A Herdeira das Borboletas

Ela está melhor?

                – Mamãe! – Malina e eu gritamos no mesmo instante correndo até onde nossa mãe está apagada.

                – Lia, minha nossa! Lia acorda! Meu amor? – Papai fala apavorado. De todas as pessoas desse mundo sei que nunca existirá um amor mais forte que o deles. – Mary traga logo essa maldita água. Davina vá chamar o seu tio. Malina apague esse fogo.

                – Estou indo. – Falo e saio correndo o mais rápido que posso por conta do vestido. Tio Alec mora a duas ruas da nossa e tem uma ligação com nossa família que eu nunca consegui entender. A princípio eu achava que ele era irmão da mamãe, já que o papai não tem irmãos, mas um dia Malina questionou o porquê de ele ser casado com a tia Luna que também é irmã da mamãe. Nossos pais então explicaram um emaranhado de palavras confusas a respeito do tio Alec, do tio Will, da tia Angel, da Tia Gina e da Tia Linara. O que foi mil vezes pior, pois agora a história não fazia sentido algum.

                Chego à porta da casa e bato. Rapidamente uma criada atende.

                – Preciso falar com o titio. – Falo e ela assente me deixando passar pela porta e me guiando até a sala de estar onde tio Alec e tia Luna conversam.

                – Querida que bom receber sua visita. – Titia fala ficando de pé e vindo me abraçar com um sorriso no rosto. Retribuo o abraço e falo:

                – Preciso de ajuda.

                – O que houve? – Titio pergunta.

                – Minha mãe está desmaiada. Sem nenhum motivo aparente ela simplesmente apagou. – Falo. Ele não me responde, apenas fica de pé e começa a recolher alguns materiais de consultório.

                – O que aconteceu? Sua mãe está bem? Minha nossa... – Minha tia fala pegando um cachecol.

                – Vamos? Minha maleta já está pronta. – Meu tio fala e nós seguimos para minha casa.

                – O que aconteceu querida? – Tia Luna fala nervosa.

                – Estava tudo bem. Quando chegamos da escola mamãe perguntou como foi o nosso dia, então começamos a falar dos professores novos. Então ela ficou nervosa quando eu falei que tinha uma nova professora de etiqueta chamada Ester. Logo depois ela desmaiou.

                – Ester? – Tio Alec pergunta em um tom de preocupação. – Se estou pensando corretamente eu sei exatamente porque a Lia desmaiou.

                Continuamos andando silenciosamente, tia Luna parece tão preocupada que a todo o momento pensa em levar a mão à boca para roer as unhas, mas logo depois se repreende. Quando finalmente chegamos a casa, abro a porta e meu pai fala:

                – Graças a Deus! Porque demoraram tanto?

                –Tenha calma, ela só está desmaiada. Onde Lia está?

                –Está no quarto, venha me siga.

                – Acho melhor ficarem aqui, meninas. Não é muito bom que várias pessoas estejam lá quando sua mãe acordar, ela pode se assustar. – Ele fala e sai, deixando eu, Malina e tia Luna esperando ansiosamente. Olho para janela e vejo que o céu já está escurecendo.

                – Acho que devemos jantar. – Falo tentando fazer o papel de anfitriã que quase nunca é passado para mim, pois mamãe sempre está presente em todas as ocasiões de celebração na nossa casa.

                – Acho uma ótima ideia querida. Saí às presas e nem me lembrei de perguntar se queria algum biscoitinho. – Ela levanta e Malina também. Seguimos para sala de jantar e Mary, intuitivamente começa a por a comida. Tia Luna olha maravilhada para o pudim. Sempre foi o doce favorito dela.

                                                                        ***

                Quando acabamos o jantar voltamos para sala de estar onde Malina foi tocar piano. Eu nunca aprendi a tocar piano ou harpa. Nunca tive ritmo algum. Mas Malina era ótima naquilo, e estuda para ser musicista.

                – Acho que vou para meu quarto. – Falo, não aguentando mais de ansiedade. Meu quarto fica do lado do quarto dos meus e se eu entrar no armário consigo escutar qualquer coisa que falam, não que eu faça isso sempre. Sigo até o armário e encosto a cabeça na parede. Escuto as três vozes. Mas se mamãe já está acordada porque ainda não saiu?

               – Precisamos fazer alguma coisa. – Papai fala.

                – E o que você vai fazer? Chegar à escola e dizer para demitirem alguém que nem aula deu ainda? – Mamãe pergunta.

                – Precisamos pensar em outra coisa. Minha filha também estuda no conservatório caso não lembrem. – Tio Alec se refere à Caroline.

                – Mas como ela conseguiu? Eu achei que tinha acabado. – Mamãe choraminga.

                – Talvez ela só tenha voltado à forma original e depois nadado até aqui igual à Lina. – Papai fala. Mas o que a tia Lina tem com tudo isso afinal?

                – E se formos embora? – Mamãe pergunta.

                – EMBORA? – Pergunto sem querer alto demais.

                – Alguém está ouvindo, – Tio Alec fala. – acho melhor conversar sobre isso depois.

                – Tudo bem. – Mamãe e papai falam ao mesmo tempo e então saem do quarto. Corro para fora do armário e me cubro rapidamente. Papai abre a porta e eu finjo está dormindo.

                – Eu sei que você não está dormindo Davina. – Abro os olhos, levanto e me sento. – Pode me contar um pouco mais sobre a sua professora?

                – Eu não sei muita coisa sobre ela. Só o que vi pela aparência. Mas ela parece ser uma pessoa alegre e divertida.

                – E como é sua aparência?

                – Ela tem um cabelo preto bem comprido e liso, mas estava preso em uma trança. E ela tem olhos azuis.

                – Foi o que eu pensei.

                – Porque o senhor está perguntando isso?

                – Ah muito tempo, antes de vocês nascerem, sua mãe conheceu uma moça chamada Ester, e ela parece muito com a moça que você descreveu. Ela aparentava ser uma boa pessoa no começo, mas depois ela transformou a vida da sua mãe. Foi por causa dela que nós conhecemos seus tios Alec, Will, Linara, Angel e Gina. Eles passaram por histórias parecidas com a da sua mãe e então seu avô e a senhora Fleur Adams acolheram eles.

                – Mas o que foi que Ester fez com eles?

                – Eu não sei querida. Acho que você deve perguntar a sua mãe. Agora venha, acho que ela quer falar com todos lá na sala.

                – Ela já está melhor? – Pergunto mesmo já sabendo a resposta.

                – Você sabe que eu sei que era a senhorita que estava escutando por trás das paredes. – Ele fala.

                – Eu sei, mas queria disfarçar um pouco. Vai que funcionava. – Falo e nós dois saímos do quarto e seguimos para sala. Malina tinha parado de tocar piano e agora estava sentada no sofá junto com a tia Luna. Tio Alec está na poltrona e eu e papai nos estabelecemos no outro sofá enquanto mamãe começava o discurso de pé:

                – Tenho um anúncio a fazer. Sei que vai ser difícil para vocês duas. – Falou olhando de mim para Malina. – Mas nós iremos embora.