Truque cruel

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Finalmente algo novo iria estrear no Starland. Já fazia sete meses desde que o "Brincando no Inferno" fora inaugurado. Aquela havia sido uma boa casa-fantasma, os atores atuavam bem e as maquiagens eram muito convincentes. O que estragou isso foi a onda de maníacos religiosos que protestavam por motivos ridículos. Eles tinham a capacidade de fazer qualquer um desistir de seu lugar na fila.

Thomas estava cansado de esperar por coisas novas. Visitar o parque era umas das melhores diversões que poderia ter, quem sabe a melhor. Em sua casa não havia muito o que fazer, senão limpá-la ou assistir a algum reality medíocre na TV. Mas no parque ele tinha companhia. Além das atrações, que geralmente o agradavam, ele podia passar mais tempo com o filho, que trabalhava limpando o lugar. Talvez, melhor que isso, era que lá havia muitas garotas na qual poderia ficar admirando o rebolado ao caminharem.

Bryan utilizara seu banco de horas para pedir folga. Patrick quase sustara quando o funcionário disse que não ira trabalhar naquele dia movimentado, mas assim como o pai, o garoto estava ansioso. Desde seus sete anos era fascinado por ilusionismo, quando Thomas o levara para assistir a apresentação de um mágico fajuto. Seus ingressos foram garantidos assim que foi feito o anuncio do novo show. Para Bryan era fácil, ele conhecia as pessoas certas para lhe arranjarem o que ele quisesse por um bom preço. Quando Thomas soube, sentiu-se feliz, pois já não precisaria ir ao parque ficar apenas visitando as mesmas coisas ou tomando tocos de Linda, mas entristeceu-se quando descobriu que a apresentação seria única. Não desanimou, e no dia do show, se aprontou rápido para ir cedo ao parque. Quanto antes chegassem, mais próximos do palco ficariam. Ele sabia que o filho iria gostar disso.

Agora estavam quase chegando ao Starland. Seu velho Mercedes os levava calmamente pelas ruas movimentadas. O caminho de sua casa até o píer era relativamente curto, mas o movimento de Los Angeles o impedia de ir mais rápido. Assim que se aproximaram do estacionamento ao lado dos cais, Thomas parou em um sinal vermelho e deixou Bryan descer. Assim que o semáforo acendeu sua luz verde, o homem continuou, fez o retorno e entrou na garagem. Não tinha problemas com vagas, o importante era parar. Saiu do veículo e foi até o parque.

O píer era grande, e dividido em dois. A maior parte era ocupada pelo Starland Amusement Pier, enquanto o outro lado funcionava normalmente para embarque e desembarque de pequenas balsas turísticas. Logo após entrar, Thomas seguiu sem erros até um lugar especial. Na barraca azul e verde, uma moça lia um grosso livro de capa marrom em cima do balcão. Sua pele escura e lisa brilhava com a luz do poste que se erguia em frente. Thomas não precisou ser visto para ser cumprimentado.

—Olá, senhor, como vai? – disse Linda enquanto erguia os olhos das páginas velhas.

—Oi. Estou ótimo. Creio que você também esteja.

A mulher riu. Ela era visivelmente mais nova que Thomas, mas ainda assim eles tinham certa amizade.

—O que está lendo hoje?

—Guerra e paz. É muito bom, você deveria ler.

—Não, obrigado. Prefiro outras coisas – prefiro você, pensou

Linda assentiu. Um casal chegou para jogar, então a garota fechou o livro e os atendeu. Depois do pagamento, ela entregou à dupla dez argolas metálicas, que foram usadas para acertar alguns pinos no fundo da barraca. Nada. Outro pagamento, outras dez argolas. Eles estavam demorando muito, e Thomas não poderia esperar mais ali. Teria que ir para a fila. Despediu-se precariamente de Linda e se encaminhou para a tenda montada no fundo do parque.

O local estava começando a encher. O entardecer era a hora em que mais pessoas frequentavam o píer. As luzes coloridas dos brinquedos agora eram mais visíveis. Um espectro de cores dançava por seu rosto. Thomas gostava daquilo, e o levava a lembrar da sua infância. Passou por um carrossel cheio de crianças.

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