Seguir Benjamin foi uma péssima ideia, tive certeza disso depois de quase perder meu dedo em uma pedra, e olha que meu sapato era fechado. Ele por sua vez não pareceu se importar muito com o possível acidente, estava mais ocupado pensando se ia pra direita ou pra esquerda, se eu já não tivesse me arriscado para ir até ali escolheria dar meia volta e procurar pela minha cela particular que agora me parecia tão agradável. Por fim ele decidiu por direita e eu permaneci em seu encalço até ele parar abruptamente me fazendo dar de cara com suas costas largas e rígidas.
_Algum problema? -perguntei tentando soar calma, o que com certeza eu não estava
_Tirando o fato de eu ter pego o caminho errado nenhum- falou com naturalidade como se aquilo não significasse sua própria morte
_Como disse? - indaguei incrédula, eu tinha andado tudo isso atoa?
_Que pegamos o caminho errado, eu me confundi, são muitas plantas pra se decorar -Deus me proteja da vontade de pecar contra a vida alheia
_Acho melhor voltarmos, por aqui -disse apontando o caminho pelo qual havíamos vindo. Lhe lancei um olhar do tipo "o que me garante que esse lado é o certo?" E ele me devolveu um do tipo "Não gostou vai na frente", eu iria mas não queria me perder mais ainda, e olha que ele havia conseguido esse feito mesmo cercado de um grande muro e portões de ferro- eu não tenho culpa se a vegetação daqui se transforma sempre, minha memória fotográfica e tão boa quanto seu talento para o desenho.
_Oi? Pensei que tivesse dito que eu desenhava bem -e minha memória era ótima, ele disse que meu boneco de palitinho havia ficado bem realista e o prédio parecia uma fotografia de tão bem representado, bem que eu achei um exagero
_Não vou negar que eu disse, -ele deu de ombros e pela sua voz sabia que estava abrindo um sorriso mesmo estando de costas- mas isso não significa que eu tenha falado a verdade.
Se Benjamin tinha alguma chance de sair vivo depois de me fazer andar pra caramba atoa, essas chances haviam acabado nesse exato momento.
_Chegamos! -concluiu animado quando minhas mãos estavam quase alcançando seu pescoço, técnicas Valentina de autodefesa
Parei meus movimentos e olhei ao redor me esforçando para tirar aquelas ideias assassinas da minha cabeça. Depois de passar por um campo de flores altas e perfumadas a grama era baixa, bem verde e se estendia até onde a vista alcançava, um pouco mais a frente um grande lago deixava a paisagem ainda mais bela, tinha a água limpa e convidativa e alguns patos -isso segundo o meu conhecimento da fauna, que não era grande coisa- nadavam tranquilamente, havia um píer logo à frente e em uma parte mais rebaixada um banquinho de madeira. Era de se encher os olhos.
_Isso ainda é dentro da clínica? -perguntei curiosa, não me lembrava de ter ultrapassado nenhum limite, e se tivéssemos era a minha chance de sair correndo por aí
_Sim, ainda estamos na clínica- escondi minha decepção e olhei ao meu redor chocada, qual era o tamanho desse lugar, porque eu sentia que até o final desses trinta dias eu ainda não ia conhecer tudo. Benjamin pareceu entender meu olhar- olha, espaço é o que não falta aqui, você pode tirar isso pelo casarão, certamente quem morou aqui queria uma mini cidade dentro de casa.
Me aproximei dando alguns passos a frente, o sol por incrível que pareça não estava escaldante, o que tornava o dia bonito com algumas nuvens, uma leve brisa se fazia presente balançando as milhares de flores pelo campo espalhando seu perfume inebriante. Pela primeira vez em dias eu me sentia bem em algum lugar, me sentia a vontade, livre, me sentia em casa é isso era surpreendente. Aquele era o primeiro lugar em toda a clínica no qual eu não me sentia em constante fiscalização ou realmente em tratamento, e eu queria sentir isso por um bom tempo.
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Minha geração problema
Teen FictionAlexia era uma garota normal, ou pelo menos queria ser. Ela não se lembrava exatamente quando começou a se sentir diferente, mas se lembrava de quando teve certeza que não era como as outras pessoas. Agora ela precisa provar que não tem um problema...