06/09/2010
Rodrigo ligava insistentemente para o número de Tiago, que persistia em dar fora de área. Depois de ter faltado no encontro, a relação entre os dois esfriou bastante por parte de Tiago, que não conversava da mesma forma que outrora. Rodrigo sentia-se angustiado por não ter notícias recentes de seu suposto namorado, e ligava incansavelmente,até que de repente, houve uma voz do outro lado da linha.
- Alô? - Era Tiago.
- Como você some assim? Eu tô há dias tentado te ligar e você simplesmente some. - Perguntou Rodrigo.
- Não acho que devemos continuar conversando. - Falou Tiago. Rodrigo, que estava em pé, foi até a porta do quarto, fechou-a e sentou na cama. O que ele queria dizer com aquilo?
- Do que você está falando, Tiago?
- Eu estou falando sobre não nos falarmos mais. Eu sei o que você fez com a Cléo. - Rodrigo franziu o cenho.
-Pera aí, Tiago! Eu já disse que meu computador foi hackeado, a polícia já esteve aqui e já levou meu antigo computador, meu celular e câmera digital embora. Me dê uma chance de mostrar a você que eu não sou quem você pensa que eu sou. Mas me fala, foi seu tio quem falou isso de mim, não foi?
- Rodrigo, que mundo você vive? Esse vídeo já virou viral, todo mundo tá comentando sobre. Você pode até dizer que não foi você quem postou aquilo, mas eu conhecia a Cléo e pude ver claramente que você estava fazendo tudo aquilo contra a vontade dela.
- Me dá uma chance pra eu te mostrar que eu não sou essa pessoa que você pensa que eu sou. Por favor... - Tiago bufou do outro lado da linha.
- Tá bem. A gente pode se encontrar no Shopping Novo horizonte, amanhã às 15 hrs, tá? Em frente ao cinema.
- Ótimo! - De repente, Gabriela abriu a porta do quarto de Rodrigo e entrou raivosa, ao perceber que ele falava no telefone com seu ''namorado'' - Tchau, beijos.
Gabriela cruzou os braços e olhou irritada para Rodrigo.
- Você tá atrás desse garoto de novo?
- O que você tem a ver com isso, Gabriela? Nós não temos nada!
- Temos sim! Eu sou sua namorada! - Gabriela bateu o pé. -Eu sei que eu posso mudar você - Gabriela foi pra cima de Rodrigo, que empurrou-a, mas sem machuca-la, afastando-se.
- Pelo amor de Deus, Gabriela! - Rodrigo ficou de pé e de costas para a loira. - O que você quer de mim? O que ainda tá esperando de mim pra não ir embora e ficar com outro? Olha pra você, você é uma menina bonita, atraente, não precisa de mim! - Gabriela olhou raivosa para o rapaz.
-Eu perdi minha amizade com a minha melhor amiga pra ficar com você, e é assim que você me trata... - Rodrigo riu irônico.
- Melhor amiga? Me poupe, você só usava a Cléo! Você nunca esteve nem aí pra ela! - Gabi arregalou os olhos, ofendida.- O que você quer de mim pra poder me deixar livre, hm?
-Vai ter um stand de uma agência em um shopping amanhã, e eu gostaria de participar, mas eu não tenho dinheiro. - Rodrigo foi até seu guarda-roupa e pegou sua carteira, jogando-a em direção à namorada.
- Pega esse dinheiro aí, e se precisar de mais eu peço pro meu pai, se o problema for esse. Mas por favor, me deixa em paz! - Fungando, Gabriela pegou a carteira e saiu do quarto. Rodrigo não sabia mais o que fazer para afastar a menina.
Cléo lia um livro que foi dado por João, para que ela se distraísse enquanto estava lá, trancada. O nome do livro era O silêncio dos inocente, particularmente, uma péssima opção de leitura.
- Posso entrar? - Perguntou João.
- Uhum. - Cléo já havia se acostumado com aquela situação, então não conseguia sentir mais tanta raiva do homem, tanta raiva, não significava que não sentia raiva alguma.
- Trouxe seu lanche da tarde. - Cléo fechou o livro com um marcador de páginas no meio, e colocou-o no criado-mudo.
- Que dia é hoje? - Perguntou Cléo, pegando o pão com presunto para dar uma mordida.
- Hoje é segunda, dia seis de setembro. - João já havia criado afeição por Cléo, via nela uma filha. Estava inquieto, tinha uma proposta para fazer, mas não conseguia juntar as palavras para falar, então observava Cléo comer.
- Você ligou pra Vitória essa semana? - Perguntou Cléo.
- Liguei... -Mentiu João, ele não ligava tão frequentemente para a filha para perguntar as coisas, afinal, isso levantaria suspeitas. - Está tudo bem com a sua mãe, nada de novo.
- E quando o Vicente vem? - Perguntou Cléo, com um tom de medo na voz.
- Não faço ideia... - Vicente não ia visitar sua menina desde o mês passado. João achou que aquele era o momento certo pra falar, então acumulou as palavras e abriu a boca.
- Cléo... - A menina que mastigava olhando para a televisão, voltou os olhos para João - Você quer dar uma volta? - Cléo arregalou os olhos, e não pensou muito em responder.
- Vamos! - Cléo ficou de pé e passou a mão no vestido que usava desde o antigo cativeiro, para desamassa-lo.
- Mas você tem que me prometer que não vai fugir, por favor... - Cléo mordeu o lábio inferior decepcionada, mas concordou, não aguentava mais ficar naquele quarto úmido.
- Vamos então, é bom que você conhece o bairro. - João saiu pela porta, e Cléo o seguiu. Ficava tanto tempo sentada ou deitada que tinha certa dificuldade para poder andar tranquilamente. A menina e o homem desceram as escadas que davam em uma varandinha nos fundos da cozinha e passaram pelo cômodo, depois indo para a sala, até saírem pela porta da frente, rumo à rua.
Cléo sentia-se fora de órbita sempre que entrava em contato com o ambiente externo, era uma sensação de medo, e desproteção, ainda que soubesse que corria mais perigo trancada dentro do quarto de Vicente, do que ali fora, mas ainda sim, era estranho entrar em contato com o mundo real daquela forma.
- Você aceita um sorvete? - Perguntou João, enquanto os dois caminhavam em uma reta.
- Com certeza. - Cléo foi observando a vizinhança, e viu que era um bairro em desenvolvimento em uma cidade pequena, havia mais terrenos baldios que casas. De repente eles pararam em uma sorveteria colorida. João subiu o pequeno degrau, sentou-se em uma cadeirinha laranja, e Cléo fez o mesmo.
- Qual sabor você vai querer? - Havia um catálogo de sabores em cima da mesa, João afastou a cadeira para perto da menina para que os dois pudessem ler o catálogo juntos.
- Acho que vou pedir de morango. - Disse Cléo.
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Estocolmo
RandomUm amor obsessivo e uma vítima. Às vezes, a mente promove situações irreais, onde nem sempre o que queremos é o que teremos. Mas, para Vicente, manter Cléo em cárcere durante anos, fazendo-a perder parte da vida dentro de um local onde apenas ele ti...