tendo a visão do rapaz recostado no carro com um cigarro na boca. Ele vestia uma jaqueta de couro – golpe baixo! –, jeans e All Star. Parecia mesmo uma miragem.
Ele me encarou dos pés à cabeça e abriu um largo sorriso, atirando o cigarro na beira da calçada.
- Você está linda. – Ele disse, abrindo a porta do carro para que eu entrasse. Um Gentleman!
Agradeci e entrei no carro. Ele fechou a porta e entrou pelo outro lado, já dando partida.
- Para onde vamos? – Perguntei.
- Você vai ver.
Ele me levou em um restaurante, o que foi perfeito, já que estávamos famintos.
- A noite foi ótima. – Disse, enquanto caminhávamos até o carro, após a refeição.
- Ei, calma. – Ele me encarou e deu uma risadinha. – Você se contenta com muito pouco.
- Desculpa? – Eu quis entender melhor.
- Nossa noite acaba de começar, Srta. Smith.
Senhora Cumberbatch soaria melhor.
- Ah, é? – Eu ri. – E para onde vamos agora?
- Pra um lugar especial.
Ele novamente acelerou o carro deixando o mistério. Era mesmo necessário me deixar tão curiosa?
Passamos por ruas movimentadas, alguns pubs e nada de chegar até o tão esperado destino. Virou uma esquina completamente deserta e seguiu em frente. Aquilo estava começando a ficar no mínimo estranho, para não dizer assustador. Ele parou o carro em um meio de nada.
- É aqui? – Perguntei quase que sem voz devido ao frio na espinha.
- Quase. – Ele saltou do carro e depois abriu a porta pra mim. Sai insegura. Ele pegou minha mão e foi caminhando comigo.
Atravessamos uma rua e paramos na frente de um antigo teatro, completamente abandonado.
- Aqui. – Ele finalmente disse, com um sorriso.
Eu não disse nada, não sabia o que dizer e também não faria diferença alguma, Benedict estava tão empolgado que foi me puxando para dentro do teatro e indo direto a um interruptor, onde acendeu todas as luzes que, ao iluminar todo o local, nos deu a visão de um teatro enorme e que nem parecia o interior daquela entrada em ruínas. Eu fiquei encantada e, claro, um tanto aliviada.
- Como descobriu esse lugar? – Perguntei.
- Por um acaso estava passando por aqui e o vi. Ele precisou de uma boa limpeza e umas reforminhas amadoras.
- Você que andou cuidando daqui?
- Bom, alguém teria que fazer isso. – Ele sorriu orgulhoso. – Além do mais, esse lugar tem sido meu local oficial de ensaios desde que eu o arrumei, é bem eficiente e privado.
- Sim, eu imagino. Todo mundo deve amar vir aqui com você. – Eu deduzi.
Ele deu uma risada sem graça e depois limpou a garganta.
- Na verdade, você é a única pessoa que eu trouxe aqui.
Eu o olhei realmente surpresa, enquanto ele sorria levemente para mim.
- Nossa, eu... estou honrada. – Dei uma risada discreta, mas interiormente estava prestes a soltar fogos de artifício e lançar confetes.
- Sabe, em alguns meses vamos estar apresentando uma nova peça escrita pelo Simon, um amigo meu metido a escritor. – Ele mesmo riu. – E, bem, eu vou fazer o teste para protagonista, mas preciso que você me ajude.
- E como posso te ajudar?
- Contracenando comigo. Aqui e agora.
- Ah, Ben, eu não sei, não...
- Por favor! – Ele insistiu. – Você ama teatro e estamos sozinhos aqui mesmo, que mal teria em você ajudar um amigo em algo tão simples?
Parei para pensar a respeito. Ele fez carinha de pidão e seus lábios balbuciaram um “por favor”. Droga! Era impossível resistir.
- Tudo bem, mas só dessa vez. – Eu cedi.
- Obrigado! – Ele sorriu de uma orelha à outra e me conduziu até o palco.
Ele me mostrou o roteiro para que eu conhecesse os personagens e a história, que se baseava em dois gêmeos, de placentas diferentes, que foram separados na maternidade e que agora se reencontravam e viviam uma paixão intensa, sem ter a mínima noção de que compartilhavam do mesmo sangue.
- Nossa, é realmente uma boa história. – Eu comentei, após terminar de ler.
- É sim e eu amaria ser um dos irmãos.
- Bom, então vamos ao trabalho.
Começamos a ensaiar. Muitas vezes erramos as falas ou o que devíamos fazer, o que certas vezes acabava se tornando impossível prender o riso. Acima de ser uma ajuda ao Benedict, aquilo estava sendo uma diversão e tanta pra mim. Era bom estar em um palco, encenando, ainda mais com um cara feito o Benedict, que entregava a sua alma às peças. Estava sendo algo realmente prazeroso.
- Essa é a parte em que os irmãos se beijam pela primeira vez. – Eu conferi no papel com o roteiro. – A gente pode pular essas... – Antes que eu pudesse ao menos completar a minha frase, Benedict avançou contra mim e me beijou. Um beijo demorado e cheio de desejo de ambas as partes. Ele segurava a minha nuca com a mão direita e a esquerda estava nas minhas costas, garantindo que meu corpo estaria colado no dele.
O beijo teve continuidade até que ficássemos completamente sem ar.
- Desculpa se eu me precipitei, mas é que...
- Não peça desculpa. – Eu o interrompi. – Eu continuei porque eu quis, certo?
- É. – Ele riu.
Eu sorri e o puxei para mais um beijo.
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In My Life
FanfictionLucy Smith, uma jovem de Liverpool, pressionada pelos pais, entra na Universidade de Manchester para estudar Medicina, o que não fazia realmente parte de seus planos. Com o coração entregue ao ex-namorado da garota mais influente da Universidade, Lu...