// S I X //

61 4 3
                                    

"Pra onde você foi ontem? Não te encontrei quando fui embora" Esther perguntou, depois de me deixar sentar ao seu lado durante a aula de história.

"Eu tinha perdido a vontade de ficar e então fui embora" escolhi os ombros enquanto buscava o caderno na mochila.

"Podia ter me avisado, eu teria ido também" ela sussurrou.

"Não, Esther. Você estava com o George" eu comentei. "Eu não preciso que deixe de ficar com alguém por mim"

Ela não disse mais nada, apenas voltamos a atração na fala do professor.

Eu não aprecio o fato de Esther querer deixar um momento de amassos com alguém que ela esteja afim só pra vir embora comigo. Eu me sinto como se estivesse empatando algo na sua vida.

{...}

Esther e George ficaram para o almoço enquanto eu andava de volta para o meu quarto. Eu não pretendia aparecer no refeitório e encontrar Matthew com a cara emburrada como sempre ficava, correndo o risco de receber indiretas idiotas. Então apenas decidi deixar para comer mais tarde.

"Mãe?" meus pensamentos foram apagados rapidamente ao ver uma mulher parada diante da porta do meu quarto.

Ela me olhou com uma expressão séria e mantinha os braços cruzados diante do blazer cinza que cobria a blusa de botão cor de rosa. Eu não conseguia decifrar qual seria o seu humor, então apenas abri a porta e entrei, deixando que ela fizesse o mesmo depois de alguns segundos.

"O que você veio fazer aqui?" eu perguntei, deixando o meu matéria em cima da mesa de estudo.

"Você anda indo em festas, Abigail?" ela perguntou séria, se sentando na cama de Esther.

Eu deixei um riso escapar pelo meu nariz enquanto me sentava na cadeira diante dela. Isso é sério?

"Mãe, por quê essa pergunta?" eu a olhei e a vi suspirar alto.

"Não enrole, Abby" ela comentou. "Me responda" mandou.

Desviei os meus olhos do seu rosto e passei a encarar a janela com a persiana levantada, deixando a luz do dia nublado entrar e iluminar o ambiente. "Sim" meus olhos subiram e desceram em resposta.

"O que eu te falei sobre essas festas, filha?" ela se aproximou, pegando na minha mão.

Os seus olhos procuraram pelos meus e eu podia ver preocupação no seu rosto.

Pare de viver pela sua mãe. A frase que George me disse durante o almoço dias atrás apareceu na minha cabeça, me fazendo raciocinar.

"Mãe eu tenho vinte anos, sei bem o que é certo e errado. Acho que está na hora de provar realmente os perigos que a vida proporciona" eu quebrei o silêncio com a voz mais baixa do que esperava.

Minha mãe soltou uma risada ao mesmo tempo que se colocava de pé. "Não é assim que as coisas funcionam na vida real Abby"

"Como eu posso saber se você não me deixa tentar pelo menos uma vez viver como os outros da minha idade?" cruzei os braços não querendo acreditar que estávamos tendo esse tipo de conversa pela milésima vez.

"Porque você não é como os outros, Abigail" ela deu passos apressados até mim e se ajoelhou ficando na minha altura. "Eu não quero que depois de tudo o que você viver, você apareça na porta de casa chorando por ter tido um coração partido por um idiota qualquer; ou por ter contraído algum tipo de vício; por ter se arrependido de ter feito algo." ela respirou fundo. "Eu não quero que a minha pequena menina se arrependa de viver"

Eu pensei mas nas suas últimas palavras. Isso não fazia o mínimo sentido de acordo com o que ela queria dizer. Minha mãe teve uma vida completamente oposta da qual eu vivo hoje. Os meus avós não tinham dinheiro para sustentar uma criança e com isso tiveram de passar a maioria dos dias fora trabalhando com o que desse; quando já era maior, minha mãe saía com vários garotos para festa e bevia até esquecer o próprio nome. Sem contar nas quantidades de vezes que ela deve ter feito sexo com diversos rapazes também. Mas agora, eu não posso viver assim, eu tenho que ficar longe festa, garotos, bebidas; tudo aquilo que faz a vida valer a pena.

"Mãe, a única coisa na qual vou me arrepender depois de muitos anos, será de não ter vivido" eu suspirei, me levantando.

Meu corpo caminhou de um lado pro outro enquanto eu pensava no que estava prestes a dizer.

"Eu não quero chegar aos setenta e dois anos e sentar em uma cadeira de balanço na varanda de casa e pensar no tempo que eu perdi sem poder ter vivido como a Esther ou como o Jake. Eu não quero acordar todas as manhãs sozinha por não ter arranjando sequer um namorado durante a minha adolescência, ou um marido. Eu não quero me arrepender pelo tempo que eu tenho agora pra viver mãe, porque eu sei que quando eu tiver com os meus setenta e dois anos, eu não vou conseguir realizar aquilo que eu pretendo hoje" finalmente terminei, tomando uma respiração longa e calma, acalmando o sangue fervente que corria por debaixo da minha pele.

Um silêncio desconfortável se montou entre nós duas no quarto até a porta ser aberta e Esther nos olhar. Ela me encarou por um momento e antes de perceber, murmurou um "depois eu volto aqui."

"Você está certa" ela sussurrou por fim, me fazendo um pouco surpresa.

Uma corrente de alívio passou pelo meu corpo e eu deixei um sorriso fraco se abrir no meu rosto. Andei até ela e a abracei por alguns segundos.

"Mas só tem uma coisa" ela avisou, me soltando. "Isso não significa que você poderá usar drogas. Drogas sem cogitações." adicionou, me fazendo rir e concordar. "E faça questão de escolher aquele rapaz que te faça sentir viva"

"Eu vou mãe" assegurei.

Esther voltou para o quarto depois de eu ter lhe mandado uma mensagem dizendo que já podia vir. Ela e minha mãe falaram sobre o George e também sobre Frank.

Depois que minha mãe foi embora,  Esther me olhou com um sorriso no rosto esperando provavelmente eu dizer algo.

"Pare de me olhar assim" revirei os olhos, levantando da cama.

Eu estou com fome. Muita fome. Acabei deixando a conversa com a minha mãe render e depois com a Esther.

"Eu tenho algo pra você" ela disse, sem tirar os sorriso do rosto. "Veio de um garoto"

Ao ouvir aquelas palavras senti uma parte do meu coração gelar e automaticamente me veio na mente a imagem daquele suposto rapaz de cabelos cacheados escuros, assim como suas roupas e com um cigarro na mão. Matthew, eu me peguei imaginando que esse garoto poderia ser o Matthew. Balancei a cabeça espantando a imagem que antes eu fantasiava.

"Cadê" estendi a mão.

Esther soltou uma risada e me entregou um pedaço dobrado de papel. Um bilhete.

"Até que ele é muito lindo" ela murmurou, enquanto eu desdobrava.

"Cala boca" eu ri junto da loira. "Você tem o George"

"Então quer dizer que você está interessada nele?"

"Não quis dizer isso Esther, pelo amor de Deus" eu ri. "Mal o conheço, só disse isso porque você realmente está com o George"

"Que seja, lê logo" ela me deu uma cotovelada graça no braço.

Olhei pro pedaço de papel que eu segurava já aberto e li silenciosamente:
Foi realmente bom ter conhecido você noite passada, espero podermos sair algum dia. X. H

----

olha eu aqui de novo u.u

gente desculpa a gigante demora, é que ano de vestibular é foda, mal sobra tempo pra fazer as coisas, a sorte é q eu tenho uns capítulos prontos e é postar hihihi espero que tenham gostado :)

nos vemos na próxima s2

// Heart Out // M.H + H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora