CRYSTAL BLUE
Entrei em casa, minha mãe está sentada na sala assistindo TV. Passei direto e subi as escadas, escuto uma música vindo do quarto do Nick e me sinto feliz por ele estar em casa. Bato na porta e entro.
- Oi, Nick! - Esboço um sorriso pra ele.
- Olá, Crys! Você está bem? - Ele retribui o sorriso e me lança um olhar aliviado.
- Estou. E você irmãozinho?
- Estou bem, porém confuso. O que aconteceu com você ontem? A mamãe está casada com um cara que eu não me lembro de ter visto antes. Você o conhece?
- Sim, conheço. Ele é meu ex professor de história, me deu aula durante todo o ensino médio. Não gostei nem um pouco da mamãe ter se casado com ele. Como ela pôde decidir se casar e trazer alguém pra morar aqui em apenas três meses, sem ao menos ter nos comunicados sobre isso?
- Seu ex professor? Meu Deus! Isso realmente é estranho!
- Muito estranho! A mamãe conversou com você? O que ela disse?
- Só disse que decidiu se casar porque ama o Lucien, e tem certeza que ele a ama também. Não interpretei como uma coisa tão ruim. Afinal, a mamãe precisa ser feliz, não é?
- Sim, ela precisa. Só não consigo me ver fazendo parte dessa "família feliz". Você sabe o quanto eu amo o papai, e o quanto eu sofri com a separação deles. Não quero ver outra pessoa ocupar o lugar dele nessa casa. Então decidi que vou morar temporariamente no quartinho da lanchonete.
- O que!? Aquele quarto está imundo! E é tão pequeno! Aqui é sua casa também, fique conosco!
- Não dá, Nick. Não vou ficar onde não me sinto bem. Nos veremos todos os dias, afinal a lanchonete é da nossa mãe, você sempre está por lá ajudando e também é meu local de trabalho. Preciso aprender a ser independente, talvez esse seja só o primeiro passo. Se por acaso você precisar de algo, me liga que eu venho correndo!
- Não gostei nada disso, mas não quero te ver infeliz. Todos os dias depois da aula, estarei lá te perturbando. Entendo que não queira morar aqui, mas não se afaste da mamãe.
-Vou tentar, maninho. Te amo!
- Te amo mais, Crys!
Saio do quarto do Nick e caminho em direção ao meu quarto, abro a porta e tomo um susto tão grande que quase escorrego no tapete de entrada e levo um tombo. Mas o que é isso? Tem um cara dormindo na minha cama! Fechei a porta espantada antes de nem reparar se o cara acordou com o alvoroço que fiz. Voltei até o quarto do Nick e perguntei quem é o cara que está deitado na minha cama, como se fosse dele. O Nick não sabe de nada. Então descemos até a sala para perguntar a minha mãe.
- Mãe! Quem é aquele homem que está deitado na minha cama? - Pergunto tentando controlar minha arrogância.
- É o Jeff, filho do Lucien.
- "O que?" - Eu e Nick perguntamos em sincronia.
- Ele veio para Chicago, tentar recomeçar a vida e conseguir um emprego, ele é fotógrafo. Ligou para o pai perguntando se podia abriga-lo, e é claro que não iríamos deixar o rapaz na rua!
- Ta! Mas é sério que precisava deixar ele dormir no meu quarto? Isso é uma tremenda invasão de privacidade! - Estou furiosa.
Nick se senta no sofá, vejo a confusão no olhar dele.
- Minha mãe se casa em três meses com um cara que eu nunca tinha visto antes, minha irmã decide morar em um quartinho de uma lanchonete e agora eu tenho um meio irmão. Quando vão começar a me contar sobre tudo que acontece aqui? Meu Deus! - Nick parece estar pensando alto.
- Como assim você vai morar naquele quarto imundo? - Minha mãe diz espantada. Sinto que as pessoas tem um certo preconceito com meu novo lar.
- É melhor do que ficar aqui suportando seu novo marido e a bagagem dele, esse tal filho. Ah! Coloque ele na posição de filho mais velho, vou subir e pegar minhas coisas. - Minha mãe ficou calada, só assentiu com a cabeça. Sei que ela está furiosa!
Quando me viro, dou de cara com o Jeff. Ele ouviu tudo! Lanço um olhar de desprezo e digo:
- Aproveite o meu quarto, novo irmão. - Ele sente o tom de deboche.
Não dou a ele um tempo de resposta, subo correndo e já tiro o celular do bolso, digito o número da Lavínia e escuto o Jeff falando lá embaixo.
- Essa garota é um furacão?
- Você não viu nada! - Respondeu Nick.
Me concentro na ligação e pergunto a Nina se ela pode me dar um carona, a lanchonete só fica a três quadras daqui, mas preciso levar minhas malas. Ela diz que sim e que vai se arrumar primeiro, sempre vaidosa! Eu já ia desligando a ligação quando o Nick entra no quarto e oferece ajuda, peço a ele para recolher todas as fotos espalhadas pela parede e teto. Só pego mais algumas peças de roupas e sapatos, mal desfiz as malas com as roupas que trouxe do Canadá. Lavínia chegou e animou o ambiente, ela parece um raio de sol! Terminamos de arrumar tudo, pego também minhas roupas de cama e toalhas.
Desci as escadas devagar com malas pesadas, Nina e Nick vem logo atrás descendo algumas bolsas. Nem percebi a hora passar, pois o Sr. Lucien já está em casa, conversando com o filho dele, sentados no sofá. Ignoro totalmente a presença dos dois, abro a porta e sigo até o carro. Depois de pegar tudo que preciso, percebi que esqueci meu celular em cima da minha cômoda, infelizmente preciso voltar e pegar.
Subo as escadas e vejo o Jeff levando as malas deles até o meu quarto, agora consigo reparar bem. Ele é alto, pele morena, tem olhos e cabelos pretos, é lindo! Ele repara que estou ali observando e imediatamente sigo até o quarto, pego meu celular e volto para o carro.
Chegamos na lanchonete e seguimos até o meu mais novo quartinho, está realmente imundo, parece que não limpam o banheiro desse quarto a séculos! Como nunca pensei em limpar isso antes? Decidimos que vamos limpar tudo antes de tirar qualquer coisa do carro.
- Aaaaah! - Lavínia gritou atrás de mim.
- O que foi, Nina? - Perguntei.
- Tem um rato aqui!
Meu irmão imediatamente sobe no pequeno sofá que agora posso chamar de meu, que medroso! Lavínia se junta a ele e nesse momento só consigo rir da cara de medo desses dois! Pego uma vassoura, mato o pequeno ratinho e me livro dele.
- A barra está limpa? - Lavínia pergunta, já suando frio.
- Sim, seus medrosos! Podem descer.
Nick foi até a cozinha da lanchonete e preparou misto quente para nós. Depois de todo o trabalho feito, posso até dizer que o quarto está aconchegante. A parte mais divertida foi a hora de colar as fotos na parede, recordei muitos momentos.
Me despeço de Nick e Lavínia na porta, verifico se tranquei as portas e janelas, tudo ok. Amanhã o funcionamento da lanchonete deve voltar ao normal, minha mãe estava reformando a entrada. Tomo um banho, quando finalmente deito, pego meu notebook e mando um email para o meu pai, conto exatamente tudo o que aconteceu e onde estou agora. Ele respondeu.
"Minha querida filha, tenha força e seja paciente com sua mãe, se ela acha que realmente é a hora de seguir em frente, fico feliz por ela. Sei que você pode ser bem difícil quando quer, e tenho certeza que puxou esse seu jeito da sua mãe, então tente compreender o quão difícil ela é. Saiba que você pode vir pra cá a hora que quiser, adoraria dividir essa casa enorme contigo, as vezes acho que é muito espaço só para mim. A maioria dos homens quando brigam com suas esposas, dormem no sofá. Quando eu e sua mãe brigávamos, eu dormia no quartinho da lanchonete, espero que se sinta bem aí, e que jamais se sinta só. Me imagine aí, quando a saudade apertar demais. Te amo para sempre, minha menina!
Me sinto bem, e muito amada depois de ler esse email do meu pai, ele sempre me faz bem. Adormeço com a expectativa de amanhã ser um dia melhor.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Quase Sem Querer
RomanceAos 18 anos, Crystal Blue não pensa em se comprometer com mais nada além do seu trabalho na lanchonete da sua mãe, seu irmão de 15 anos e sua faculdade. Lavínia Claire pensa loucamente na possibilidade de arrumar um namorado e viver o seu "felizes p...