De repente, mais lágrimas deslizavam pelo meu rosto do que gotas de chuva caiam lá fora. A escuridão parecia se fechar cada vez mais sobre mim, e eu já não aguentava ficar longe da luz.
Assim que Meena contara-me sobre... minha mãe, sobre como ela havia sido assassinada, eu dera um chilique. Comecei a gritar e a bater nas paredes estofadas, embora soubesse que ninguém (além de minha própria colega, que se desmanchava em culpa e pesar) jamais ouviria, devido a camada protetora nas paredes da sala.
Logo após tentar massacrar os Frequentadores imaginários nas paredes, caí no chão, exausta, e cobri o rosto com as mãos, chorando ao ponto de soluçar.
Eu tinha apenas 4 anos quando perdera minha mãe. Praticamente não lembrava de nada dela, somente de... do quanto sua voz era bonita e delicada, e da maneira como gostava de acariciar meus cabelos. Fora isso, só possuía uma lembrança completa com ela, que me era mais preciosa do que ouro:
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O dia nublado e frio, para uma criança tão pequena, não poderia ser mais assustador. Assim que a sombra do cabideiro, que formava-se na parede, vacilou, por causa das cortinas, soltei um gritinho, cobrindo-me até o queixo com o edredom.
- Está tudo bem, minha pequena... - falou uma voz doce e serena, que vinha de uma mulher ao lado da cama.
Ela possuía longos e encaracolados cabelos castanhos, que, por algum motivo, começara a colorir desde muito cedo. Sua pele branca e macia feito o papel mais fino, não possuía uma ruga sequer, pois ela era jovem, apesar de já estar casada e ter tido uma filha.
- Mamãe... - sussurrei, temerosa.
- Está tudo bem. - apontou para a sombra na parede, que já voltara ao normal - Viu? Ela jamais vai alcançar você.
Sorri, mesmo que ela não pudesse ver, por estar apenas com os olhos de fora.
- Quem quer passear? - gritou papai, abrindo a porta do quarto de repente.
- Eu!!! - mamãe e eu gritamos em coro.
Ela se aproximou de papai e, sorrindo, deu um beijo em sua bochecha. Eu, mesmo jovem, podia ver o quanto eles eram felizes, mesmo sem ter conhecimento sobre o que era paixão.
Então, barulhos de carro ecoaram lá fora, sobre o cascalho do pátio de entrada. Os sorrisos de meus pais morreram.
- Parece que hoje não será possível, querida... - papai falou, acariciando minha cabeça - mas quem sabe...
- Que tal um piquenique amanhã? - perguntou mamãe, tentando repor as energias no cômodo.
- Sim! - respondi, feliz novamente.
- Mas só se você prometer ficar bem quietinha... - sussurrou, cobrindo-me por completo.
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Pensar que uma pessoa tão gentil e amorosa, além de carinhosa, havia morrido provavelmente da maneira mais horrível imaginada... era, absolutamente, desolador.
Minha mãe dissera que as sombras jamais me alcançariam. Então, por que eu me encontrava no meio delas?
Cobri minha própria boca, afundada na mais pura tristeza.
- Havia... - de repente, Meena sussurrou, surpreendendo-me - Havia uma família bem pequena, no sul de Londres, que não se importava em nada com bens materiais. Era visto que... - sua voz falhou - a mulher da família, tinha uma herança rica, a partir da antiga empresa de seu pai. Mas... isso não era o principal.
Respirei fundo, engolindo um soluço. Olhei para Meena, mesmo com a visão borrada pelas lágrimas.
- A família era muito amorosa. Eles tinham... duas filhas. - precisou engolir um pouco do próprio choro, para conseguir continuar - o pai, era um homem calmo e gentil, que, apesar de ser o tempo todo observado por mulheres da vizinhança, sempre se mantinha fiel à esposa, que dizia ser sua salvadora. Ele... era um tanto pálido, como todo mundo observava, e ter cabelos de um loiro tão claro não era comum. Todos pediam sobre sua saúde, se não estava doente. E ele não estava, era essa a resposta... até que aconteceu.
Ela abraçou os joelhos com força, puxando-os para o peito. Percebi o quão difícil era para ela comentar sobre o assunto, o que me fez sentar encostada no balcão, observando-a.
- O homem... começou a ficar doente, frágil, e ninguém sabia a origem da substância que transbordava em seu sangue. E o mais incrível, era que a dose era tão alta, que o organismo não havia conseguido diluir, e um milagre era a maneira como ele ainda estava vivo. - prosseguiu - A filha mais velha... percebia a agonia dos pais. Ela tinha apenas... 12 anos, mas precisava agir como adulta... para cuidar da irmã de 9, que não podia enxergar. Um dia... quando seu pai estava mal e de cama, na companhia de sua mãe, bateram à porta... - sua voz falhou, e ela precisou se esforçar para conseguir falar - A menina... abriu... e eram pessoas más. Pegaram-na, causando alvoroço na casa. A mulher berrou, a pequena chorou, mas não havia nada que pudessem fazer. Quando foram capturar a pequena, perceberam: ela era cega, e não servia para seus propósitos. "Deixem-na em paz!", a mãe gritava, querendo recuperar sua filha. Mas tudo o que aquelas pessoas disseram foi: "Lembra-se do contrato? Está na hora de cumpri-lo. Agradeça seu papai por obrigá-la a encontrar um marido na Sociedade". E então... arrastaram a menina dali, sem se importar em feri-la.
Meus olhos estavam arregalados, e minha mão cobria a boca. Lágrimas de pena e chateação deslizavam por meu rosto. Ah, Meena...
- Alguns dias depois... a menina soube que o pai havia morrido de desgosto, parando de comer e entregando-se à doença... - apertou com força os próprios pulsos, arranhando a cicatriz da Sociedade que possuía na palma da mão - e ela soube que... se desobedecesse... sua irmã e sua mãe teriam o mesmo destino...
Meu queixo estava caído, de choque.
- Meena... - sussurrei, querendo dizer que ela não precisava continuar.
- Alessa... - engoliu em seco, soluçando - eu sinto muito por... ser tão covarde. Mas eu tenho medo de... perdê-las...
Um novo trovão ecoou do lado de fora, e percebemos que o escuro era quase total. Praticamente correndo, cruzei a sala e abracei-a.
Era por isso que ela era tão fria. Por medo. Medo, como todos nós naquele inferno.
- Não se desculpe... - murmurei, desmanchando em lágrimas - não é sua culpa... não é nossa culpa...
E então, sozinhas em uma sala fria, foi que choramos até não conseguir mais. Choramos por todos aqueles que havíamos perdido, e que jamais esqueceríamos.
Porque o coração nunca deixa de lado o amor, mesmo estando coberto pelas sombras.
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☆Oi gente. Ai, que tristeza 😔. Me perdoem por isso. Prometo que virão coisas melhores.
Desculpem por não ter posto banners em todos os Caps. É que é meio complicado pegar todas essas imagens. Já pus todos eles, podem dar uma olhada. :)
Bjsss, não desistam de mim!!!
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...