Capítulo 11

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   Você descobre que o mundo é injusto quando sua obra de arte feita com tanto zelo e capricho não ganha o mesmo destaque que um retângulo é um borrão de tinta. Benjamin não incrementou nem uma linha depois de me mostrar o desenho, apenas passou uma tinta preta dentro do retângulo e fez um discurso semelhante ao destinado a mim pra Vanessa, que aplaudiu a forma como ele enxergava a arte, segundo ela com o coração, vê se mereço. LG se superou mais uma vez, fez uma mistura de tintas, chamou de arte abstrata e ganhou um sorriso animado e uma conversa breve sobre as formas de expressão atualmente. Valentina, apesar de não ser ovacionada como os  outros, teve sua obra muito elogiada, também pudera, só um cego para não perceber a beleza e tranquilidade da paisagem retratada. Arthur também se destacou ao explicar com seu vocabulário rebuscado o porquê de escolher  formas geométricas, digamos que resumindo tudo o que disse, ele se tranquilizava com matemática, que tipo de castigo era aquele?
 
   Tudo bem que eu não era nem um Picasso da vida, nem tinha nascido como da Vince, mas acho que minha obra deveria ser reconhecida dentro daquelas quatro paredes pelo menos como péssima, mas ela era no máximo bonitinha. Como forma de protesto pela minha atual situação eu havia desenhado o prédio da clínica atrás de grandes portões de ferro, na frente a estrada pela qual eu havia chegado, e no meio dela um boneco de pauzinho carregando uma mala todo sorridente, o boneco no caso era eu que não era nenhuma artista, e o prédio nem se parecia com o real mas  todos estavam de prova que eu desenhei até as grades de madeira para representar melhor. No meu ver -e no meu discurso- minha arte queria dizer que eu era feliz e me sentia bem em qualquer lugar desde que fosse longe daqui, é claro que não fui bem interpretada, prova disso era a conversa extra com a Dra. Cris amanhã para avaliar minha aceitação em relação à clínica. Quando eu acho que não pode piorar eu mesmo cuido pra tudo dar errado. 

   Na hora do almoço eu já previa meu descanso mas Valentina como sempre tinha que estragar meus planos. Ela havia montado um grupo -no caso eu, Benjamin, Arthur e LG- para fazer uma visita a gêmea que havia sido internada, e nem adiantava discutir com aquele espírito de ajudar o próximo, o máximo que íamos conseguir era uma lição de moral sobre abandonar o egoísmo e pensar mais no outro. 

_Mas você nem conhece ela! -destaquei enquanto era arrastada até o quarto/hospital em que a  garota estava internada

_Isso não significa que eu não possa querer o bem dela -Valentina se virou pra mim com toda a calma e paciência que alguém podia ter- Olha eu sei que pode parecer estranho você visitar pessoas hospitalizadas sem nunca ter feito isso antes, mas acredite, você vai se sentir bem porque a pessoa vai ficar bem. Eu não sei como dizer isso em outras palavras mas ajudar quem precisa é a melhor coisa a fazer por si mesmo, quando eu estava mal tudo o que eu queria era isso, apoio, e eu recebi, não deixou de ser importante por ter vindo de desconhecidos -obrigada Valentina, por me fazer sentir a pessoa mais insensível do mundo 

_Eu não me dou bem com estranhos, -confessei- vocês foram um milagre que não acontece com frequência -Valentina arqueou suas sobrancelhas como se estivesse ligando o que eu falei a algo e depois pareceu mudar de ideia 

_Tudo bem, você não precisa falar com ela, eu cuido disso -ela apertou minhas mãos de maneira confortante e seu sorriso parecia me entender, eu não queria que ela me entendesse, isso significaria que ela estava prestes a saber porque eu estava lá e eu não queria isso- além do mais os meninos vão me ajudar certo? -aquilo era uma pergunta disfarçada de ameaça e os três garotos que até o momento não prestavam muita atenção entenderam o recado e assentiram 

  Quando entramos no quarto a Dra. Cris estava falando alguma coisa com a garota na cama enquanto a irmã dela ajeitava os travesseiros. A gêmea internada estava mal, pelo menos parecia, a pele bem pálida e sem vida, os lábios secos e rachados, olheiras profundas, o cabelo precisava de cuidados e ela estava só os osso, era muito magra.

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora